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    “Hamas é mentiroso e não luta pela causa palestina”, diz à CNN filho do fundador

    Mosab Hasan Houssef falou com a CNN sobre a guerra em Gaza

    Raquel Landimda CNN

    Filho de um dos fundadores do Hamas, Mosab Hasan Houssef diz que o movimento é “mentiroso” e não luta pela causa palestina, porque utiliza seu próprio povo como escudos humanos.

    “Eles são mentirosos. O Hamas não é uma organização nacional. A guerra do Hamas contra o estado de Israel é uma guerra religiosa. Eles acham que são a alma de Deus na Terra.”, disse Houssef à CNN.

    Houssef é filho do xeique Hasan Yousen e era o herdeiro político do pai. Depois de passar por uma prisão israelense, tornou-se espião do Shin Bet, a polícia secreta israelense por 10 anos e era conhecido pelo codinome o “príncipe verde”. Hoje vive nos Estados Unidos.

    Questionado sobre os motivos que era o levaram a se tornar um espião, ele afirma que não foi uma decisão isolada, mas uma “evolução e que teve que abrir mão de todo o prestígio que o Hamas lhe trazia.

    “O Hamas me deu poder, meu pai me deu autoridade, me deu um status naquela sociedade, me deram dinheiro. Me deram tudo. O que eu me virei contra foi o meu interesse. Porque eu tive que escolher entre todo o prestígio e todo o conforto e o interesse de pessoas que eu não conhecia”, afirmou.

    Veja a entrevista completa:

    Raquel Landim: Houssef, obrigada por estar aqui. Você é o filho mais velho de um dos fundadores do Hamas. Pode compartilhar com a gente um pouco da sua infância e o que você sabe sobre o grupo?

    Mosab Hasan Houssef: Primeiro, obrigada por me receber. Minha infância como uma criança palestina. Não foi fácil para uma criança que não tinha a visão geral. Dos movimentos e do atrevimento dos conflitos no Oriente Médio.

    Eu olhava para meu pai, que era meu modelo, ele tinha expectativas que eu fosse um líder do Hamas, que eu fosse um líder muçulmano. Ele cresceu em um ambiente de disciplina do Hamas e da fraternidade muçulmana.

    A classe muçulmana do movimento do meu pai tinha muitas expectativas para mim e todo mundo me via como um futuro líder da comunidade, é para isso que eles me prepararam. E, como você pode ver, fiz tudo contrário à aspiração.

    Raquel Landim: O que você viu e vivenciou que o fez mudar de ideia?

    Mosab Hasan Houssef: Não é apenas um evento. É uma sequência de eventos. Não é apenas uma experiência, é a minha experiência de vida porque para mim é bem diferente ter uma mudança no coração baseada em uma experiência extrema que aconteceu uma vez, do que uma mudança para sempre, não é assim.

    Mesmo que eu tenha crescido distante do Hamas e a distância só foi aumentando, aumentando e aumentando que agora estamos em opostos extremos. Então tudo que eles fizeram e defenderam, e tudo que eu defendo com minha inteligência versus o conhecimento deles, minha liberdade versus o condicionamento deles.

    Essa é basicamente a distância entre eu e o Hamas. Então não é sobre um evento que me irritou e me fez querer ir contra o Hamas, mas sim a ideologia selvagem, a selvageria deles frente à vidas, a violência com as crianças e quando eu digo violência, não digo de uma violência apenas contra palestinos, falo sobre a violência contra nosso povo, contra palestinos, uma violência contra eles mesmos. E a não-visão deles sobre a vida e existência.

    Eles veem a vida, eles veem Deus como uma ilusão, com muitas sombras de ignorância e é isso que me faz diferente do Hamas. Esse é o porque eu falo contra eles, é por isso que eu luto contra eles.

    Raquel Landim: No seu livro, você não fala sobre um evento em específico, mas você descreve o momento que você foi para a prisão em Israel como um momento de descoberta. Pode nos contar um pouco sobre esse período na prisão? Você era muito jovem, você tinha só 18 anos.

