Iranianos escolhem juiz linha-dura como novo presidente; saiba quem é Raisi
Eleito, clérigo xiita de 60 anos está sujeito a sanções dos Estados Unidos por supostos abusos dos direitos humanos
O juiz ultraconservador Ebrahim Raisi venceu as eleições presidenciais do Irã neste sábado (19). Mesmo antes da apuração ser completada, Raisi já havia sido parabenizado pelo então presidente iraniano, Hassan Rouhani, por sua vitória. Mais cedo, também neste sábado, o ministro das Relações Exteriores do país, Mohammad Javad Zarif, já havia dado a vitória do juiz como certa.
Em vídeo, Rouhani parabenizou Raisi por sua vitória e afirmou que “não tem dúvidas de que as pessoas irão apoiar seu governo legítimo”. “Eu parabenizo meu querido irmão, o senhor Ebrahim Raisi. Ele tem uma responsabilidade muito pesada”, disse.
Raisi, clérigo xiita de 60 anos, está sujeito às sanções dos Estados Unidos por supostos abusos dos direitos humanos. O presidente eleito é um crítico duro do Ocidente e porta-bandeira dos defensores da segurança de seu país.
Para analistas, essa foi a eleição menos competitiva desde o estabelecimento da República Islâmica em 1979. Isso porque o juiz era o favorito da corrida por conta do apoio do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, por autoridades clericais do país terem barrado a candidatura de rivais de Raisi.
A votação teve início na sexta-feira (18) e mais de 28 milhões de iranianos, dos 59 milhões de eleitores possíveis, foram às urnas.
Quem é Ebrahim Raisi
Raisi desempenhou um papel de décadas em uma repressão sangrenta aos dissidentes iranianos. O Centro para os Direitos Humanos no Irã (CHRI) o acusou de crimes contra a humanidade por fazer parte de um “comitê da morte” de quatro homens que supervisionou a execução de até 5.000 prisioneiros políticos em 1988.
Raisi nunca fez comentários sobre essas alegações, mas é amplamente aceito que ele raramente deixa o Irã por medo de retaliação ou da justiça internacional por essas execuções.
Os dois anos como presidente da Suprema Corte do Irã foram marcados pela intensificação da repressão aos dissidentes e abusos aos direitos humanos, de acordo com a CHRI.
Entre as muitas manobras radicais de seu mandato está a primeira execução em décadas de um homem por consumo de álcool.
No final do ano passado, um jovem lutador foi enforcado no que grupos de direitos humanos descreveram como uma “caricatura de justiça”. Ele foi morto após suspeita de estar ligado a protestos antigovernamentais de 2018.
“O Irã está se tornando um estado ainda mais repressivo e com alguém que tem sangue nas mãos como Ebrahim Raisi [como presidente], você pode ver as coisas indo em uma direção mais sombria do que vimos na história recente”, disse Holly Dagres, perito e membro sênior não residente do Atlantic Council.
“O Irã está caminhando em uma direção de isolamento semelhante à da Coreia do Norte”, acrescentou. “O Irã tem apenas dois amigos na comunidade internacional [Rússia e China].”
Momento crítico
A eleição aconteceu em um momento crítico. O Irã e seis potências estão negociando para reestabelecer o acordo nuclear de 2015.
O então presidente dos EUA, Donald Trump, deixou o acordo em 2018 e voltou a impor sanções rígidas que reduziram a renda iraniana vinda dos combustíveis.
Raisi não fez propostas detalhadas para a política ou a economia durante a campanha dele, mas apoiou o reestabelecimento do acordo nuclear, um desenvolvimento que amenizaria as sanções norte-americanas que prejudicaram a economia.
É Khamenei, e não o presidente, que tem a palavra final em assuntos de Estado como as políticas nuclear e internacional.
*Com informações da Reuters