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    Guerra de Israel: Como comandante do Hamas planejou ataque ao país

    Foi em maio de 2021, após um ataque ao terceiro local mais sagrado do Islã que enfureceu o mundo árabe e muçulmano, que Mohammed Deif começou a planejar a operação

    Samia Nakhoul Laila Bassamda Reuters

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    Israel chama o ataque devastador do Hamas no último sábado (7) de seu momento 11 de Setembro. O mentor reservado por trás do ataque, o militante palestino Mohammed Deif, o chama de Dilúvio de Al-Aqsa.

    A frase que o homem mais procurado de Israel usou em um áudio transmitido enquanto o Hamas disparava milhares de foguetes da faixa de Gaza no sábado indicava que o ataque era uma vingança pelos ataques israelenses à mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém.

    Foi em maio de 2021, após um ataque ao terceiro local mais sagrado do Islã que enfureceu o mundo árabe e muçulmano, que Deif começou a planejar a operação que matou 1.200 pessoas em Israel e feriu mais de 2.700 até esta quarta-feira (11), afirmou uma fonte próxima ao Hamas.

    “Isso foi desencadeado por cenas e imagens de Israel invadindo a mesquita de Al-Aqsa durante o Ramadã, batendo nos fiéis, atacando-os, arrastando idosos e jovens para fora da mesquita”, disse a fonte em Gaza. “Tudo isso alimentou e acendeu a raiva.”

    Essa invasão do complexo da mesquita, que há muito tempo é um foco de violência por questões de soberania e religião em Jerusalém, ajudou a desencadear 11 dias de combates entre Israel e o Hamas.

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    Mais de dois anos depois, o ataque de sábado, a pior violação das defesas israelenses desde o conflito árabe-israelense de 1973, levou Israel a declarar guerra e lançar ataques aéreos de retaliação em Gaza.

    Israel também disse nesta quarta-feira (10) que matou pelo menos 1.000 palestinos armados que se infiltraram a partir de Gaza.

    Sobrevivente de sete tentativas de assassinato israelense, a mais recente em 2021, Deif raramente fala e nunca aparece em público. Portanto, quando o canal de TV do Hamas anunciou que ele estava prestes a falar no sábado, os palestinos sabiam que algo significativo estava acontecendo.

    “Hoje a fúria de Al-Aqsa, a fúria de nosso povo e nação está explodindo. Nossos mujahedeen (combatentes), hoje é o seu dia para fazer esse criminoso entender que seu tempo acabou”, disse Deif na gravação.

    Há apenas três imagens de Deif: uma de seus 20 anos, outra dele mascarado e uma imagem de sua sombra, que foi usada quando a fita de áudio foi transmitida.

    O paradeiro de Deif é desconhecido, embora seja provável que ele esteja em Gaza, no labirinto de túneis sob o enclave. Uma fonte de segurança israelense afirmou que Deif estava diretamente envolvido no planejamento e nos aspectos operacionais do ataque.

    Fontes palestinas disseram que uma das casas atingidas pelos ataques aéreos israelenses em Gaza pertencia ao pai de Deif. O irmão de Deif e dois outros membros da família foram mortos, segundo as fontes.

    Dois cérebros, um mentor

    A fonte próxima ao Hamas disse que a decisão de preparar o ataque foi tomada em conjunto por Deif, que comanda as Brigadas Al Qassam do Hamas, e Yehya Sinwar, líder do Hamas em Gaza, mas ficou claro quem foi o arquiteto.

    “Há dois cérebros, mas há um mentor”, declarou a fonte, acrescentando que as informações sobre a operação eram conhecidas apenas por alguns líderes do Hamas.

    O sigilo era tal que o Irã, inimigo declarado de Israel e importante fonte de financiamento, treinamento e armamento para o Hamas, sabia apenas em termos gerais que o movimento estava planejando uma grande operação e não sabia o momento nem os detalhes, disse uma fonte regional familiarizada com o pensamento do grupo.