    Mosab Hasan Houssef: Isso teve grande impacto na minha vida, mas de novo, não é só um evento. Na primeira prisão, eu fiquei 16 meses e, no total, foram 27 meses em prisões israelenses.

    Nas prisões, a máfia do Hamas, como podemos chamá-los, torturava prisioneiros palestinos por suspeita de colaboração com Israel. E eles interrogavam, torturavam, matavam e, durante esse período, eu vi a pior face do Hamas. Quando eu falo de atrocidades na prisão, são coisas além da imaginação de qualquer ser humano.

    Isso é o quanto o Hamas foi terrível na prisão. Se você quiser conhecer alguém como ele, vai saber quando estiver em um quarto bem pequeno ou em barraca por 27 meses. Foi assim que eu vi a estrutura do Hamas e bem diferente de como meu pai queria que eu visse quando criança.

    Raquel Landim: Uma coisa está me intrigando. Como eles podem ter ensinado prisioneiros se eles estavam sob vigilância de Israel, dentro de uma prisão israelense?

    Mosab Hasan Houssef: Essa é uma boa pergunta. Na prisão, primeiramente estamos falando de um grande campo com centenas de prisioneiros, não estamos falando de prisões de segurança máxima, onde a administração tem mais controle.

    Estamos falando de um número imenso de prisioneiros, onde cada sessão tem mais ou menos 250 prisioneiros, então o que o Hamas fez foi cavar túneis entre as sessões e quando a administração vinha contar os prisioneiros, eles contrabandeavam a pessoa que estava sob tortura para a outra sessão para que ele não tivesse a chance de escapar.

    Então na contagem, a administração ia encontrar todos os prisioneiros lá e estaria tudo em ordem. A pessoa sob tortura nunca teria a oportunidade de escapar. Se a sua pergunta é como Israel não pode colocar um fim nisso, eles tentaram. Eles sabiam que tinha tortura, muitas vezes eles vinham e colocavam os prisioneiros para fora.

    O problema é que se eles colocassem os prisioneiros escapassem do Hamas, a vida deles também seria destruída porque escapando da tortura do Hamas, eles validariam e provariam que a acusação do Hamas é válida e certa contra eles mesmos.

    Quando alguém é convencido por traição e escapa sob interrogatória, sua família, suas crianças e sua vila seriam destruídas. Então alguns desses prisioneiros preferem estar sob a tortura do Hamas para não envergonhar suas famílias escapando de Israel. E isso pode nos falar algo sobre a imagem geral.

    Quantos prisioneiros estão em Gaza com a violência do Hamas e tem medo de quebrar a cerca e escapar porque se escaparem, eles se tornam traidores.

    Raquel Landim: E, Houssef, como você se tornou um espião do Shin Bet?

    Mosab Hasan Houssef: Essa também é uma história longa, bem difícil de trazer tudo em uma frase. Essa é uma entrevista curta, mas as questões que me fizeram finalmente decidir ir contra a organização do meu próprio pai, foi uma grande decisão e não foi um único evento.

    Novamente, foi compreender que o Hamas era um grande perigo. Naquela época, quase ninguém achava que o Hamas poderia ameaçar a segurança global. Mas eu vi o potencial destrutivo e, pessoalmente, eu não gostava do que eles defendiam.

    Então resolvi tomar atitude sozinho e achei que estava sozinho nessa luta porque ninguém estava lá. Israel estava lutando para salvar vidas humanas, a inteligência de Israel estava trabalhando para identificar ataques de homem-bomba desses mestres.

    Eu estou falando de um brutal ataque, onde centenas de pessoas iriam morrer e se ferir nos ataques do Hamas dos anos 1990. Então, Israel estava muito desesperado para achar esses homens-bombas e eu tinha acesso. Eu tinha acesso ao Hamas e conhecia o Hamas melhor do que ninguém. De fato, eu tinha conhecimento dos planos dos ataques do homem-bomba.

