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    Governo da Índia investiga site falso que “vendia” mulheres muçulmanas

    Mais de 100 fotos de escritoras, influenciadoras e até da ganhadora do prêmio Nobel Malala Yousafzai foram postadas na página

    Pessoa preenche dados do cartão em computador
    Pessoa preenche dados do cartão em computador Foto: Shutterstock (20.jun.2020)

    Diksha Madhokda CNN

    O governo indiano afirmou que está investigando um site que supostamente oferecia mulheres muçulmanas à venda. Essa é a segunda vez em menos de um ano que um leilão online falso desse tipo gera indignação no país.

    O site foi criado no GitHub, uma plataforma de codificação americana que desenvolvedores usam para construir e hospedar software.

    Ele era chamado de “Bulli Bai”, uma frase que combina gíria vulgar do Sul da Índia para a palavra “pênis” com uma palavra comum no Norte do país que significa “empregada doméstica”, de acordo com Mohammed Zubair, cofundador do site indiano de checagem de fatos Alt News.

    Zubair disse à CNN Business que o site postou fotos de 100 mulheres muçulmanas, e que ele fez capturas de telas de todas elas antes de serem deletadas.

    A página foi removida desde então, e não há indicação de que ela tivesse qualquer uso prático além de usar um leilão falso para assediar e “trollar” mulheres muçulmanas.

    O GitHub, que pertence à Microsoft, disse que derrubou uma conta após as denúncias.

    “O GitHub tem políticas de longa data contra conteúdo e conduta envolvendo assédio, discriminação e incitação à violência”, disse um porta-voz. “Suspendemos uma conta de usuário após a investigação de denúncias de tal atividade, todas as quais violam nossas políticas”, finalizou.

    De acordo com Zubair – que está ajudando a polícia na investigação – a página incluia fotos da ganhadora do Nobel Malala Yousafzai e da proeminente atriz indiana Shabana Azmi.

    Várias jornalistas e ativistas do país também postaram capturas de tela do site depois de encontrar suas fotos listadas ao lado das palavras “Seu ‘Bulli Bai’ do Dia é”.

    A página causou indignação no Twitter no fim de semana. Políticos de partidos de oposição pediram que o partido governante, o Bharatiya Janata (BJP), tome medidas sobre o assédio online contra as mulheres muçulmanas.

    “’Vender’ alguém online é um crime cibernético e peço à polícia que tome medidas imediatas”, tuitou o líder do Congresso Shashi Tharoor. “Os agressores merecem uma punição exemplar e condigna”, complementou.

    No domingo (2), o ministro de tecnologia da Índia, Ashwini Vaishnaw, tuitou que o governo “está trabalhando com organizações policiais em Delhi e Mumbai neste assunto”.

    “Todo o site parece ter sido projetado com a intenção de embaraçar e insultar as mulheres muçulmanas”, escreveu a jornalista Ismat Ara em uma queixa apresentada às autoridades de segurança cibernética da polícia de Delhi.

    Ara, que encontrou sua foto no site, tuitou uma cópia de sua denúncia policial.


    Esta não é a primeira vez que mulheres muçulmanas na Índia enfrentam esse tipo de assédio online. Em julho passado, fotos de mais de 80 mulheres – incluindo jornalistas, escritoras e influenciadoras – foram postadas em um aplicativo simulado chamado Sulli Deals, um termo depreciativo para mulheres muçulmanas normalmente usado por homens hindus de direita.

    Os usuários tiveram a chance de “comprar” mulheres como mercadorias em um leilão no site, que também foi hospedado no GitHub.

    À época, mulheres muçulmanas disseram à CNN que o abuso online que estão enfrentando é um indicativo do sentimento em relação aos integrantes dessa religião na Índia desde que o partido hindu-nacionalista BJP, o qual o primeiro-ministro Narendra Modi faz parte, chegou ao poder, em 2014.

    Nos últimos anos, os relatos de crimes de ódio contra os muçulmanos aumentaram, e vários estados governados pelo BJP aprovaram uma legislação que, segundo os críticos, contribuiu para o aumento da polarização religiosa.

    Neste fim de semana, uma usuária do Twitter chamada Hiba Bég disse que suas fotos foram usadas nos dois casos.

    “Eu me censurei, quase não falo mais aqui, mas, ainda assim, estou sendo vendida online, estou sendo feita como ‘negócio’”, ela tuitou. “Quantas ofertas online serão necessárias para vermos a ação?”, finalizou.

    Esha Mitra, Rhea Mogul e Swati Gupta contribuíram para esta reportagem

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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