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    Governos de esquerda ganham espaço na América do Sul

    Novos presidentes já enfrentam insatisfação dos eleitores

    Everton SouzaRenata SouzaDenise Ribeiroda CNN em São Paulo

    Em São Paulo, dois dias antes das eleições na Colômbia, o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu votos para o candidato de esquerda colombiano, Gustavo Petro, solicitando que a plateia repetisse em coro suas frases.

    Petro foi para o segundo turno das eleições presidenciais colombianas em primeiro lugar, com 40% dos votos, seguido pelo empresário populista Rodolfo Hernandez, com 27% dos votos.

    Nunca antes na história a Colômbia teve um presidente esquerdista. Segundo especialistas, isso não acontecia por dois motivos: o assassinato de alguns candidatos por paramilitares e a imagem ruim que esse campo político tinha na população, sempre associada a grupos guerrilheiros. Desta vez, os eleitores parecem mudar de opinião, já que Petro é um ex-membro de um movimento de guerrilha.

    A esquerda já conseguiu avançar em vários países sul-americanos nas últimas eleições. Em 2019 Alberto Fernández venceu Mauricio Macri, eleito presidente da Argentina no 1º turno.

    No Peru, o professor rural Pedro Castillo venceu a candidata Keiko Fujimôri, filha do ex-presidente Alberto Fujimori, em junho no ano passado numa eleição acirrada.

    Em dezembro, no Chile, o deputado e ex-líder estudantil Gabriel Boric venceu o advogado José Antonio Kast. Todos esses países eram governados pela direita.

    Mas esse professor de Relações Internacionais acredita que o sucesso da esquerda não tem a ver necessariamente com ideologia política.

    “O eleitor médio não costuma votar com base em ideologia, o eleitor costuma buscar respostas concretas para os problemas que eles estão passando. Eu acho que a questão da pandemia, da inflação, todos esses elementos estão levando o eleitor médio a buscar um conforto material, algum tipo de questão de melhoria das suas questões sociais. E aí quando os temas sociais entram na frente, candidatos de esquerda estão mais aptos a capturar esse discurso, porque esse é um discurso típico da esquerda, da esquerda latino-americana”, explica Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais da FAAP.

    Uma vez no poder, a realidade é outra. Na Argentina, Alberto Fernández enfrenta protestos por causa de uma crise econômica que parece interminável. O motivo: uma inflação de 60% nos últimos 12 meses, somada a uma das maiores taxas de juros do mundo.

    No Chile, recentes manifestações também relacionadas à piora da economia. A inflação é a maior dos últimos 13 anos e previsão de baixo crescimento do PIB.

    Ainda assim, existe uma possibilidade da formação de um bloco de esquerda na América do Sul?

    “Eu acho que nesse sentido as eleições brasileiras são cruciais, mas eu não vejo mais neste espaço ‘hiperideologizado’ de polarização política, espaço para algum tipo de grupamento de bloco baseado em alguma questões ideológicas. Vamos lembrar que a situação hoje é bem diferente do que a de alguns anos atrás. Hoje em dia os países que estão com problemas domésticos profundos tendem mais a olhar muito mais detidamente para suas questões domésticas do que internacionais”, conclui Poggio.

    “Plano da ilusão”, diz especialista sobre bloco de esquerda na América do Sul

    Em entrevista à CNN, o coordenador de análise estratégica de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), Alberto Pfeifer, avaliou como ilusória a possibilidade de formação de um bloco de esquerda na América do Sul.

    “Ficará no plano da ilusão. Ela pode ser até um movimento de amarração inicial, mas sem grande consistência interna para alterar a lógica produtiva da América do Sul nesses novos tempos”, afirmou.

    “Um bloco de democracias, na América do Sul, de esquerda, poderia ser repensado como um bloco de demagogias. Aparentemente, quem promete mais e oferece as possibilidades mais mirabolantes ganha a próxima eleição, seja de esquerda, seja de direita”, avaliou Pfeifer.

    O internacionalista apontou ainda uma tendência mundial de crescimento de candidatos ligados às massas.

    “Cenário político na América do Sul, no mundo em geral, é um cenário de polarização. E de candidatos que fogem de partidos tradicionais e desenvolvem agendas próprias nessa linha mais conhecida como ‘populismo’”, explicou.

    Diante deste cenário, Pfeifer analisou a situação do Brasil, representada pela figura do ex-presidente Lula.

    “O próprio PT sofreu um processo de conversão depois da Lava Jato, do escândalo todo de corrupção, e, basicamente, hoje é Lula que é o PT.”