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    Investigações sobre explosão em Beirute são novamente interrompidas

    Acidente completará um ano em 4 de agosto. Familiares de vítimas pressionam para que responsáveis sejam condenados

    Maha El Dahan, da Reuters

    Ibrahim Hoteit perdeu seu irmão mais novo, Tharwat, na enorme explosão que irrompeu no porto de Beirute em agosto passado. Ele andou pelos hospitais coletando partes do corpo, começando com o couro cabeludo de Tharwat, e enterrou seus restos mortais em um pequeno caixão.

    Quase um ano depois, Hoteit, um porta-voz de famílias de mais de 200 pessoas que morreram no desastre, ainda está tentando responsabilizar aqueles que ele diz serem responsáveis por permitir que o acidente acontecesse.

    No início deste mês, durante um protesto em frente à casa do Ministro do Interior na capital libanesa, Hoteit disse que as forças de segurança usaram gás lacrimogêneo durante os confrontos com a multidão. “Não podemos ser privados de verdade e justiça diante de um crime de tal magnitude”, disse ele à Reuters.

    Enquanto Beirute se prepara para ter o primeiro aniversário de uma explosão que acabou com grandes áreas da cidade, políticos e altos funcionários de segurança ainda não foram questionados em uma investigação formal.

    Na última reviravolta, Tarek Bitar, o juiz que liderava a investigação, teve um pedido para interrogar o Major General Abbas Ibrahim – chefe da poderosa agência de Segurança Geral – recusado pelo Ministro do Interior, Mohamed Fahmy.

    Ibrahim disse que ele estava sujeito à lei como todos os libaneses, mas a investigação deveria ocorrer “longe de considerações políticas estreitas”.

    A decisão de Fahmy levou alguns parentes dos mortos a marcharem perto de sua casa este mês, carregando caixões vazios cobertos de imagens das vítimas. A manifestação se tornou violenta.

    Uma fonte sênior do Ministério do Interior disse que as medidas tomadas pelas forças de segurança eram necessárias para proteger a casa particular do ministro.

    A frustração dos parentes reflete a raiva generalizada entre os libaneses sobre a investigação e, mais amplamente, sobre como o país está sendo administrado. A dívida libanesa aumentou, a inflação é alta, mais da metade da população vive na pobreza e os grupos políticos rivais têm repetidamente falhado em formar um governo.

    Rastros da tragédia

    Porto de Beirute após explosão
    Porto de Beirute ainda tem sinais de explosão
    Foto: Houssam Shbaro/Anadolu Agency via Getty Images

    A maior parte da devastação da explosão ainda é visível. O porto se assemelha a um local pós-bomba, e muitos edifícios foram deixados em estado de colapso.

    Grandes questões permanecem sem resposta, incluindo por que um carregamento tão grande de nitrato de amônia, um produto químico altamente explosivo usado em bombas e fertilizantes, foi deixado por anos, após ser descarregado em 2013, armazenado no meio de uma cidade populosa.

    A imunidade desfrutada pelos altos funcionários levantou suspeitas entre algumas famílias de que talvez nunca haja responsabilização.

    “Como você pode ter justiça se todos, desde o menor funcionário até o maior, têm imunidade?”, disse Nizar Saghieh, chefe da Agenda Jurídica, uma organização de pesquisa e defesa.

    A decisão de Fahmy de bloquear o juiz de interrogar Ibrahim foi baseada no conselho de uma comissão judicial do Ministério do Interior de não levantar sua imunidade, de acordo com uma carta que explicou a decisão.

    Os desafios que o juíz Bitar enfrenta não são únicos.

    Seu antecessor, Fadi Sawan, foi removido em fevereiro depois que um tribunal deferiu o pedido de remoção feito por dois dos ex-ministros acusados por ele de negligência – Ali Hassan Khalil e Ghazi Zeaite.

    Uma cópia da decisão, obtida pela Reuters, citou “suspeita legítima” sobre a neutralidade de Sawan, em parte porque alegou que sua casa foi danificada na explosão.

    Khalil e Zeaiter, juntamente com um terceiro ex-ministro e o primeiro-ministro cessante Hassan Diab, declararam sua inocência quando Sawan os acusou, recusaram-se a ser questionados como suspeitos e acusaram Sawan de ter abusado de seus poderes.

    Um documento também visto pela Reuters, enviado pouco mais de duas semanas antes da explosão, mostrou que o presidente e o primeiro-ministro foram avisados sobre o risco de segurança representado pelos produtos químicos armazenados no porto e que eles poderiam destruir a capital.

    Bitar quer que o governo e o parlamento lhe permitam questionar vários funcionários do alto escalão, incluindo todos os acusados por Sawan, além do ex-ministro do Interior Nohad Machnouk.

    Com seu pedido para questionar Ibrahim negado, o destino imediato da investigação de Bitar parece repousar sobre a imunidade parlamentar de Machnouk, Khalil e Zeaiter, todos eles deputados.

    Os deputados se reuniram para discutir o pedido de Bitar no início deste mês, dizendo que precisavam de mais informações antes de decidir.

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