Glossário da guerra: veja lista com termos e nomes ligados ao conflito em Israel
Batalha no Oriente Médio teve início no dia 7 de outubro e deixou milhares de mortos e feridos
No dia 7 de outubro, membros do grupo radical islâmico Hamas deram início a uma onde de ataques surpresa contra Israel, o que resultou em milhares de mortos e feridos.
Os extremistas armados do Hamas invadiram casas, devastaram comunidades israelenses e levaram ao menos cerca de 150 reféns, entre civis e militares. Pelo menos três brasileiros foram mortos.
Em resposta, Israel organizou uma contraofensiva promovendo ataques aéreos e um cerco à Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas.
A CNN separou abaixo alguns dos principais termos importantes para você saber ao acompanhar essa cobertura.
1: Israel
No fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, os judeus perseguidos deixaram a Europa em busca de um novo começo após os horrores do Holocausto.
Eles viajaram para o que era então inteiramente território palestino e que, de 1920 a 1948, esteve sob o controle dos britânicos.
Em 1947, a Organização das Nações Unidas (ONU) votou para dividir a Palestina, que estava sob administração do Reino Unido.
O plano, votado em uma assembleia presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, trazia a chamada “solução de dois Estados”: dividir a Palestina em um território árabe (Palestina) e outro judeu (Israel).
Jerusalém e Belém, consideradas religiosamente sagradas, permaneceriam sob controle internacional.
Os países árabes se opuseram ao plano e votaram contra. No entanto, em 1948, Israel declarou independência.
A criação do Estado de Israel não foi bem recebida na região. Em maio de 1948, forças do Egito, Síria, Jordânia, Iraque e Líbano invadem, levando à primeira de uma série de guerras árabe-israelenses.
Em 1949, é alcançado um armistício. A Cisjordânia é separada de Israel para se tornar território jordaniano e Gaza é designada como território egípcio.
Durante a Guerra dos Seis Dias árabe-Israelense de 1967, Israel assumiu o controle da Cisjordânia (incluindo Jerusalém Oriental), a Faixa de Gaza e as Colinas de Golã, na Síria.
A porção oriental de Jerusalém inclui a Cidade Velha e alguns dos lugares sagrados para o judaísmo, islamismo e cristianismo.
Após a guerra, Israel anexou Jerusalém Oriental e, em 1981, anexou as Colinas de Golã. A Cisjordânia e Gaza atualmente territórios que não fazem parte de Israel, embora alguns israelenses ainda estejam lá.
2: Kibutz
Um kibutz é um tipo de comunidade autossustentável em Israel. O movimento do kibutz remonta ao início do século 20, quando os imigrantes judeus chegaram ao que então fazia parte do Império Otomano para estabelecer novas comunidades.
Tradicionalmente agrários, os kibutzim (plural de kibutz) eram populares nos primeiros anos de Israel pós-independência.
Hoje, apenas cerca de 125 mil pessoas vivem neles, de acordo com a Agência Judaica para Israel. Um kibutz não é o mesmo que um assentamento.
A política e modo de vida deles, no entanto, significaram pouco para os terroristas do Hamas que atacaram vários kibutzim de surpresa em Israel na manhã de sábado (7).
3: Palestina
A Palestina foi, até 1948, um Estado, sob administração britânica, na costa leste do Mediterrâneo, onde hoje estão Israel, parte da Jordânia, sul do Líbano e os territórios da Faixa de Gaza e Cisjordânia.
Os palestinos são um povo de identidade cultural coletiva que vivem há milênios na região que inclui Israel, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza – e onde, até 1948, existia a Palestina. Muitos palestinos também vivem fora da região, na Jordânia, Síria, Líbano e Arábia Saudita. A maior concentração fora do Oriente Médio está no Chile, em uma comunidade de população estimada em até 500 mil pessoas.
Os palestinos têm o árabe como idioma (o que inclui um dialeto local), mas muitos também falam o hebraico. A religião predomoinante é o islamismo sunita.
Atualmente, estão concentrados em porções ocupadas da Cisjordânia e na Faixa de Gaza (mapa abaixo) – esses territórios também são chamados por alguns de Palestina.
4: Cisjordânia
A Cisjordânia é o maior dos territórios ocupados por palestinos, com uma área de 5.860 km². Não tem acesso ao Mediterrâneo, mas é banhada pelas águas do Mar Morto.
