Investimento financeiro é destaque da COP26 nesta quarta-feira (3)
Investimento financeiro global é necessário para o cumprimento dos compromissos pela redução das emissões de poluentes e desenvolvimento economias sustentáveis
Nesta quarta-feira (3), a cúpula da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), realizada em Glasgow, na Escócia, discute o investimento financeiro global necessário para o cumprimento dos compromissos pela redução das emissões de poluentes e para o desenvolvimento de estratégias sustentáveis para as economias.
A programação inclui atividades que vão esclarecer como o financiamento climático tem sido mobilizado para os países que mais precisam. No domingo (31), os países do G20 reafirmaram o compromisso com o financiamento do clima, que inclui o fornecimento de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 568 bilhões) por ano aos países em desenvolvimento até 2025.
Ao longo do dia, os líderes globais discutem como o sistema financeiro mundial ficará alinhado com o Acordo de Paris. O chanceler do Reino Unido, Rishi Sunak, líder ministerial da COP26 para finanças, realiza um balanço sobre os avanços e entraves na área desde o acordo firmado em 2015.
Em um papel central no alinhamento de fluxos financeiros com o Acordo de Paris, ministros das finanças, governadores de bancos centrais e instituições financeiras discutem como tornar o sistema financeiro mais verde. No encontro, serão abordadas as melhores práticas para incorporar os riscos e oportunidades relacionados ao clima em decisões de política financeira e econômica.
O evento discute, ainda, a mobilização atual em grande escala do financiamento privado do clima, incluindo a participação do setor privado no apoio à transição climática em mercados emergentes e economias em desenvolvimento.
Nesta quarta-feira, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, integra um painel sobre o uso do etanol. Já o Ministério do Meio Ambiente discute oportunidades para a pecuária brasileira na agenda da redução da emissão do dióxido de carbono.
O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, viaja somente no sábado (6) para Glasgow. De quarta (3) até sexta-feira (5), Leite participará — junto com outras autoridades — dos painéis temáticos da COP26 na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília
Meta de financiamento climático não foi alcançada, diz estudo
Uma análise a pedido da presidência da COP26 mostra que a meta de financiamento de US$ 100 bilhões por ano não foi alcançada em 2020 e provavelmente também ficará aquém em 2021 e 2022.
O presidente da COP26, Alok Sharma, pediu a Jonathan Wilkinson, ministro do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Canadá, e a Jochen Flasbarth, secretário de Estado da Alemanha no Ministério do Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear, um plano para que os países desenvolvidos cumprissem de fato suas promessas de financiar US$ 100 bilhões anuais.
Para que os países ricos contribuam, o plano sugerido pelos ministros canadense e alemão estabelece uma trajetória para o financiamento do clima de 2021 a 2025, levando em consideração as novas promessas de financiamento de nações e bancos multilaterais de desenvolvimento. O financiamento climático privado também teve um desempenho inferior ao esperado.
Com base nas consultas realizadas pelo ministro Wilkinson e o secretário de Estado Flasbarth, promessas adicionais de países desenvolvidos são esperadas este ano.
O Banco Mundial também anunciou recentemente que se compromete em aumentar a meta de financiamento do clima para 35% nos próximos cinco anos. De acordo com a instituição, 760 milhões de pessoas — muitas delas vivendo nos países mais pobres e responsáveis por menos de um décimo das emissões globais de gases do efeito estufa — continuam sem acesso à energia.
“Esses países precisam crescer e se desenvolver mais rapidamente, de forma resiliente e com baixo teor de carbono. Eles também precisam de grandes investimentos em adaptação e gestão de riscos, pois tendem a ser os mais afetados por eventos climáticos extremos e desastres naturais”, afirmou em nota.
O Banco Mundial também alerta para o fato de que as mudanças climáticas podem levar mais de 130 milhões de pessoas para a pobreza até 2030 e fazer com que mais de 200 milhões migrem até 2050.
Compromisso dos países pela redução do gás metano
O gás metano tem um potencial de retenção de calor maior do que o dióxido de carbono (CO2), mas se decompõe na atmosfera mais rapidamente. Por isso, a redução das emissões de metano pode ter um impacto rápido no controle do aquecimento global. O metano é produzido principalmente por aterros sanitários, pela agropecuária e pelo funcionamento da indústria de petróleo e gás.
Para reduzir as emissões do gás em 30% até 2030, 103 países se juntaram em um esforço liderado pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE). O grupo de signatários do “Compromisso Global de Metano” inclui o Brasil, um dos cinco maiores emissores mundiais de metano.
Na avaliação do embaixador Paulino Franco de Carvalho Neto, secretário de Assuntos Políticos Multilaterais do Itamaraty, as metas anunciadas pelo Brasil na COP26 exigirão um grande esforço por parte do governo federal.
Fizemos um anúncio muito importante e ambicioso, que é o aumento do nosso percentual de redução de emissões de gases de efeito estufa. Passamos de 43% para 50%, tomando como base o ano de 2005. Ou seja, em 2030, teremos que emitir metade do que emitimos em 2005
Embaixador Paulino Franco de Carvalho Neto, secretário de Assuntos Políticos Multilaterais do Itamaraty
Para o especialista, é possível reduzir 50% da emissão dos gases de efeito estufa antes de 2030, com medidas efetivas de combate ao desmatamento. “É um problema que temos que enfrentar e, se enfrentarmos com êxito e contivermos o desmatamento, com certeza alcançaremos essa meta até com alguma folga”, disse.
