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    Guerra na Ucrânia: Putin quer cessar-fogo com linhas de frente atuais, dizem fontes

    Entretanto, presidente da Ucrânia afirmou diversas vezes que não aceitaria acordo nesses moldes

    Tanque com a letra Z em Volnovakha, que caiu sob o controle da Rússia
    Tanque com a letra Z em Volnovakha, que caiu sob o controle da Rússia Foto: Sefa Karacan/Agência Anadolu via Getty Images

    Guy FaulconbridgeAndrew Osbornda Reuters

    O presidente da Rússia, Vladimir Putin, está pronto para um cessar-fogo na guerra na Ucrânia, com um acordo que mantenha as fronteiras das linhas atuais do campo de batalha, disseram quatro fontes russas à Reuters.

    Entretanto, as fontes pontuaram que ele está preparado para lutar se a Ucrânia e o Ocidente não responderem.

    Três das pessoas ouvidas pela reportagem, familiarizadas com as discussões na comitiva de Putin, destacaram que ele expressou frustração a um pequeno grupo de conselheiros pelo que entende como tentativas apoiadas pelo Ocidente de impedir as negociações.

    Também teria ficado frustrado com a decisão do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, de descartar as negociações.

    “Putin pode lutar pelo tempo que for necessário, mas também está pronto para um cessar-fogo — para congelar a guerra”, afirmou uma fonte russa sênior que trabalhou com o presidente e tem conhecimento das conversas de alto nível no Kremlin.

    O porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, em resposta a um pedido de comentário, disse que o chefe do Kremlin havia deixado claro outras vezes que a Rússia estava aberta ao diálogo para atingir seus objetivos, ressaltando que o país não quer “guerra eterna”.

    Os ministérios das Relações Exteriores e da Defesa da Ucrânia não retornaram.

    Ganhos seriam suficientes para “vender vitória”

    Analistas militares e políticos entenderam a nomeação do economista Andrei Belousov como ministro da Defesa da Rússia, na semana passada, como uma forma de colocar a economia russa em um pé de guerra permanente para vencer um conflito prolongado.

    Isso ocorreu após a pressão constante no campo de batalha e os avanços territoriais da Rússia nas últimas semanas.

    Entretanto, as fontes observaram que Putin preferiria usar o atual momento da Rússia para deixar a guerra para trás. Elas não comentaram diretamente sobre o novo ministro da Defesa.

    Com base em seu conhecimento das conversas nos altos escalões do Kremlin, duas das fontes afirmaram que Vladimir Putin entende que os ganhos na guerra até agora seriam suficientes para vender uma vitória ao povo russo.

    Isso mesmo que a guerra na Ucrânia, o maior conflito terrestre da Europa desde a Segunda Guerra Mundial, tenha custado dezenas de milhares de vidas de ambos os lados e levado a sanções ocidentais abrangentes contra a economia da Rússia.

    Militares ucranianos disparam contra tropas russas na linha de frente na região de Kharkiv, na Ucrânia / 16/05/2024 REUTERS/Valentyn Ogirenko

    Três fontes disseram que Putin compreende que quaisquer novos avanços significativos no território ucraniano exigiriam outra mobilização nacional, o que ele não quer.

    Uma das pessoas ouvidas, que conhece o presidente russo, ressaltou que sua popularidade caiu após a primeira mobilização militar, em setembro de 2022.

    A convocação nacional assustou parte da população da Rússia, fazendo com que centenas de milhares de homens em idade de alistamento deixassem o país. As pesquisas mostraram que a popularidade de Putin caiu vários pontos na ocasião.

    O porta-voz Dmitry Peskov comentou que a Rússia não tinha necessidade de mobilização e que, em vez disso, estava recrutando contratados voluntários para as Forças Armadas.

    Perspectiva remota de paz

    Mesmo assim, a perspectiva de um cessar-fogo, ou mesmo de conversas de paz, parece atualmente remota.

    Zelensky, por sua vez, tem dito que a paz nos termos de Putin não tem chance de acontecer.

    Ele prometeu retomar o território perdido, incluindo a Crimeia, que a Rússia anexou em 2014. Ele assinou um decreto em 2022 que declarou formalmente que qualquer conversa com Putin seria “impossível”.

    Uma das fontes prevê que nenhum acordo aconteça enquanto Zelensky estiver no poder, a menos que a Rússia o contornasse e fechasse um acordo com os Estados Unidos.

    No entanto, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, falando em Kiev na semana passada, disse aos repórteres que não acreditava que Putin estivesse interessado em negociações sérias.

    Putin quer manter território conquistado

    Todas as fontes sugeriram que Putin quer garantir quaisquer ganhos no campo de batalha em um acordo.

    No entanto, o presidente estaria disposto a “se contentar” com as terras que tem agora e congelar o conflito nas linhas de frente atuais, destacaram.

    “Putin dirá que vencemos, que a Otan nos atacou e que mantivemos nossa soberania, que temos um corredor terrestre para a Crimeia, o que é verdade”, declarou uma das fontes, apresentando sua própria análise.

    Parar o conflito nos moldes atuais deixaria a Rússia em posse de partes substanciais de quatro regiões ucranianas, que foram formalmente incorporadas à Rússia em setembro de 2022, mas que seu Exército não possui controle total de nenhuma delas.

    Esse quadro ficaria aquém das metas que Moscou estabeleceu anteriormente, quando disse que as quatro regiões da Ucrânia de Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson agora pertenciam a ela em sua totalidade.

    Peskov destacou que não poderia haver nenhum ponto sobre devolver as quatro regiões que agora eram permanentemente parte da Rússia, de acordo com sua própria constituição.

    Todas as fontes citadas nesta reportagem falaram sob condição de anonimato, dada a sensibilidade do assunto.

    Para essa matéria, a Reuters falou com cinco fontes que trabalham ou trabalharam com Putin em um nível sênior nos mundos político e empresarial. A quinta fonte não comentou sobre o congelamento da guerra nas linhas de frente atuais.