Investigação revela dezenas de casos de abuso em diocese na Itália
Abusos foram cometidos ao longo de seis décadas


Dezenas de casos de abuso sexual cometidos por membros da Igreja Católica ao longo de seis décadas vieram à tona na segunda-feira (20) a partir de um detalhado relatório independente sobre uma diocese do norte da Itália.
Embora os bispos italianos tenham sido criticados por emitir relatórios sobre abusos limitados ao período de 2020-2022, a diocese de Bolzano-Brixen investigou casos de 1964, ano em que foi criada, até 2023.
Bolzano-Brixen pertence à província de língua alemã do Tirol do Sul, na fronteira com a Áustria, e tem sido mais ativa na questão do que outras dioceses italianas. Em 2010, foi a primeira a abrir um escritório para lidar com denúncias de abuso sexual clerical.
O relatório foi encomendado na segunda-feira por um escritório de advocacia alemão, que produziu um documento de 631 páginas com base em arquivos e entrevistas da igreja, que encontrou 67 possíveis situações de abuso, incluindo 53 apoiadas por escritórios ou com evidências plausíveis.
O documento vinculou os casos a 41 padres, o equivalente a 4,1% do clero que atuou na diocese no período. Um deles, suspeito de abusar de meninas pré-adolescentes a partir da década de 1960, permaneceu impune até 2010, quando foi forçado a se aposentar pelo bispo local.
Ele não enfrentou processos criminais italianos devido ao prazo de prescrição, e os quase 50 anos de impunidade dos quais ele desfrutou “revelam, na opinião dos autores, todas as facetas da falha sistêmica geral da Igreja”, conforme o relatório.
“[Precisamos] levar as vítimas a sério, levar a dor a sério, levar a sério essa terrível ferida em nossa igreja e sociedade”, declarou o bispo de Bolzano-Brixen, Ivo Muser, aos repórteres.
Houve 75 supostas vítimas, incluindo 51 mulheres, 18 homens e 6 cujo gênero permaneceu desconhecido. Quase todos eram menores de idade, com 51% das mulheres tendo entre 8 e 14 anos quando sofreram o primeiro abuso, enquanto metade dos homens tinha pouco menos de 18 anos, ainda segundo o relatório.
Três vítimas do sexo masculino cometeram suicídio “décadas após os [supostos] abusos”, foi observado, acrescentando que uma vítima teve seu funeral oficiado por seu suposto agressor, causando indignação entre os fiéis.
Os autores, ressaltando que as vítimas muitas vezes esperam décadas antes de falar, disseram que suas descobertas provavelmente revelaram apenas a ponta do iceberg, com “um alto número de casos ocultos”, disseram.
A Igreja Católica global tem sido abalada há décadas por escândalos envolvendo padres pedófilos e o acobertamento de seus crimes, prejudicando sua credibilidade e custando centenas de milhões de dólares em acordos.
O Papa Francisco fez do combate aos abusos cometidos pelo clero uma prioridade de seus 12 anos de papado, com resultados mistos até agora.