    A fonte disse que, embora Teerã estivesse ciente de que uma grande operação estava sendo preparada, ela não foi discutida em nenhuma sala de operação conjunta envolvendo o Hamas, a liderança palestina, os militantes libaneses apoiados pelo Irã do Hezbollah e o Irã.

    “Era um círculo muito fechado”, contou a fonte.

    A autoridade máxima do Irã, aiatolá Ali Khamenei, disse na terça-feira que Teerã não estava envolvido no ataque a Israel. Washington afirmou que, embora Teerã fosse cúmplice, não tinha nenhuma inteligência ou evidência que apontasse para a participação direta do Irã nos ataques.

    Veja também – Análise: Israel faz ataques aéreos contra mesquitas em Gaza

    O plano concebido por Deif envolveu um esforço prolongado de engano. Israel foi levado a acreditar que o Hamas não estava interessado em iniciar um conflito e, em vez disso, estava concentrado no desenvolvimento econômico de Gaza, onde o movimento é o poder governante.

    Mas, enquanto Israel começava a oferecer incentivos econômicos aos trabalhadores de Gaza, os combatentes do grupo estavam sendo treinados e preparados, muitas vezes à vista dos militares israelenses, segundo uma fonte próxima ao Hamas.

    “Estamos nos preparando para essa batalha há dois anos”, disse Ali Baraka, chefe de relações externas do Hamas.

    Falando com voz calma, Deif disse na gravação que o Hamas havia advertido repetidamente Israel para que parasse com seus crimes contra os palestinos, libertasse os prisioneiros, que ele disse terem sido abusados e torturados, e parasse com a expropriação de terras palestinas.

    “Nas sombras”

    Há mais de um ano, tem havido turbulência na Cisjordânia, uma área com cerca de 100 km de comprimento e 50 km de largura que está no centro do conflito israelense-palestino desde que foi tomada por Israel em 1967.

    Deif disse que o Hamas pediu à comunidade internacional que pusesse um fim aos “crimes da ocupação”, mas Israel intensificou suas provocações. Ele também disse que, no passado, o Hamas pediu a Israel um acordo humanitário para libertar os prisioneiros palestinos, mas isso foi rejeitado.

    Nascido como Mohammad Masri em 1965 no Campo de Refugiados de Khan Yunis, criado após a Guerra Árabe-Israelense de 1948, o líder militante ficou conhecido como Mohammed Deif depois de se juntar ao Hamas durante a primeira Intifada, ou revolta palestina, que começou em 1987.

    Ele foi preso por Israel em 1989 e passou cerca de 16 meses na prisão, segundo uma fonte do Hamas.

    Deif se formou em ciências pela Universidade Islâmica de Gaza, onde estudou física, química e biologia. Ele demonstrou afinidade com as artes, liderando o comitê de entretenimento da universidade e atuando no palco em comédias.

    Subindo na hierarquia do Hamas, Deif desenvolveu a rede de túneis do grupo e sua experiência na fabricação de bombas. Ele está no topo da lista dos mais procurados de Israel há décadas, sendo considerado pessoalmente responsável pela morte de dezenas de israelenses em atentados suicidas.

    Para Deif, permanecer na sombra tem sido uma questão de vida ou morte. Fontes do Hamas disseram que ele perdeu um olho e sofreu ferimentos graves em uma perna em uma das tentativas de assassinato de Israel.

    Sua esposa, seu filho de 7 meses e sua filha de 3 anos foram mortos por um ataque aéreo israelense em 2014.

    Sua sobrevivência enquanto comanda o braço armado do Hamas lhe rendeu o status de herói palestino. Nos vídeos, ele aparece mascarado ou apenas uma sombra dele é vista.

    Ele não usa tecnologia digital moderna, como smartphones, disse a fonte próxima ao Hamas: “Ele é o homem das sombras”.

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