González foi advertido de que carta acatando vitória de Maduro era segredo de Estado, diz defesa
Em entrevista à CNN, advogado do opositor disse que não sabia da existência do documento assinado por seu cliente
O advogado do opositor Edmundo González, José Vicente Haro, disse, nesta quinta-feira (19), que o ex-candidato presidencial da Venezuela foi advertido por integrantes do governo de Nicolás Maduro de que a assinatura da carta em que acatava a sentença judicial que ratificava a reeleição do presidente venezuelano era um “segredo de Estado”.
Em entrevista por telefone à CNN, Haro disse que o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, e a vice-presidente de Maduro, Delcy Rodríguez, não permitiram que a defesa de González soubesse ou participasse da reunião de assinatura da carta, na residência do embaixador espanhol em Caracas, onde o opositor estava asilado.
“O senhor Edmundo foi advertido de que seriam documentos classificados, considerados confidenciais, inclusive segredo de Estado”, garantiu o advogado à reportagem.
“De fato, não permitiram a presença do seu advogado, da minha pessoa, na embaixada. Se eu estivesse aí não teria consentido de modo o que estavam obrigando o senhor Edmundo a assinar sob pressão e coação, e teria atuado”, afirmou à CNN.
Haro, que previamente tinha negado a assinatura de qualquer documento para que González pudesse sair da Venezuela rumo à Espanha, onde está asilado, garantiu ter sabido da reunião e da assinatura da carta somente após o vazamento da informação nesta quarta-feira (18), inicialmente em redes, e com a divulgação dos detalhes pelo próprio Jorge Rodríguez em coletiva de imprensa.
A carta, dirigida a Jorge Rodríguez, expressa que González não concorda mas acata a sentença do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) que ratificou a suposta vitória de Maduro nas eleições presidenciais de 28 de julho, com mais de 51% dos votos.
“Sempre estive e continuarei disposto a reconhecer e acatar as decisões adotadas pelos órgãos de justiça no contexto da Constituição, incluindo a precipitada sentença da Sala Eleitoral, com a qual não concordo, mas acato, por se tratar de uma resolução do máximo tribunal da República”, diz o documento.
Na carta, o opositor também afirma reconhecer as instituições constitucionais representadas nos cinco poderes do Estado – entre os quais está o eleitoral – e assume o compromisso de que sua atividade pública fora da Venezuela será limitada.
“Não pretendo em nenhum caso exercer representação formal ou informal alguma de poderes públicos do Estado venezuelano”, expressa o documento.
Em vídeo divulgado após o vazamento da carta, González disse que assinou o documento sob coação. “Em outras palavras, ou eu assinava, ou me ateria às consequências. Houve horas muito tensas de coação, chantagem e pressões. Neste momento considerei que poderia ser mais útil livre do que encerrado”, expressou.
No vídeo, González ainda se define como “presidente eleito” e disse que não trairá os milhões de venezuelanos que votaram nele. Segundo Haro, o asilo do opositor deve ser formalizado pelo governo espanhol nos próximos dias.
O líder chavista Jorge Rodríguez, no entanto, negou que tenha havido coação para a assinatura, e deu um ultimato para que Gonzalez desmentisse a acusação.
“Tenho gravações das conversas que tive pessoalmente com o senhor González Urrutia. O senhor quer que eu as mostre?”, questionou em coletiva de imprensa, dirigindo-se ao opositor. “Se nas próximas 24 horas o senhor não desmentir essas falsas acusações que fez, vou mostrar as provas das conversas que o senhor e eu tivemos cara a cara”, garantiu.