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    Gorbachev tinha ideias de política externa alinhadas com Putin, diz pesquisador

    Cesar Albuquerque, da USP, disse à CNN que o último líder da URSS se ressentia com a perda de protagonismo político da Rússia após o fim da Guerra Fria

    Ramana Rechda CNN*

    Apesar de ter promovido a abertura da União Soviética no fim da Guerra Fria, o ex-líder da União Soviética (URSS) Mikhail Gorbachev estava alinhado com as decisões de política externa da Rússia de hoje, diz o doutorando e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Cesar Albuquerque.

    Agências de notícias russas anunciaram ontem, 30, a morte do último líder da URSS, aos 91 anos em Moscou.

    Segundo Albuquerque, em entrevista à CNN Rádio, Gorbachev compartilhava da visão de que o Ocidente estava contra a Rússia.

    O pesquisador explica que o ex-político acreditava que os países ocidentais não haviam aproveitado as bases lançadas pelo seu plano Perestroika para aproximação e cooperação entre os dois lados.

    Pelo contrário, Gorbachev pensava que o lado vencedor havia preferido manter a Rússia em posição secundária.

    “Ele [Gorbachev] vê a atuação do Putin mais como responsiva às hostilidades do Ocidente e como uma tentativa de retomar um papel de protagonista que a Rússia teria por direito”, comenta Albuquerque.

    Gorbachev se mostrou favorável, por exemplo, à participação russa na Guerra da Síria. Tampouco, o último líder da URSS criticou a anexação da Crimeia e o confronto armado entre Georgia e a Rússia, de acordo com Albuquerque.

    No entanto, o doutorando ressalta que o ex-líder não chegou a se manifestar sobre o recente conflito com a Ucrânia por conta de sua saúde já deteriorada. Além disso, o político perdeu o espaço na mídia russa devido a suas críticas à política doméstica do atual presidente Vladimir Putin.

    Gorbatchev rompeu com a atuação interna do governo de Putin a partir de 2010, criticando retrocessos democráticos e no sistema político da Rússia, conta Albuquerque. Na época, ocorreriam protestos no país contra supostas fraudes nas eleições parlamentares. As manifestações também foram marcadas por fortes críticas à corrupção.

    Ao assumir o poder, porém, Putin tinha o apoio de Gorbachev, lembra Albuquerque. “Ele comungava com o sentimento da população russa de que Putin seria responsável pela estabilização e recuperação política e econômica da Rússia internamente e, depois, pela retomada de protagonismo no cenário internacional.”

    Protagonismo de Gorbachev na dissolução da URSS

    A abertura da URSS durante a Guerra Fria promovida pelo governo de Gorbachev se baseou na “necessidade de sinais claros de mudança tanto no funcionamento do sistema político, que sofria críticas fora e dentro do bloco, e da área econômica que precisava de modernização e retomada do crescimento econômico frente à competição com os países capitalistas”, conforme Albuquerque.

    O pesquisador explica que Gorbachev calculou que seria melhor dar início aos planos de abertura antes de uma crise final quando não teria mais condições de promover reformas.

    Mas, Albuquerque ressalta que essa abertura era contornável na época. Isso porque o país ainda crescia a taxas de 2%, 3% ao ano. A porcentagem representava um sinal de estagnação frente ao crescimento na casa de dois dígitos de anos anteriores.

    “O Gorbatchev teve protagonismo em tentar modificar esse cenário antes de uma derrocada final em que o sistema não tivesse mais qualquer condição de ser reformado e caísse por si só”, analisa Albuquerque.

    Pela participação no processo que levou ao fim da Guerra Fria, Mikhail Gorbachev recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1990.

    *Sob supervisão de Camila Olivo