    Não é coincidência que os mesmos líderes que torturavam palestinos na prisão, eram os mesmos líderes dos militares do Hamas fora do Oriente Médio. Então para mim, eu estava lidando com monstros na prisão, mas fora da prisão, eles orquestravam homens-bomba contra Israel.

    Então quando Israel me abordou para trabalhar e achar essas pessoas, eu achei que era uma boa luta ir atrás desses criminosos porque eu os conhecia da prisão, fora da prisão, eles carregavam tantos homem-bomba que matariam não apenas israelenses, mas matariam americanos, matariam palestinos, matariam árabes israelenses, matariam pessoas indiscriminadamente quando atacassem ônibus, escolas, sinagogas, praias, clubes de praia, hotéis.

    Não teria uma área que o Hamas não atacaria que não fosse explodir civis, muitos civis, crianças e mulheres indiscriminadamente. Então, durante esse período eu me senti responsável, uma responsabilidade moral e por entender que essas pessoas, depois de conhecê-los na prisão, pessoas como o Humani, o nome dele, ele estava na prisão, ele era da área de segurança do líder do Hamas e, depois que ele foi liberado, se tornou o líder dos militares do Hamas no West Bank.

    Esse foi o chefe que mandou todos os homem-bomba para atacarem Israel. Hoje, nas prisões israelenses, o Hamas tem 250 reféns para liberar, então ainda falamos da mesma figura.

    Desde 1990, em 2000 e hoje. Neste e no último século, as figuras que causam todo esse problema são as mesmas. Então, se quer entender minha visão, porque eu luto contra o Hamas, é porque eu sei que se não lutarmos contra eles, se dermos legitimidade a eles, se soltarmos seus membros da prisão em troca de reféns inocentes, nós empoderamos eles.

    Raquel Landim: O que eu estou tentando entender é quando e porquê você tomou essa decisão. É uma decisão difícil. Se virar contra a família, se virar contra sua religião, se virar contra toda sua vida e raízes. Em qual momento da sua vida você decidiu isso? Foi fora ou dentro da prisão? Quando e porquê você decidiu isso?

    Mosab Hasan Houssef: De novo, acho que foi uma evolução. Não é… Se fosse simples dizer, nesta data, algo grande aconteceu e mudou meu coração. É uma evolução desde minha infância. A distância entre eu e o Hamas começou a nos separar. E aos 18, 19 anos, eu não entendia o problema perfeitamente, mas a distância entre eu e o Hamas já existia para que eu pudesse lutar contra eles.

    Depois, de verdade, eu não fui contra a minha família, eu salvei a vida do meu pai, eu salvei minha família e salvei minha própria vida, salvei a vida de muitos palestinos porque quando eu digo, que parte da inteligência israelense combatia terrorismo, nós não estávamos matando palestinos. Estavamos salvando vidas humanas. Estávamos salvando civis, inclusive palestinos e estrangeiros.

    Esse é um trabalho legítimo de um serviço de inteligência que pertence a um sistema democrático. O trabalho deles não é terrorismo, é combater o terrorismo. Não importa a nacionalidade dos civis.

    Mas, de qualquer modo, o que eu me virei contra rapidamente foi meu próprio interesse com o Hamas porque o Hamas me deu prestígio, poder, meu pai me deu autoridade, me deu um status naquela sociedade, futuro, segurança, dinheiro. Me deram tudo. O que eu me virei contra foi o meu interesse. Eu tive que escolher entre todo o prestígio e conforto que vinha do que a família tinha prometido e o interesse de pessoas desconhecidas.

    Civis simples que eu nunca conheci, mas se eu não agisse, os civis não saberiam de mim e morreriam. A decisão mais difícil foi essa. A decisão entre meu interesse pessoal e meu conforto ou o desconhecido, onde não existe recompensa, não existe agradecimento. Mas foi o interesse maior de humanidade

    Raquel Landim: O Hamas diz que eles lutam pela causa palestina.

    Mosab Hasan Houssef: Eles são mentirosos. Eles não lutam, eles não são uma organização nacional. Isso é o que os brasileiros precisam entender. Esse é o porquê eu estou aqui.

