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    Israel conduz 2ª noite de ataques terrestres contra Gaza enquanto apelos por cessar-fogo dividem ONU

    "Ataque direcionado" israelense levou veículos blindados até a Faixa para destruir infraestrutura do Hamas, segundo as FDI; Assembleia-Geral das Nações Unidas analisará texto sobre o conflito

    Da CNN

    Os militares de Israel conduziram outro “ataque direcionado” dentro da Faixa de Gaza pela segunda noite consecutiva, segundo as Forças de Defesa de Israel (FDI) em comunicado nesta sexta-feira (27).

    Após invadirem o norte da Faixa na quinta-feira (26), as forças israelenses prometeram continuar os ataques terrestres nos próximos dias, enquanto a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) se reunia para discutir uma proposta de resolução para um cessar-fogo humanitário.

    O ataque, que incluiu tanques e veículos blindados movendo-se em uma estrada perto de terras agrícolas, além de ataques de aeronaves e artilharia no bairro de Shaja’iyah, teve como alvo a infraestrutura do Hamas, incluindo “locais de lançamento de mísseis antitanque, centros de comando e controle militar, bem como terroristas do Hamas”, disse as FDI.

    Veja também — Análise: Os próximos passos da estratégia militar israelense

    Um vídeo publicado na quinta-feira mostrou tanques e veículos blindados, incluindo uma escavadeira, movendo-se em uma estrada perto de uma cerca no norte de Faixa de Gaza. Os tanques dispararam, e destruição pôde ser vista nas proximidades.

    Em declarações à CNN, o porta-voz das FDI, Peter Lerner, disse que o ataque foi “uma operação clara e abrangente, destinada a criar melhores condições para as operações terrestres se e quando isso ocorrer”.

    Ele também afirmou que as tropas “enfrentaram o inimigo, matando terroristas que planejavam conduzir ataques contra nós com mísseis guiados antitanque”.

    Os militares de Israel continuarão os ataques contra Faixa de Gaza nos próximos dias, pontuou outro porta-voz das IDF, contra-almirante Daniel Hagari, em uma entrevista coletiva televisionada na quinta-feira.

    As incursões terrestres têm como objetivo matar integrantes do Hamas, neutralizar dispositivos explosivos e postos de reconhecimento, abrindo caminho para uma invasão total, destacou Hagari.

    A ofensiva ocorreu em um momento em que a crise humanitária se aprofunda na Faixa de Gaza, acelerada por ataques aéreos diários e pelo bloqueio israelense ao combustível.

    Os serviços de saúde foram prejudicados pela falta de energia, e centenas de milhares de civis foram forçados a fugir das suas casas durante os bombardeios.

    Os ataques israelenses mataram mais de 6.850 pessoas em Gaza, incluindo milhares de crianças, desde 7 de outubro, segundo dados divulgados na quinta-feira (26) pelo Ministério da Saúde palestino em Ramallah, na Cijsjordânia, provenientes de fontes no enclave controlado pelo Hamas.

    Assim, aumenta a pressão sobre a comunidade internacional para negociar que Israel permita a entrada de mais ajuda em Faixa de Gaza. A ONU e vários países da região apelaram por um cessar-fogo imediato, enquanto outros defendem uma “pausa humanitária” nos combates.

    Mas o mundo não conseguiu, até agora, unir-se em torno da crise, quase três semanas desde o início da guerra, desencadeada pelos ataques do Hamas em 7 de outubro, que mataram mais de 1.400 pessoas em Israel e fizeram mais de 200 reféns.

    Diplomatas entram em embate na ONU

    Riyad Mansour, chefe da Missão de Observação Permanente Palestina nas Nações Unidas, fez uma pergunta contundente aos diplomatas da ONU na quinta-feira ao relatar histórias de palestinos mortos na Faixa.

    “Quase todos os mortos são civis. Esta é a guerra que alguns de vocês estão defendendo?”, indagou.

    Os Estados-membros da ONU agora analisarão um projeto de resolução apresentado pela Jordânia em nome dos Estados árabes, após repetidos fracassos em encontrar consenso por parte do Conselho de Segurança.

    A resolução apela à “cessação das hostilidades”, à libertação dos reféns e à rejeição de “quaisquer tentativas de transferência forçada da população civil palestina”. Mas embora as resoluções da Assembleia-Geral tenham peso político, não são vinculativas, ou seja, não têm cumprimento obrigatório.

    O Ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, disse aos diplomatas reunidos no Salão da Assembleia que “a punição coletiva não é legítima defesa”.

    Ele também recebeu raros aplausos dentro da Câmara ao dizer: “Nós nos preocupamos com toda a vida, com todos os civis: muçulmanos, cristãos, palestinos, judeus, israelenses – toda a vida”.

    Tanques israelenses perto da fronteira de Gaza / 13/10/2023 REUTERS/Violeta Santos Moura

    Já Gilad Erdan, embaixador israelense na ONU, fez duras críticas à resolução que está sendo debatida pela Assembleia, descrevendo os pedidos de cessar-fogo como “uma tentativa de amarrar as mãos de Israel, nos impedindo de eliminar uma enorme ameaça aos nossos cidadãos”.

