Israel ordena desocupação na cidade de Gaza, criando nova onda de deslocamentos
Famílias que vivem nas áreas-alvo começaram a fugir das casas após o anoitecer de sábado (23) e nas primeiras horas deste domingo (24)
O exército israelense emitiu novas ordens de desocupação para moradores das áreas de um subúrbio oriental na cidade de Gaza, desencadeando uma nova onda de deslocamentos neste domingo (24), enquanto um diretor de hospital de Gaza foi ferido em um ataque de drone israelense, disseram médicos palestinos.
As novas ordens para o subúrbio de Shejaia, postadas pelo porta-voz do exército israelense no X, na noite de sábado (23), são decorrentes da ação de militantes palestinos disparando foguetes do distrito densamente povoado no norte da Faixa de Gaza.
“Para sua segurança, vocês devem se deslocar imediatamente para o sul“, declarou o posto militar.
A onda de disparos de foguetes no sábado foi reivindicada pelo braço armado do Hamas, que disse ter como alvo uma base do exército israelense do outro lado da fronteira.
Imagens que circularam nas redes sociais, que a Reuters não pôde verificar imediatamente, mostraram moradores deixando Shejaia em carroças puxadas por burros e riquixás, incluindo crianças carregando mochilas enquanto caminham.
Famílias que vivem nas áreas-alvo começaram a fugir das casas após o anoitecer no sábado (23) e nas primeiras horas deste domingo (24), relataram moradores e a mídia palestina – esta é a mais recente em várias ondas de deslocamento desde que a guerra começou há 13 meses.
No centro de Gaza, autoridades de saúde afirmaram que pelo menos 10 palestinos foram mortos em ataques aéreos israelenses nos campos urbanos de Al-Maghazi e Al-Bureij, desde o sábado à noite.
Quase toda a população de Gaza foi deslocada em meio à nova ofensiva israelense
Alagamentos
Somando-se às misérias dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza, a maioria dos quais foi repetidamente deslocada, a forte chuva de inverno inundou centenas de tendas no território, estragando alimentos e varrendo plásticos e lonas que os protegiam contra o mau tempo.
“Corremos no meio da noite, a água da chuva inundou a tenda, a comida acabou, as crianças gritaram e tenho medo que fiquem doentes”, relatou Rami, 37, um homem da cidade de Gaza deslocado para um antigo estádio de futebol, à Reuters por meio de um aplicativo de mensagens.
O Serviço de Emergência Civil Palestino informou que milhares de deslocados foram afetados pelas enchentes sazonais e exigiram novas tendas e doações ajuda para protegê-los.
Diretor de hospital ferido
No norte de Gaza, onde as forças israelenses têm operado contra militantes do Hamas em reagrupamento desde o início do mês passado, autoridades de saúde disseram que um drone israelense lançou bombas no Hospital Kamal Adwan, ferindo o diretor Hussam Abu Safiya.
“Isso não nos impedirá de concluir nossa missão humanitária e continuaremos a fazer esse trabalho a qualquer custo”, disse Abu Safiya, em um vídeo divulgada pelo Ministério da Saúde neste domingo (24).
“Estamos sendo alvos diariamente. Eles me atacaram há um tempo, mas isso não vai nos deter”, expressou enquanto estava deitado em uma cama de hospital.
O que diz Israel
As forças israelenses afirmam que militantes armados usam prédios civis, incluindo blocos habitacionais, hospitais e escolas para cobertura operacional.
O Hamas nega, acusando Israel de atacar áreas povoadas indiscriminadamente.
Kamal Adwan é um dos três hospitais no norte de Gaza que mal estão operacionais, já que o Ministério da Saúde falou que as forças israelenses detiveram e expulsaram equipes médicas e impediram que suprimentos médicos, alimentos e combustível de emergência chegassem até eles.
Nas últimas semanas, Israel alegou ter facilitado a entrega de suprimentos médicos, de combustível e a transferência de pacientes dos hospitais do norte de Gaza, em colaboração com agências internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Moradores de três cidades em conflito na região norte do conflito – Jabalia, Beit Lahiya e Beit Hanoun – disseram que as forças israelenses explodiram centenas de casas desde a retomada das operações, em uma área que Israel disse meses atrás ter sido limpa de militantes.
Palestinos afirmam que Israel parece determinado a despovoar a área permanentemente para criar uma zona de amortecimento ao longo da borda norte de Gaza, uma acusação que os israelenses negam.
Números da guerra
A campanha de Israel em Gaza já matou mais de 44 mil pessoas e desalojou quase toda a população pelo menos uma vez, segundo autoridades palestinas, enquanto reduzia a escombros grandes faixas do estreito território costeiro.
A guerra irrompeu em resposta a um ataque transfronteiriço por militantes liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, no qual homens armados mataram cerca de 1.200 pessoas e levaram mais de 250 reféns de volta para Gaza, conforme contagens de Israel.