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    Imigrantes merecem compaixão, não arame farpado, diz Nobel de Literatura

    Abdulrazak Gurnah explicou os legados do imperialismo em indivíduos desenraizados em seus livros

    Abdulrazak Gurnah, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2021, criticou a forma como os países europeus tratam os imigrantes
    Abdulrazak Gurnah, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2021, criticou a forma como os países europeus tratam os imigrantes Henry Nicholls/REUTERS

    Da Reuters

    Por Guy Faulconbridge e Natalie Thomas, da Reuters

    A Europa deveria acolher os imigrantes com compaixão, e não com arame farpado. O governo do Reino Unido é “muito malvado” com aqueles que buscam asilo, declarou o escritor tanzaniano Abdulrazak Gurnah, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 2021.

    Gurnah, que explorou os legados do imperialismo em indivíduos desenraizados em seus livros, disse que ficou tão chocado quando a Academia Sueca lhe telefonou para contar do prêmio que inicialmente achou se tratar de um engano.

    Ele falou poeticamente sobre a experiência da migração, de se deixar para trás a família e uma parte da própria vida em troca de uma existência em uma nova sociedade, na qual a pessoa sempre se sentirá parcialmente estrangeira, quando sente que o governo britânico parece “malvado” com aqueles que buscam asilo.

    “Atualmente, parece que o governo é bastante malvado com pessoas que pedem asilo ou entrada neste país”, disse Gurnah, de 73 anos, à Reuters em seu jardim ao lado de um bordo em Canterbury, no sul da Inglaterra.

    “Parece uma tremenda surpresa para eles que pessoas vindas de lugares difíceis iriam querer vir a um país que é próspero. Por que estariam surpresos? Quem não iria querer vir a um país que é mais próspero? Existe uma espécie de mesquinharia nesta reação”.

    Gurnah, que nasceu em Zanzibar, hoje Tanzânia, disse que os imigrantes não estão chegando sem nada, mas que querem trabalhar. Ele expressou espanto com a determinação e a coragem daqueles que viajaram de tão longe para fugir dos próprios países almejando uma vida nova.

    “Isto, de certa forma, é formulado como se fosse imoral, você sabe que eles usam a frase ‘imigrante econômico’, como se ser um imigrante econômico fosse algum tipo de crime. Por que não?” “Ao longo dos séculos, milhões de europeus deixaram suas casas precisamente por esta razão e invadiram o mundo precisamente por isso”, disse.

    Gurnah afirmou que não está defendendo uma imigração “vale-tudo”, mas que não deveria haver uma representação antagônica e abusiva dos imigrantes.

    O Brexit, segundo ele, revelou “uma certa mesquinharia” em relação ao Reino Unido, e por trás daquela votação estava outra narrativa sobre imigrantes de muito além das fronteiras da Europas.