    Os Estados Unidos também rejeitaram propostas de cessar-fogo, apelando, em vez disso, a “pausas humanitárias” para permitir a entrada de ajuda em Gaza. Os EUA também enfatizaram o seu total apoio ao que chamam de direito “imperativo” de Israel de se defender.

    A União Europeia também apelou na quinta-feira a “pausas” humanitárias em Gaza após uma reunião em Bruxelas, mas não chegou a pedir um cessar-fogo.

    “Fogo do inferno no Hamas”

    Israel prometeu acabar com o Hamas, o grupo radical islâmico que controla a Faixa de Gaza, e disse repetidamente que o atual cerco ao enclave será seguido por uma operação terrestre.

    O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou na quarta-feira (25) que a decisão sobre quando essa ação será tomada será decidida pelo Gabinete de Guerra de Israel.

    “Estamos lançando fogo do inferno sobre o Hamas”, destacou Netanyahu em discurso televisionado, ao mesmo tempo que ressaltava que o país “já eliminou milhares de terroristas – e isto é apenas o começo”.

    O primeiro-ministro também reconheceu pela primeira vez que “terá de dar respostas” às falhas de inteligência que permitiram o pior ataque terrorista da história de Israel, ponderando que será “examinado completamente” após a guerra.

    A Agência de Segurança Interna de Israel, Shin Bet, disse à CNN que acredita ter matado “dezenas” de integrantes importantes da estrutura militar do Hamas desde que iniciou ataques aéreos contra Gaza, há mais de duas semanas e meia.

    A CNN não pôde verificar a alegação de Israel, e o Hamas não comenta quaisquer falas sobre o número de combatentes mortos em ataques israelenses.

    As forças israelenses disseram que mataram o vice-chefe da Diretoria de Inteligência do Hamas, Shadi Barud,um dos integrantes do grupo armado que eles afirmam ser parcialmente responsável pelo planejamento dos ataques de 7 de outubro, em uma declaração conjunta na quinta-feira das FDI e da Shin Bet.

    Os militares israelenses pontuaram mais tarde que relatórios de inteligência sugerem que ataques aéreos mataram um comandante de operações com foguetes do Hamas, Hassan Al-Abdullah, que o exército diz comandar unidades de foguetes na área de Khan Younis.

    Autoridades israelenses divulgaram imagens que afirmam mostrar os ataques que mataram Barud, em que é possível visualizar ao menos dois edifícios danificados em Gaza prestes a desabar. O Hamas não comentou a afirmação.

    Ataques deixam bairros arrasados

    O ataque aéreo de Israel ao que os militares classificaram “infraestrutura terrorista” do Hamas devastou então o enclave densamente povoado de 362 quilômetros quadrados, que tinha sido descrito por grupos de direitos humanos como uma “prisão ao ar livre” muito antes do início da guerra atual.

    Imagens de satélite divulgadas pela empresa Maxar, tiradas em 21 de outubro, mostram destruição significativa em locais no norte da Faixa de Gaza, com bairros inteiros arrasados no leste de Beit Hanoun e devastação semelhante perto do campo de refugiados de Al Shati, de Atatra e de Izbat Beit Hanoun.

    As FDI alertaram aos civis para deixarem a parte norte da região, onde o bombardeio foi especialmente severo, mas continuou atacando áreas no sul. Um produtor da CNN em Gaza afirmou que “não há área segura”.

    Em coletiva de imprensa na quinta-feira, Ashraf Al-Qidra o porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, disse que 12 hospitais ficaram inoperantes desde o início da ofensiva aérea de Israel, e que 101 profissionais de saúde foram mortos.

    Veja também — Imagens de satélite mostram destruição em Gaza

    Ele acusou as forças israelenses de causarem deliberadamente um colapso total do sistema de saúde ao obstruir a entrada de combustível e suprimentos médicos essenciais em Gaza.

    Israel argumenta que não permite combustível porque o Hamas rouba o recurso para fins militares.

    Na quarta-feira (25), a rede de notícias Al Jazeera informou que o chefe do seu escritório em Gaza, Wael Al-Dahdouh, perdeu a esposa, o filho, a filha e o neto no que afirmaram ter sido um ataque aéreo israelense.

    A explosão atingiu uma casa no campo de refugiados de Nuseirat, no centro da Faixa, onde a família se abrigava após ser deslocada internamente, segundo a Al Jazeera.

    No total, 12 membros da família Al-Dahdouh foram mortos na explosão, incluindo nove crianças, informou um comunicado da família na quinta-feira.

    As FDI destacaram à CNN que realizaram um ataque aéreo na área onde os familiares de Al-Dahdouh foram mortos, afirmando que tinha como “alvo a infraestrutura terrorista do Hamas na área”.