    Nessa crise global e moral do meu povo, que não sabe quem está certo e quem está errado, o que apoiar, nós devemos sentir. Eu sinto por Israel ou eu sinto pela Palestina? Eu digo aos brasileiros que vocês sentem por todos os lados, sentem o lado dos inocentes, que não estão causando esse problema e são vítimas da ideologia selvagem do Hamas.

    O Hamas não é uma organização nacional. Isso é o mais importante de ser compreendido. Se o Hamas fosse uma organização política-nacional e um movimento liberal, com intenções puras de proteger civis e lutar pela ocupação, como dizem, então, eles não teriam problema em reconhecer o direito do Estado de Israel de existir e dariam assistência técnica aos palestinos.

    Mas o problema do Hamas é muito maior que um problema político porque a guerra do Hamas contra o estado de Israel é uma guerra religiosa, uma guerra sagrada que está buscando aniquilar a raça judia com o objetivo de construir um estado islâmico deles nos destroços do Estado de Israel. E não para por aí. Depois de destruir o Estado de Israel e estabelecer o Estado Islâmico, eles ainda não acreditam em barreiras políticas.

    A aspiração e o objetivo deles é estabelecer um estado islâmico a nível global, em todos os lugares. Mesmo no Brasil e na Europa. Eles acham que são a alma de Deus na Terra. Essa é a ideologia do Hamas. Eles acham que são uma força governamental que tem uma constituição islâmica que é a única força governamental que se qualifica na Terra. Isso é nazismo. O que é nazismo?

    Essa ideologia que existe apenas uma raça, uma Terra e um governante que é um governante mulçumano. Então todas as outras etnias, não apenas a judia, todas as nacionalidades, são canceladas. Para o Hamas, eles não acreditam em nacionalismo, eles não acreditam na política, não acreditam em barreiras políticas, nem na coexistência com outros países, não só Israel. Essa mentalidade, como entendemos, esse é o objetivo do Hamas.

    E, inclusive, eu não estou acusando o Hamas, essa é a carta do Hamas. Então para aqueles que querem se educar antes de julgar a situação, leia a carta do Hamas e veja o que é. Você vai ver que é isso que eles almejam. A aniquilação do Estado de Israel.

    Essa é uma guerra religiosa contra o mundo. O mundo não pode aceitar esse tipo de mentalidade. Não é sobre o Hamas estar certo e Israel errado ou vice-versa.

    Raquel Landim: Houssef, você disse que está no Brasil porque o povo brasileiro precisa entender que o Hamas não luta pela causa palestina. Você acredita que o governo brasileiro não entende isso? Que o presidente Lula não entende isso?

    Mosab Hasan Houssef: Claro, óbvio. O chefe de Estado, o presidente do Brasil, comete um erro quando compara Israel com o Hamas. Como você pode fazer essa comparação?

    Você é o presidente de uma nação de 200 milhões de pessoas, você tem responsabilidades e não pode agir emocionalmente como uma ovelha na rua.

    Você está em uma posição de liderança. Vem dessa responsabilidade antes de ser presidente de uma nação e de um país, a comparação entre um sistema democrático, a única verdadeira democracia no Oriente Médio, que tem cristãos, árabes, muçulmanos, judeus, todos os tipos de etnias vivendo sob uma constituição civil a um grupo selvagem que é bárbaro e não acredita na ordem, acredita apenas no caos, na destruição e nasceu para destruir e não para construir e criar. Não podemos comparar os dois. Não podemos dizer que a violência do Hamas e a violência de Israel, não. O ataque do Hamas é selvagem, é um genocídio.

    Esse é o segundo ponto que o povo brasileiro precisa entender. Além da posição dos políticos no Brasil, o povo brasileiro, e eu tenho muita fé no povo brasileiro, eu conheci muitos durante minha viagem e amo o Brasil e o povo. Essa é a minha mensagem: entendam que o Hamas é um grupo selvagem e não nacional.

