Jornal francês Charlie Hebdo é ameaçado novamente; imprensa do país se mobiliza
Na edição desta quarta-feira (23) publicação traz carta assinada por mais de 80 veículos de imprensa do país com o título 'Juntos, defendamos a liberdade'


Cinco anos após os ataques que chocaram o mundo, o jornal satírico francês Charlie Hebdo foi alvo de novas ameaças por grupos terroristas após republicar charges polêmicas sobre o islamismo. As imagens desencadearam uma série de agressões na região de Paris em janeiro de 2015, deixando 17 mortos.
Na edição publicada nesta quarta-feira (23), a capa do jornal traz uma carta assinada por mais de 80 veículos de imprensa do país com o título “Juntos, defendamos a liberdade”. A charge estampada na primeira página apresenta uma figura com um megafone afugentando um homem armado.
“Nunca aconteceu de as mídias, que geralmente defendem pontos de vista divergentes, e onde o manifesto não é a forma usual de se expressar, decidirem juntas se dirigir a seus públicos e concidadãos de uma maneira tão solene”, diz o primeiro parágrafo da carta, que tem como tema a liberdade de expressão.
O Charlie Hebdo decidiu republicar, na capa da edição de 2 de setembro, as caricaturas consideradas como estopim para os ataques cometidos por extremistas islâmicos cinco anos atrás. A data também marcava a véspera da abertura do processo contra 14 pessoas suspeitas de envolvimento nos atentados.
Assista e leia também:
Charlie Hebdo republica caricaturas polêmicas que motivaram atentados de 2015
Facebook relata aumento em posts removidos por terrorismo e discurso de ódio
Segundo a rede estatal France 24, o grupo jihadista Al-Qaeda, um dos que assumiu a autoria dos atentados ocorridos em 2015, estaria por trás das novas ameaças enviadas à redação da publicação.
O editor-chefe do semanário, Laurent “Riss” Sourisseau, que foi baleado durante o ataque, afirmou que as ameaças se agravaram após a republicação das imagens e descreveu o sentimento como “revolta”.
“A palavra “liberdade” tem um poder, uma força irresistível e sem igual, e nós temos consciência de que não a pronunciamos regularmente”, escreveu.
Julgamento pelos ataques
A Justiça francesa começou em 2 de setembro o julgamento de 14 suspeitos de financiar e participar dos ataques de janeiro de 2015. Além da Al-Qaeda, o Estado Islâmico também reivindicou a participação nos eventos. Dos indiciados, três estão sendo julgados em ausência e podem até mesmo estar mortos.
Na terça-feira (22), o Tribunal de Paris ouviu uma das testemunhas do caso. Zarie Sibony trabalhava como caixa em um supermercado judeu quando foi feita refém pelo terrorista Amedy Coulibaly.

Em uma entrevista a um canal de TV da França, Sibony, que tinha 22 anos na época, descreveu a cena como “as piores quatro horas da sua vida”.
Ataques terroristas de 2015
No dia 7 de janeiro, os irmãos Chérif e Saïd Kouachi invadiram a redação do Charlie Hebdo, no centro de Paris, e mataram 12 pessoas. Imagens feitas por cinegrafistas amadores na época rodaram o mundo. Em uma delas, um dos irmãos agressores grita que vingou o profeta Maomé, após deixar o prédio.
No dia seguinte ao ataque à redação do jornal, no centro de Paris, Amedy Coulibaly, um terrorista próximo dos irmãos Kouachi, matou uma policial na cidade de Montrouge, região metropolitana da capital.
Na mesma semana, Coulibaly invadiu um mercado judeu e fez 20 reféns. A ação, que durou quatro horas, culminou na morte de cinco pessoas, dentre elas o terrorista. Outras nove ficaram feridas, sendo três policiais.
Após o atentado, Chérif e Saïd Kouachi se esconderam em uma gráfica na cidade de Dammartin-en-Goële, a 30 km da sede do jornal, de onde tentariam partir para Bruxelas, na Bélgica.
A identidade dos autores do crime foi descoberta após perícia no carro em que eles usaram durante a fuga encontrar um documento de identidade perdido por Saïd. Os dois foram mortos enquanto tentavam escapar do cerco realizado pela polícia.
Os ataques causaram uma onda de reação em todo o planeta, com pessoas dizendo serem favoráveis à liberdade de expressão e de imprensa utilizando a frase “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie, em tradução livre).
Na França, uma marcha organizada em Paris dois dias depois, e liderada pelo então presidente François Hollande, levou mais de 1,5 milhão de pessoas às ruas. Em todo o país, estima-se que 4 milhões de pessoas protestaram contra a violência nos dias seguintes.
(*sob supervisão de Julyanne Jucá)