O cumprimento da promessa poderá trazer impactos significativos para o setor de energia. Segundo analistas, consertar a infraestrutura de petróleo e gás com vazamentos é a maneira mais rápida e barata de reduzir as emissões de metano.
Enquanto os Estados Unidos são o maior produtor mundial de petróleo e gás, a UE é o maior importador de gás. Países como China, Rússia e Índia, que estão entre os maiores emissores de metano, não assinaram o compromisso.
“Uma das coisas mais importantes que podemos fazer nesta década decisiva para manter o alcance de 1,5°C é reduzir nossas emissões de metano o mais rápido possível”, disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, referindo-se à meta de conter o aquecimento global em 1,5°C até 2050. “É um dos gases de efeito estufa mais potentes que existe”.
Na segunda-feira (1º), o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, apresentou as metas do Brasil na cúpula, que incluem a redução de 50% das emissões de gases de efeito estufa até 2030 e a neutralização das emissões de carbono até 2050.
Redução do metano faz parte da agenda do empresariado
As discussões sobre a redução da emissão de gases associados ao efeito estufa também fazem parte da agenda do empresariado brasileiro, que participa da COP26.
Em entrevista à CNN, Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), afirmou que o setor empresarial brasileiro defende o fim do desmatamento ilegal como passo fundamental para o combate às mudanças climáticas.
“O Cebds tem feito posicionamentos colocando o setor empresarial contra o desmatamento ilegal, pois o grande problema no Brasil está ligado ao uso da terra, sobretudo o desmatamento. O nosso problema não é na matriz energética e no setor industrial”, disse Grossi.
O compromisso (e os desafios) de conter o desmatamento até 2030
Nesta terça-feira, mais de 100 países firmaram um compromisso com o fim do desmatamento até 2030. A assinatura da declaração sela o comprometimento dos países, incluindo o Brasil, por ações coletivas para deter e reverter a perda florestal e a degradação do solo em pouco mais de oito anos.
O documento também destaca o acordo para o desenvolvimento sustentável e a promoção de transformações rurais que sejam inclusivas.
O objetivo ousado do compromisso lança dúvidas sobre a capacidade dos países para a readequação de políticas públicas ambientais para atingir a meta.
Para a professora Mercedes Bustamante, do departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), a fiscalização é um ponto essencial, ainda que não seja o único, para combater o desmatamento.
“Nenhuma opção hoje isoladamente é capaz de lidar com um problema complexo como o desmatamento, mas o monitoramento e a fiscalização são aspectos centrais”, disse Bustamente à CNN.
Segundo o documento assinado na COP26, para cumprir os objetivos de uso da terra, clima, biodiversidade e desenvolvimento sustentável, em níveis global e nacional, serão necessárias ações transformadoras.
A proposta sugere que as mudanças contemplem da produção ao consumo, além do desenvolvimento de infraestrutura e de apoio aos pequenos proprietários, povos indígenas e comunidades que dependem das florestas para subsistência.
Vozes indígenas na COP26
A jovem indígena Txai Suruí, de 24 anos, de Rondônia, uma das representantes do Brasil na COP26, discursou diante de líderes mundiais na segunda-feira (1º). Txai pediu ações imediatas pelo clima.
“Meu nome é Txai Suruí, eu tenho só 24, mas meu povo vive há pelo menos 6 mil anos na Floresta Amazônica. Meu pai, o grande cacique Almir Suruí, me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a Lua, o vento, os animais e as árvores”, disse a jovem.
No discurso, Txai pontuou que os compromissos firmados durante a COP26 só terão efeito caso saiam do papel e se tornem medidas efetivas no cuidado com o meio ambiente.
“Vamos frear as emissões de promessas mentirosas e irresponsáveis; vamos acabar com a poluição das palavras vazias, e vamos lutar por um futuro e um presente habitáveis. É necessário sempre acreditar que o sonho é possível”, disse.
Em entrevista à CNN, Txai defendeu uma participação maior dos povos indígenas no debate internacional sobre meio ambiente e mudanças climáticas.
“O mundo precisa ouvir o que os povos indígenas têm a dizer; nós precisamos estar no centro da discussão”, disse a ativista em entrevista à CNN, de Glasgow, na Escócia.
Segundo a jovem, os compromissos feitos formalmente pelo Brasil durante a cúpula global do clima são diferentes da realidade vista no cotidiano de quem vive na floresta.
“O Brasil, na verdade, está trazendo fake news”, disse. “Diz que não está destruindo a floresta, que está protegendo a Amazônia, o que a gente sabe que não é verdade. Isso eu não falo de coisas que li; falo da minha realidade, que vejo dentro do meu território. Sofremos por invasão, por desmatamento.”
(Com informações de Lourival Sant’Anna, Rafaela Lara e Juliana Elias, da CNN, da Reuters e da Agência Brasil)