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    Guerra cultural comunista de Xi Jinping chega aos campi da China

    Universidades se tornaram focos de atenção do presidente chinês às vésperas do aniversário de 100 anos do Partido Comunista

    James Griffiths, CNN

     

    O presidente chinês Xi Jinping
    O presidente chinês Xi Jinping
    Foto: Xinhua/Ju Peng/ Reprodução

      Quando se trata de fazer história, as universidades de Pequim têm desempenhado um papel fundamental: surgiram delas as manifestações que deram início ao Movimento Quatro de Maio, do qual o Partido Comunista Chinês tem suas raízes, e os protestos da Praça Tiananmen, talvez o maior desafio ao PCC desde que assumiu o poder.

    Faz sentido que o presidente Xi Jinping, enquanto busca consolidar ainda mais seu governo antes do centenário do Partido no final deste ano, preste atenção especial às melhores escolas do país.

    Em uma visita à Universidade de Tsinghua nesta semana, Xi elogiou a instituição de Pequim por cultivar uma “gloriosa tradição de patriotismo” e encorajou os alunos a serem “vermelhos e profissionais”, uma frase da era Mao Zedong.

    “Seja firme em suas crenças, sempre esteja com o Partido e com o povo, seja um crente firme e um praticante fiel do socialismo com características chinesas”, disse Xi, acrescentando que “uma flor esplêndida desabrocha na luta incessante”.

     Junto com várias outras instituições de elite de Pequim, Tsinghua é uma das melhores universidades da China e espera-se que os graduados ocupem cargos importantes no governo e nos negócios no futuro.

    Se o Partido quiser manter seu domínio ideológico sobre o país, dependerá dessa próxima geração de pensadores para seguir a liderança da coorte de Xi. O próprio líder chinês foi aluno de Tsinghua nos anos 1970, mas sua educação foi interrompida pela Revolução Cultural. O período de uma década foi marcado por uma convulsão política e social sangrenta, iniciada pelas tentativas de Mao de fortalecer o controle do Partido e do país.

    Milhares de pessoas foram mortas num combate que se aproximava de uma guerra civil, enquanto outros milhões foram deslocados e traumatizados após a sociedade ao seu redor desmoronar.

    Após a morte de Mao, a Revolução Cultural acabou com a fé de muitas pessoas no comunismo, após reformas capitalistas e abertura, um dos principais proponentes das quais foi o pai de Xi, Xi Zhongxun, que junto com o futuro líder supremo Deng Xiaoping foi expurgado várias vezes durante os anos de Mao.

    Partido Comunista Chinês
    Reunião anual do Partido Comunista Chinês em maio de 2020
    Foto: REUTERS

    Hoje, enquanto o governo de Xi se prepara para as comemorações do grande centenário, os eventos de 1966-76 são -como quaisquer outras manchas no histórico do Partido Comunista- esquecidos.

    Sob o comando de Xi, o líder chinês mais poderoso desde o próprio Mao, o Partido está novamente em ascensão, assumindo um papel ativo em todos os níveis da sociedade. Este mês, Pequim lançou uma campanha para promover o estudo correto da “história do Partido” e erradicar o “niilismo histórico”, isto é, a discussão da história de uma forma que não se conforma com a linha oficial.

    A data de 15 de abril marcou o sexto Dia da Educação para a Segurança Nacional da China, evento marcado por comícios e celebrações na China continental que ocorreu pela primeira vez em Hong Kong. Enquanto a polícia marchava, crianças foram incentivadas a comprar brinquedos de pelúcia da tropa de choque.

    Nem tudo na campanha foi tão fofinho. Segundo comunicado publicado na mídia estatal continental, o governo alertava às pessoas a ficarem de olho em espiões estrangeiros, incluindo aqueles que pareciam estudantes universitários e professores, porque “poderia estar tentando roubar informações ou incitar a deserção”.

    A academia já passou por um escrutínio maior sob Xi, com grupos de estudantes e professores sendo reprimidos, publicando seus estudos em universidades estrangeiras e até enfrentaram sanções por publicar trabalhos críticos das ações de Pequim em Xinjiang.

    Num artigo sobre “niilismo histórico” publicado nesta semana por David Ownby, o historiador observou que a frase foi empregada no passado “para condenar historiadores, estudiosos ou qualquer pessoa que ouse desafiar a ortodoxia”. Segundo Ownby isso pode ser um prelúdio para mais repressão aos intelectuais e críticos do Partido.

     Em um discurso no início deste ano, Xi advertiu que “as forças hostis no país e no exterior fazem uso da história da revolução chinesa e da história da nova China, fazendo o possível para atacar, difamar e caluniar, com o objetivo fundamental de incitar a derrubada da liderança do Partido Comunista da China e de nosso sistema socialista”.

    Numa matéria de primeira página na semana passada no Diário do Povo, o porta-voz oficial do Partido Comunista apresentou uma campanha abrangente de propaganda para o resto do ano antes do centenário, sob o tema “Para Sempre Seguindo o Partido”.

    A campanha inclui 80 novos slogans, como “Unidade é força, somente com unidade podemos avançar” e “Unindo em torno do Comitê Central do Partido com o camarada Xi Jinping como o núcleo, conquistando uma nova vitória na construção abrangente de um moderno estado socialista. “

    De acordo com o China Media Project da Universidade de Hong Kong, a “divulgação de cima para baixo de tais slogans para amplas campanhas de propaganda nacional não era vista na China pós-reforma antes de 2019”.

    A campanha também não se limitará às esferas educacionais ou políticas: de acordo com a nova orientação divulgada este mês pela Administração Nacional de Rádio e Televisão da China – o maior censor cultural do país – “as organizações de rádio e televisão em todos os níveis devem fortalecer a liderança geral do Partido. “

    As empresas também, mesmo aquelas que são nominalmente privadas, também estão sob intensa pressão para apoiar a linha do governo em Xinjiang e outras questões, ou enfrentam um potencial boicote ou punição.

    Até Wen Jiabao, o ex-premiê da China, foi censurado esta semana quando publicou um ensaio sobre sua falecida mãe que continha o que muitos viram como uma crítica oblíqua à direção que o país está tomando sob Xi.

    Essas críticas são cada vez mais raras nos dias de hoje, à medida que o Partido se prepara para festejar seu centenário com uma demonstração de força absoluta, para que ninguém duvide de que ainda existirá por mais 100 anos.

    (Texto traduzido. Clique aqui para ler a versão em inglês)

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