    “Os ataques a alvos militares estão sujeitos às disposições relevantes do direito internacional, incluindo a tomada de precauções viáveis para mitigar as vítimas civis”, acrescentou.

    De acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), 24 jornalistas morreram desde o início do conflito até quarta-feira. Vinte dos mortos são palestinos, três são israelenses e um é jornalista libanês, indicou o CPJ.

    Hospitais superlotados à beira do colapso ressaltam que estão sobrecarregados com o número de feridos que chegam todos os dias.

    Além disso, médicos comentaram repetidamente à CNN que não têm suprimentos ou eletricidade para manter funções críticas para cuidar adequadamente dos pacientes que dependem de suprimentos de oxigênio para sobreviver.

    Vídeos feitos por jornalistas que colaboram com a CNN mostraram vítimas em sacos para cadáveres após ataques aéreos e pessoas gravemente feridas, incluindo crianças, em hospitais superlotados.

    Um total de 1,4 milhão de pessoas foram deslocadas na Faixa de Gaza desde 7 de outubro, com quase 629 mil pessoas vivendo em abrigos da ONU, disse o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).

    A população da região é de mais de 2 milhões, sendo que metade é de crianças.

    A Agência de Ajuda e Obras da ONU (UNRWA) em Gaza advertiu na quarta-feira que teria que interromper as operações de ajuda em um dia se combustível não fosse entregue, ponderando que isso seria o fim de uma “tábua de salvação” para os civis.

    O diretor da UNRWA para Gaza, Tom White, disse à CNN que os trabalhadores humanitários teriam que decidir qual ajuda vital poderiam ou não fornecer aos civis.

    “Fornecemos combustível para usinas de dessalinização de água potável? Podemos fornecer combustível aos hospitais? Poderemos fornecer o combustível essencial que atualmente produz o pão que alimenta as pessoas em Gaza?”, questionou.

    Ao menos 38 trabalhadores das Nações Unidas também foram mortos desde o início do conflito, de acordo com o OCHA.

    Conversas de mediação

    Enquanto isso, em Moscou, na Rússia, representantes do Hamas mantiveram conversas com um alto funcionário do Ministério das Relações Exteriores russo na quinta-feira, de acordo com a mídia estatal do país Tass e um comunicado do grupo armado.

    A TASS ressaltou que as discussões focaram na libertação de reféns detidos pelo Hamas e na evacuação de cidadãos russos de Gaza.

    A delegação do grupo radical islâmico elogiou a posição do presidente russo, Vladimir Putin, e os esforços da diplomacia russa, segundo o comunicado.

    Mousa Abu Marzouk, vice-chefe do gabinete político do Hamas, e Basem Naim, outro importante líder do Hamas baseado em Gaza, fizeram parte da delegação que se reuniu com o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia e representante presidencial especial para o Oriente Médio e África, Mikhail Bogdanov, ainda de acordo com a nota.

    Em resposta aos relatos da reunião Israel destacou que “condena o convite de altos funcionários do Hamas para Moscou, que é um ato de apoio ao terrorismo e legitima as atrocidades dos terroristas do Hamas”.

    A declaração foi feita pelo Ministério das Relações Exteriores israelense em comunicado, apelando à Rússia para expulsar a delegação do Hamas “imediatamente”.

    O Catar, que está ajudando na mediação com o Egito, os Estados Unidos, Israel e o Hamas, espera um avanço em breve nas negociações para libertar os reféns detidos pelo grupo radical, conforme comentaram o primeiro-ministro e o ministro das Relações Exteriores na quarta-feira.

    A assessoria de imprensa do governo de Israel afirmou que 135 reféns, mais da metade das pessoas detidas pelo Hamas, possuem passaportes estrangeiros de 25 países diferentes.

    Eles incluem 54 cidadãos tailandeses, 15 argentinos e 12 cidadãos da Alemanha e dos EUA.

    Quatro reféns — dois americanos e dois israelenses – foram libertados até agora. As negociações para garantir a libertação dos demais estão em andamento, pontuou o ministro das Relações Exteriores do Catar, Sheikh Mohammed bin Abdulrahman Al Thani.

    O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, destacou na quarta-feira que disse a Netanyahu que, se for possível garantir a libertação de reféns na Faixa Gaza antes de uma invasão terrestre israelense, ele deveria fazê-lo.

    Mas Biden afirmou categoricamente “não” quando lhe perguntaram se tinha procurado garantias do primeiro-ministro israelense de que adiaria uma ofensiva por terra enquanto os reféns permanecessem sob custódia.

    (Com informações de Hadas Gold, Helen Regan, Tara John, Rob Picheta, Paul P. Murphy e Kareem El Damanhoury, da CNN. Amir Tal, Caroline Faraj, Kevin Flower, Hamdi Alkhshali, Richard Roth, Hande Atay Alam, Tamar Michaelis, Kevin Liptak, Jennifer Hansler, Adi Koplewitz, Katharine Krebs, Lauren Kent e Jorge Engels, da CNN, contribuíram para esta reportagem)

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