    Segundo, o ataque de 7 de outubro contra Israel não foi guerra, violência ou terrorismo. O ataque do Hamas foi genocídio, eles se moveram, sistematicamente, de porta em porta, exterminando, matando tudo que estava na frente.

    Convido as pessoas a assistirem filmes de massacre para que entendam que o que aconteceu não é uma guerra, um combate entre dois exércitos ou dois soldados, um confronto honesto e justo.

    O que aconteceu foi um ataque que surpreendeu comunidades civis, em sua maioria fazendeiros, incluindo trabalhadores estrangeiros, mulheres, crianças e idosos. Eles apagaram tudo do caminho.

    Eles mataram tudo, queimaram tudo, estupraram mulheres, sequestraram crianças. Esse é o que define genocídio. Se o povo brasileiro entender esse ponto, que o ataque do dia 7 não foi um ataque de terror, mas sim etnicamente um extermínio do povo judeu, então eles entenderiam que Israel não teve escolha, mas teve que se defender.

    E se defender pode ser bem complicado porque o crime do hamas não foi apenas genocídio contra os judeus no 7 de outubro, mas eles também usaram barreiras humanas, seu próprio povo e suas próprias crianças tem sido usadas como barreiras humanas. Esse é o segundo crime do Hamas.

    Raquel Landim: Eles sabiam que Israel iria retaliar?

    Mosab Hasan Houssef: Claro. Para o Hamas, a estratégia deles é usar barreiras humanas. E esse é o crime imperdoável. Não apenas cometer genocídio que é o maior crime da humanidade, o genocídio não fica pior que isso. É o pico da maldade.

    Depois, usando barreiras humanas, crianças, mulheres e sabendo que civis seriam mortos, muitos civis seriam mortos. Mas o Hamas gosta dessa equação porque quando civis morrem, o mundo condena Israel e o Hamas ganha legitimidade e o Hamas mente pro mundo quando se apresentam como um grupo de resistência e uma organização liberal.

    Então o mundo pensa que eles são como Cuba, Che Guevaras, etc, então eles se identificam e “queremos ir com eles contra, resistir ao regime”. Isso é uma fantasia. A realidade é que Israel é a vítima aqui. Todas as organizações do sul foram apagadas em um genocídio.

    Raquel Landim: Mas, Houssef, nós temos vários países grandes como Estados Unidos, Canadá, muitos países europeus dizendo que Israel está tendo uma reação exagerada e precisam ter cuidado porque estão usando bombas poderosas e que os bombardeios estão indo longe demais.

    Mosab Hasan Houssef: É muito fácil estar sentado no conforto e não ter conhecimento da realidade a fundo e fazer julgamentos. Todos acham que podem julgar, mas na sala de tribunal, existe apenas um julgador e muitos criminosos e muitos.

    Somente o julgador que pode julgar é a pessoa que controla. Israel é responsável, Israel não é apenas uma pessoa, um ditador que toma a decisão de sumir com as pessoas.

    Haverá um momento que a verdade se revelará. Primeiro de tudo, o Hamas tem estatística das mortes em Gaza? É uma pergunta que precisamos nos fazer. Segundo, as fotos e vídeos que vemos vindos de Gaza. Eles vêm de Gaza ou vêm de outras séries de guerras? E depois, esse número de crianças que morreram em Gaza e quem está trazendo essa fonte? Quem está fazendo essa propaganda da guerra? Eles são reais, animados ou “photoshopped”? Então, o que vemos nas redes sociais é mesmo verdade?

    Então essa é a primeira pergunta que precisamos nos fazer. Eu não estou dizendo que não existem vítimas civis em Gaza, mas o que eu sei com certeza, o que eu sei com fatos, é que Israel dá aos palestinos de Gaza mais de 21 dias para saírem do norte de Gaza para que eles pudessem entrar e erradicar o Hamas.

    Raquel Landim: Ir aonde se a fronteira com o Egito está fechada?

