Inteligência alemã coloca partido de extrema-direita sob vigilância
Justiça alemã determinou, pela primeira vez desde a era nazista, que um partido seja colocado sob escrutínio das polícia por sua postura antidemocrática


O serviço de inteligência interno da Alemanha (BfV) colocou formalmente o partido de extrema-direita, Alternativa para a Alemanha (AfD) sob vigilância por suspeita de tentar enfraquecer a constituição democrática do país, disse, na quarta-feira, uma fonte ciente dos movimentos da autoridade alemã.
Depois de,a AfD ter se tornado o primeiro partido declaradamente contra imigrantes a entrar no parlamento alemão, há quatro anos, a sigla se torna a primeira a ser monitorada desde o fim da era nazista, em 1945.
Em 2017, AfD chegou ao Bundestag, o parlamento alemão, com o apoio de eleitores irritados com a decisão da chanceler Angela Merkel de receber mais de um milhão de imigrantes. Por outro lado, sua retórica, que contribuiu para uma atmosfera de ódio que incentiva a violência contra os imigrantes, foi rechaçada veementemente por outra porção da população alemã.
O BfV segue, há dois anos, a atuação política do AfD e a nova medida permitirá que a agência escute ligações e conversas envolvendo membros do partido e analise o financiamento da legenda.
Uma porta-voz do serviço de inteligência disse estar impedida de comentar o caso por conta de uma ação judicial apresentado pela AfD. Ela se limitou a dizer que o partido ficou furioso com a decisão.
“A agenda é clara. Primeiro somos apontados como um ‘caso a ser investigado’. Agora, somos um ‘caso suspeito’ e estamos sob vigilância. Em algum momento, haverá um pedido para banir nosso partido”, disse Alexander Gauland, o líder parlamentar da AfD. “Essa, graças a Deus, será uma decisão do Tribunal Constitucional, e não do BfV.”
Gauland e o colíder da AfD, Tino Chrupalla, disseram em entrevista coletiva que só souberam da decisão, relatada pela primeira vez pela revista Der Spiegel, por meio de reportagens da mídia. Eles acusaram o BfV de tentar prejudicar suas chances nas eleições nacionais de setembro.
Desafio no tribunal
O Conselho Central dos Judeus na Alemanha elogiou a decisão, dizendo que “as políticas destrutivas da AfD minam nossas instituições democráticas e desacreditam a democracia entre os cidadãos.”
A AfD registrou 12,6% de apoio nas eleições federais de 2017 para se tornar o terceiro maior partido no Bundestag, e também tem legisladores em todas as 16 assembleias regionais.
Mas seu apoio caiu para cerca de 9% em pesquisas recentes, prejudicado por lutas internas e por sua oposição às medidas de bloqueio para conter a pandemia de coronavírus.
Um de seus colíderes, Joerg Meuthen, abriu uma fissura no partido ao afirmar que, para ampliar seu apelo junto aos eleitores, a AfD precisaria expulsar membros suspeitos de simpatizar com grupos de extrema direita que defendem a violência.
A AfD também obteve uma decisão judicial que impediu a agência de inteligência alemã de chamar o caso publicamente de “sob investigação” porque isso colocaria o partido em desvantagem nas eleições. No entanto, um pedido do partido para impedir o escrutínio maior da BfV sobre suas atividades ainda está nos tribunais.
O BfV disse ao Tribunal Administrativo em Colônia, no mês passado, que não monitoraria os legisladores da AfD nos parlamentos nacionais, regionais ou europeus enquanto o caso estivesse em aberto.
Isso sugeriu que a vigilância formal seria, por enquanto, limitada aos membros do partido de nível inferior.
Quatro anos atrás, o governo alemão não conseguiu barrar o neonazista Partido Democrático Nacional (NPD), que acabou conquistando um punhado de cadeiras em várias assembleias estaduais. O Tribunal Constitucional decidiu que, embora se parecesse com o partido nazista de Adolf Hitler, era fraco demais para colocar a democracia em risco.
Texto traduzido. Leia aqui a versão original em inglês.