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    Guerra na Ucrânia impactou diretamente a ordem mundial, avalia especialista

    À CNN Rádio, Denilde Holzhacker explica que o conflito acelerou um processo de polarização entre Estados Unidos e China

    Bel CamposNicole Fuscoda CNN

    em São Paulo

    Seis meses após o início do conflito entre Rússia e Ucrânia, o momento é de ainda mais incertezas, avalia Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da ESPM.

    Inicialmente, acreditava-se que Vladimir Putin encerraria a guerra em questão de poucas semanas. No entanto, a população ucraniana resistiu, e os russos decidiram concentrar suas batalhas no leste e no sul do país.

    “Não há, dos dois lados, nenhuma indicação de que o conflito terá um final no curto prazo a partir de uma negociação ou de um empenho diplomático. A expectativa, então, é que ele continue durante o inverno europeu, o que levará a várias complicações”, afirma a professora em entrevista à CNN Rádio, acrescentando que não é possível estimar até quando o conflito vai durar e nem como vai terminar.

    Na análise de Holzhacker, nesses 180 dias, a guerra teve impacto direto na ordem mundial, ao configurar dois grandes blocos, sendo um liderado pelos Estados Unidos e outro pela China.

    “Apesar de o apoio chinês [à Rússia] não ser tão enfático, ela garantiu para a Rússia um acesso econômico e fez com que os embargos americanos e europeus tivessem efeito menor. Então isso deu uma sobrevida para os russos”, explica.

    “Por outro lado, a gente percebe um fortalecimento da aliança entre os Estados Unidos e a Europa. Um efeito da guerra foi o reordenamento dessa aliança importante para os americanos e também um realinhamento entre os próprios europeus, que estavam em um momento de dificuldade em conciliar interesses”, adiciona.

    Nesse sentido, para Denilde Holzhacker, fica demarcado um confronto entre China e Estados Unidos pela liderança global, o que afeta outras nações.

    “Se aumentar a tensão entre essas duas grandes potências, países como o Brasil vão ser pressionados para que se defina qual é o seu lado, o que complica no nosso posicionamento”, diz.

    Outro ponto destacado pela professora é o protagonismo das organizações internacionais. “Elas vinham de um processo de esvaziamento, que ganhou dinamismo não do ponto de vista militar, mas do papel humanitário e o quanto a Organização das Nações Unidas (ONU) foi essencial para assumir esse papel e a frente principalmente na questão dos refugiados”, ressalta.

    Sanções e poder de barganha

    A especialista avalia que as sanções impostas à Rússia terão um forte impacto no crescimento econômico do país, citando previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI).

    Ainda assim, ela observa que “a Rússia sofre sanções desde a anexação da Crimeia, então ela é um país que já estava numa situação econômica de limitações da sua atuação”.

    “Por outro lado, Putin vem usando a seu favor a questão do abastecimento de energia, de gás para a Europa, e isso dá para ele poder de barganha forte, porque há dependência de países europeus, principalmente da Alemanha”, avalia.

    “Mas, com o apoio chinês, a Rússia permaneceu capaz de vender tanto gás quanto petróleo para outros países, não só para os europeus. Dentro dessa lógica, ela conseguiu se equilibrar”, pontua.

    Holzhacker também ressalta o apoio interno que Putin vem recebendo: “Quando a gente acompanha a mídia russa, se percebe que há forte nacionalismo, e isso dá sustentação para o governo dele”.

    “A propaganda que é feita pelo governo, de que a Rússia está sofrendo uma pressão externa e o país tem que se unir e garantir a sobrevivência contra esse inimigo, é muito forte, o que garante a ele uma sustentação e uma capacidade de atuação ainda muito relevante”, conclui a professora.