    Mosab Hasan Houssef: Bom, o Hamas cavou túneis e bunkers debaixo da cidade de Gaza e as pessoas tiveram que fazer uma escolha: Sair temporariamente, perder sua propriedade, mas salvar sua vida ou ficar e morrer. Porque em uma situação como essa, Israel não pode arcar mais um ataque como o do dia 7 de outubro pelas mãos do Hamas daqui um ano. E o Hamas sabe disso. Toda a comunidade nacional sabe disso.

    Então porque o Egito não abriu a fronteira e levou alguns palestinos? Porque as Nações Unidas não ajudaram os palestinos a saírem para uma zona segura? Como podemos esperar que Israel combata o Hamas? E abrigue civis e alimentá-los. Israel teve que paralisar a economia e vida, pessoas tiveram que sair, deixar seus empregos, deixar suas mães, suspender todo o país para lutar com selvagens que cometeram genocídio em Gaza.

    Como esperamos que um país pequeno como Israel, receber um milhão de palestinos como refugiados para seu mundo, sem saber quem é mesmo o inimigo e quem é o amigo. É muito mais fácil o Egito abrir as fronteiras e receber todos os refugiados para que o Hamas fosse destruído. Seria muito mais fácil as Nações Unidas fazerem essa tarefa. Qual é o papel deles? Sentar e condenar Israel? É tudo que eles estão fazendo.

    Precisamos ser realistas. Na realidade, a prioridade número um de Israel é erradicar o Hamas. Eles enviam folhetos pelo ar, eles mandam mensagens, ligam, pela televisão, pelas redes sociais. Eles não deixaram que nenhuma mídia se comunicasse com a Gaza implorando para que os civis do norte se mudassem para o sul por 21 dias.

    Quem faz isso em uma zona de guerra? Então Israel fez tudo que estava em sua capacidade para acabar com a horrível e brutal guerra, para evitar casualidades de civis. É o Hamas e os criminosos que cultivaram riqueza e poder jogando com o sangue de crianças e civis inocentes. Esse é o jeito que eu vejo.

    Raquel Landim: Agora, nós estamos tendo uma trégua. Alguns reféns e alguns prisioneiros estão sendo liberados. Existe um caminho para a paz?

    Mosab Hasan Houssef: Estamos longe disso, infelizmente. Estamos no meio de uma guerra porque o Hamas não foi erradicado. Esta é a quarta guerra entre Israel e Hamas. E é a quinta guerra entre Gaza e Israel porque a Jihad Islâmica e outras milícias lançam ataques contra Israel.

    O que eu aprendi nas outras guerras é que toda vez que o Hamas lança um ataque contra Israel, Israel retalia, o Hamas usa escudos humanos, civis morrem e o mundo condena Israel.

    E assim, é como o Hamas pensa que ganhou, se curvando contra Israel, deslegitimando o Estado de Israel a nível global, mostrando que Israel é um Estado violento. E o mundo tende a culpar Israel e o Hamas sabe desse resultado. Todo mundo culpa Israel, ninguém culpa o Hamas.

    E esse é o jogo do Hamas. Então, na primeira Guerra, eles fizeram isso. E depois da guerra eles ganharam dinheiro e poder. Na segunda guerra, a mesma situação. E o Hamas foi crescendo e crescendo.

    E agora, a cada cessar-fogo, eles ganham legitimidade porque a democracia não deve negociar com os selvagens e com terroristas porque eles não negociam, eles não acreditam no diálogo, eles não acreditam no outro.

    Eles não acreditam na diversidade. Eles querem que seja apenas um bilhete para o inferno. Então, é assim, a democracia que acredita no outro, que acredita no processo democrático, não senta para negociar com terroristas. Agora, a democracia tem sido assim, Israel sob pressão internacional, dos Estados Unidos e das Nações Unidas, teve que se comprometer e negociar com o Hamas.

    A vitória do Hamas hoje é legítima. Eles foram legitimados. Eles se tornaram uma organização legítima do outro lado de um sistema democrático. Então eles se tornaram iguais, o que significa que a violência deles é validada e é assim que eles ganham e, se isso continuar assim, daqui um ano ou dois o Hamas será mil vezes mais forte e o próximo ataque ou a próxima guerra será muito mais mortal.

