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    Hamas pode anular vantagem tecnológica de Israel com cidade subterrânea; entenda

    Complexo de túneis na Faixa de Gaza cresceu e pode ter uma extensão superior a 500 quilômetros

    João Guerreiro Rodriguesda CNN

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    Está prestes a acontecer uma operação militar “altamente complexa” na guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza. Especialistas acreditam que o cenário pode ser idêntico ao visto em Mariupol, na Ucrânia, porém, em uma escala ainda maior.

    O labirinto de túneis do Hamas em Gaza possui mais de 500 quilômetros de extensão. Em seu interior, existem fábricas improvisadas de armamento, depósitos de munições e de alimentos, postos de comando e locais seguros onde os extremistas podem se esconder com segurança dos ataques israelenses.

    É quase “uma segunda cidade” subterrânea, que “anula a vantagem tecnológica” de Israel e pode tornar a guerra “um conflito prolongado” que pode transformar Gaza numa “Mariupol gigante”.

    “É inevitável que os terroristas se refugiem nesta rede quase labiríntica de túneis que se ligam uns aos outros e que têm ligação a vários prédios. É quase uma segunda cidade subterrânea. Isto torna as operações militares muito complexas, com os terroristas atacando e se refugiando, em seguida, no seu interior”, explica o major-general de Portugal Isidro de Morais Pereira.

    Inicialmente construídos para contrabandear bens e contrariar o bloqueio imposto por Israel, rapidamente os membros do Hamas perceberam o potencial das estruturas para combater o Exército Israelense.

    O complexo de túneis cresceu e atualmente pode ter uma extensão superior a 500 quilômetros, com áreas dedicadas ao armazenamento de armamento, comida e água, bem como geradores elétricos e centros de comando. Para se ter uma noção da escala, a rede do metrô de Lisboa tem “apenas” uma extensão de 44,5 km. Em São Paulo, por exemplo, são 104,4 km.

    Segundo o exército israelense, a rede de túneis possui dezenas de pontos de acesso espalhados por toda a cidade, muitos são próximos de residências de civis. As características tornam qualquer operação militar muito mais complexa e dificulta a promessa do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de “aniquilar o Hamas”.

    “Uma operação em zona urbana é sempre uma operação altamente complexa. Basta ver o caso de Bakhmut, que era uma cidade praticamente deserta, e o que isso custou ao Exército Russo. Um ataque a uma cidade é dirigido a tomar quarteirão a quarteirão, casa a casa, quarto a quarto. Quando se combate em um túnel aumenta-se ainda mais a complexidade dos combates”, afirma o major-general Agostinho Costa.

    VÍDEO – “Metrô de Gaza”: túneis permitem movimentação de radicais do Hamas

    Supremacia tecnológica

    Depois do ataque terrorista de larga escala lançado pelo Hamas no dia 7 de outubro, em que morreram pelo menos 1.400 pessoas, Israel respondeu por meio de sua superioridade tecnológica, utilizando uma moderna Força Aérea com toda capacidade.

    Todos os dias, centenas de mísseis atingem Gaza e transformam seus edifícios em escombros. Apesar da devastação, os especialistas acreditam que estes ataques podem ter pouco efeito na degradação da capacidade de combate do Hamas, que consegue permanece no interior da rede de túneis sem ser atingido.

    “Um número significativo de extremistas do Hamas provavelmente conseguirá sobreviver aos ataques aéreos se escondendo nos túneis de Gaza. Provavelmente é seguro assumir que o Hamas abasteceu esses túneis com quantidades significativas de alimentos, água, armas e munições”, disse Bradley Bowman, antigo oficial do Exército dos Estados Unidos e conselheiro de Segurança Nacional dos Membros de Comissões das Forças Armadas e das Relações Exteriores do Senado, em declarações à NBC.

    Para o conseguir afetar de forma significativa o Hamas, Israel terá que utilizar algumas das armas anti-bunker mais poderosas no seu arsenal.

    O Estado adquiriu recentemente munições anti-bunker guiadas por laser GBU-28, que têm 2.268 kg e são capazes de penetrar alvos até 50 metros de profundidade, colocando os túneis palestinos em perigo. No entanto, os explosivos criam enormes crateras, que podem agravar a emergência humanitária que se vive na região.

    “Os túneis anulam completamente a vantagem tecnológica militar de Israel, com um inimigo que consegue se tornar invisível e se misturar no seio da população, o movimento extremista tira vantagem de tudo isto. É uma guerra de paciência e exige tempo e planejamento pormenorizado”, cita Isidro de Morais Pereira.

    Azovstal 2.0

    O que se segue é o que os militares apelidam de “operação de limpeza”, que, no fundo, consiste em esvaziar todo o complexo de túneis de militantes do Hamas.

    As operações requerem um grande número de recursos, não só materiais, mas também humanos. Por isso, o país mobilizou cerca de 360 mil reservistas, que se vão juntar aos quase 200 mil militares que já estavam em serviço.

    Ao todo, Israel vai dispor de mais de 500 mil militares para atacar o Hamas. Mas, para isso, é preciso saber com precisão a localização e as entradas das estruturas.

    Isidro de Morais Pereira compara o cenário que Israel está prestes a enfrentar com a situação vivida na cidade de Mariupol, na Ucrânia, quando as forças militares ucranianas foram cercadas e resistiram quase três meses no interior de um complexo sistema de túneis da fábrica metalúrgica Azovstal.

    A estratégia israelense para evitar um elevado número de baixas pode ser muito semelhante ao método de cerco utilizado pela Rússia em Mariupol, utilizando o tempo a seu favor e conduzindo operações militares de forma lenta e metódica, até que o seu inimigo esgote as suas munições e os seus mantimentos.

    Tudo isto são sinais de que a guerra pode durar mais tempo do que se espera.

    “Gaza está cercada e faz lembrar Mariupol, mas em tamanho maior. Se Mariupol demorou o tempo que demorou, e com o Hamas preparado, isto pode demorar muito tempo. Neutralizar o Hamas pode ser uma campanha muito demorada”, alerta o especialista, que diz que as Forças de Defesa de Israel têm várias táticas que podem ser utilizadas para “limpar” os túneis de Gaza, como a utilização maciça de gás lacrimogêneo e de lança-chamas.

    A ideia foi reforçada pelo ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, ao Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, garantindo que esta será “uma guerra longa”, que terá “um preço alto”, mas terminará com uma vitória de Israel.

    Para o major-general Agostinho Costa, o número de baixas vai ser “incomparavelmente maior” ao que foi visto na Ucrânia e não é certo que Israel esteja disposto a aceitar um número de mortos muito elevado.

    “O atraso desta operação deve-se à rede de túneis, porque o exército israelense, apesar de numeroso, não está preparado para este tipo de combate. Se estivesse já tinham começado a operação e já tinham feito a operação. Se Israel entrar, está caindo na armadilha, porque o que se segue é uma matança”, afirma Agostinho Costa.

    Veja também: À CNN, porta-voz do Hamas acusa Biden de “cair na narrativa de Israel”

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