    Então, o mundo precisa escolher. Eles querem apenas tomar um remédio e escapar da realidade ou queremos tomar realidade e dizer “espera aí, erradicar o Hamas é a prioridade número um e não vamos parar.

    Devemos lutar juntos, todas as democracias, inclusive o Brasil, devem dar a Israel, como um modelo democrático, não apenas como um Estado judeu, mas como uma democracia modelo no Oriente Médio, suporte a esse modelo para combater os selvagens e dar prioridade para erradicar esses selvagens, terroristas, islâmicos, ISIS, como quiserem chamá-los, pois são ameaças a segurança global.

    Quando erradicarmos esse grupo, e isso vai levar muito mais tempo do que as pessoas estão pensando, a trégua trouxe 50 reféns de volta às suas famílias e isso é uma vitória para a humanidade, mas também é uma vitória para o Hamas. Porque o Hamas conseguiu legitimidade com isso.

    Mas quando escolhemos entre a humanidade ou uma selvageria crescente, podemos escolher a humanidade agora. Mas isso é apenas uma pequena pausa.

    Minha recomendação como alguém que conhece bem o Hamas e sabe bastante sobre Israel, minha recomendação é que Israel deve lutar mil vezes mais forte após essa trégua porque nós não temos outra opção senão erradicar os selvagens.

    Se não erradicarmos eles, nesta guerra, vamos pagar um preço bem mais caro amanhã.

    Raquel Landim: Mesmo com a morte de civis?

    Mosab Hasan Houssef: Sinto muito e vou pegar essa responsabilidade para mim, e mesmo que eu seja perseguido pela lei, eu digo que, em uma guerra, civis morrem. E é por isso que o Hamas não devia ter começado essa guerra. Se Israel tivesse começado a guerra, seria uma história diferente. Mas o Hamas começou essa guerra e Israel deve acabar com ela e, infelizmente, nas guerras, pessoas morrem, civis morrem. É por isso que a guerra é uma coisa feia. É por isso que o uso da força é o último recurso.

    Raquel Landim: Na sua visão, qual é o futuro do seu povo? No Estado Palestino, com outra liderança, qual o futuro para eles?

    Mosab Hasan Houssef: Ninguém sabe do futuro. Se continuarmos a dar legitimidade ao Hamas, o futuro continuará sendo incerto. Se erradicarmos o Hamas, o que eu sei com certeza, é que haverá uma liderança palestina mais moderada que terá aprendido que a violência é um caminho sem volta. Destruindo o Hamas, tirando eles do poder, o que será habilidade de Israel se dermos a eles a cobertura suficiente para fazer isso.

    Realizar essa tarefa pela humanidade, erradicando um grupo selvagem. Se removermos ele do poder, a sociedade palestina vai entender, talvez pela primeira vez, que o uso de violência, de bombas suicídas, mísseis, qualquer coisa, não vai dar nada ao povo palestino, apenas destruição, sofrimento, morte, dor e sofrimento.

    É isso que o povo palestino precisa entender. Uma resistência pacífica é o único jeito. No século 21, nós não estamos mais no século passado, não estamos mais na Idade Média. Se nós temos mesmo uma nação, como palestinos, e se nós queremos criar uma nação e queremos ter essa entidade palestina, o que não existe neste momento, é apenas imaginação. Se quisermos alcançar esse objetivo, precisamos construir uma nação, precisamos diminuir muito a violência e a ideia de que qualquer grupo, islâmicos, nacionalistas, não importa, devem ser completamente rejeitados pelo povo palestino.

    Digo, Yasser Arafat usou violência, não funcionou. O Hamas usou violência, não funcionou. A violência não levará os palestinos a alcancarem nenhum objetivo. Se eles tiverem esse poder de acabar com a violência, acredito que existe um futuro para os palestinos. Mas eles precisam ajustar essa ideia de matar judeus para formar um Estado Palestino. Tenho o receio de que eles nunca alcançarão esse objetivo, vão alcançar apenas uma coisa. Autodestruição.

    Raquel Landim: Para finalizar nossa entrevista, gostaria de pegar um trecho do seu livro. Você fala no começo do seu livro para sua família: “Sei que vocês me consideram um traidor, mas por favor entendam que eu não os traí, mas sim o conceito do que vocês entendem do que é um herói.” Acredita que um dia eles irão entender?

    Mosab Hasan Houssef: Agora, 20 anos depois das escolhas que eu fiz, quando eu era muito jovem, eu acredito que o mundo inteiro entende que a violência é o fim. Espero que a minha família e o povo palestino, percebam que eu fiz a escolha certa quando abri meu coração para Israel. Deixar ir. O poder de deixar ir. Hoje, Israel é minha família.

    Não é apenas um país, uma entidade política, existem muitas famílias em Israel. Eu tenho laços com pessoas incríveis e apenas humanidades. Somos todos iguais, todos uma família. Eu espero que em algum momento meus pais, talvez não em vida, mas que meus irmãos e a nova geração de palestinos possam ver que nós temos muito em comum.

    Somos todos uma família com Israel. Tudo que precisamos fazer é deixar nosso ódio e nossa raiva de lado. Deixar nossa vingança de lado porque assim só estamos nos machucando e só causa sofrimento a nós palestinos. Nosso ódio contra Israel. E Israel não odeia o povo palestino e pode ser um bom ativo para o povo palestino, para acabar com a guerra.

    Israel tem estendido sua mão por tanto tempo desde o início de sua existência para o mundo árabe, tentando apertar as mãos dos árabes e eles têm sido muito arrogantes em não apertar as mãos de Israel. As mãos sempre estiveram estendidas para o mundo árabe.

    Então, para nós, coexistirmos e vivermos em paz, nós temos que jogar fora nosso ódio e foi basicamente o que eu fiz. Se virei traidor ou herói, não importa. Ambos são impostores. É uma hipocrisia dizer “você é traidor ou você é vilão”. Eu sou indiferente, eu sou o mesmo.

    O que eu tenho certeza é que era inevitável superar meu ódio e minha raiva com Israel e é por isso que eu pertenço a Palestina e ao Estado de Israel ao mesmo tempo.

    Raquel Landim: Você nasceu em Ramallah, você espera voltar para casa um dia?

    Mosab Hasan Houssef: Eu estou em casa. Eu nunca saí de casa. Isso não significa que eu esteja lá fisicamente, mas eu me identifico com as pessoas, entendo a desilusão, entendo a condição humanitária e por quê eles precisam fazer algumas escolhas, e digo que, se queremos paz, paz interna, se quisermos mesmo aproveitar a Terra como casa, não apenas como território pequeno, se quisermos ver a humanidade como uma família de verdade, todos nós como família, precisamos abrir mão do conflito de interesses e parar de lutar por territórios.

    A luta por território é como cachorros na rua, marcando seus territórios, urinando em todos os lugares. Essa é a mentalidade animal, mas para seres com maior inteligência, chegou a hora de abrir mão para abandonar barreiras políticas. Todas as lideranças palestinas têm usado o que é chamado de “causa palestina” para ganhar dinheiro e poder.

    Eles não ligam para as pessoas. Se você olhar para a história de Yasser Arafat, ou para qualquer liderança palestina, incluindo o Hamas, eles adquiriram dinheiro, viveram uma vida de luxúria, se hospedaram em hotéis cinco estrelas, enquanto o povo de Gaza afundava na pobreza.

    Foi usado sangue por dinheiro. Então se o jogo deles é esse, isso não pode ser validado. Se eles querem ajudar o povo palestino, eles devem trabalhar para construir uma nação, devem colocar as crianças em primeiro lugar. Não com agendas ideológicas, religiosas ou políticas, mas colocando as crianças em primeiro lugar. O futuro das crianças. Quando começarem a pensar assim, veremos a diferença.

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