No entanto, ao contrário de Gaza, de onde os israelenses se retiraram em 2005, na Cisjordânia, desde a ocupação na Guerra dos Seis Dias de 1967, Israel está presente e controla a região, proliferando seus assentamentos dentro deste território. A possível anexação dessas regiões por Israel causa tensões nas últimas décadas.
Os acordos de Oslo, de 1993, marcaram uma virada, dando uma maior autonomia à Cisjordânia, já que foi estabelecida a autoridade de um governo provisório palestino no território como prelúdio para a futura criação do Estado palestino independente.
A Cisjordânia tem a sua fronteira mais longa com Israel: 330 km. Sua fronteira ocidental, com a Jordânia, chega a 148 km. Essa região, próxima ao vale do rio Jordão, tem numerosos assentamentos israelenses, e, em caso de anexação por Israel, eles deixariam a Cisjordânia sem a sua fronteira com a Jordânia.
As principais cidades da Cisjordânia, tanto em população como em importância histórica e política, são Hebron, Nablus, Belém, Rafah e Ramallah. E sua população é de cerca de 3,1 milhões de pessoas.
5: Faixa de Gaza
O território de Gaza estende-se por uma faixa de 40 km de comprimento e 11 km de largura, com uma extensa saída para o Mar Mediterrâneo e uma área total de 306 km².
A sua principal fronteira, de 59 km, é com Israel, embora ao sul também tenha uma fronteira de 13 km com o Egito.
Gaza tem uma população de quase 2,1 milhões de habitantes (majoritariamente palestinos) e é um território altamente urbanizado (77,6%). Sua principal localização é a Cidade de Gaza.
O seu PIB per capita – incluindo a Cisjordânia – é de US$ 5.600 (dados de 2021), um dos mais baixos do mundo. Além de ter uma taxa de desemprego de 24,9% (dados de 2021).
Ao contrário da Cisjordânia, onde Israel mantém o controle da segurança, Gaza tem sido governada de forma autônoma desde que a saída israelense começou em 2005 e terminou em 2006.
A relação com Israel tem sido de conflito quase constante, o que levou a extensos períodos de bloqueio do território. Consequentemente, Gaza tem sido constantemente afetada por crises humanitárias.
6: Grupos palestinos OLP, AP e Fatah
Os palestinos aspiram a autonomia de um Estado árabe independente e, para isso, se organizam em diferentes entidades administrativas ou militares.
Por exemplo, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), criada em 1964, é uma entidade palestina multipartidária reconhecida internacionalmente como representante oficial do povo palestino, inclusive pela ONU e por Israel.
Já a Autoridade Palestina (AP), criada em 1994, é o órgão de governo de transição estabelecido nos Acordos de Oslo para administrar provisoriamente os territórios palestinos até o estabelecimento do Estado da Palestina. Atualmente, a Autoridade Palestina tem autoridade nos territórios ocupados por palestinos na Cisjordânia.
A AP e a OLP são presididas pelo Fatah, partido palestino que também possui um braço militar. O Fatah é nacionalista, laico, atualmente não considerado terrorista por nenhum governo, e é visto como mais moderado do que seu rival, o Hamas.
7: Hamas
Organização radical islâmica palestina com ala militar, o Hamas surgiu pela primeira vez em 1987.
A própria palavra “Hamas” é um acrônimo para “Harakat Al-Muqawama Al-Islamiyya” – que em tradução livre significa “Movimento de Resistência Islâmica”.
Antes do ataque surpresa recente, o braço militar do grupo já tinha assumido a responsabilidade por operações terroristas, incluindo atentados suicidas, carros-bomba e disparo de foguetes em Israel e Cisjordânia.
Por outro lado, o Hamas também era conhecido por muitos palestinos na Cisjordânia e em Gaza por ações humanitárias, como construção de escolas, hospitais e manutenção de instituições de caridade.
Ao contrário de alguns outros grupos palestinos, o Hamas recusa-se a dialogar com Israel e não faz parte da OLP.
Em 1993, opôs-se aos Acordos de Oslo, um pacto de paz entre Israel e a OLP que desistiu da resistência armada contra Israel em troca de promessas de um Estado palestino independente ao lado de Israel.
O Hamas apresenta-se como uma alternativa à AP. Ao longo dos anos, o Hamas reivindicou muitos ataques a Israel e foi designado como organização terrorista pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por Israel.
O Departamento de Estado dos EUA disse em 2021 que o Hamas recebe financiamento, armas e treino do Irã, bem como alguns fundos que são angariados nos países do Golfo Árabe. O grupo também recebe doações de alguns palestinos, de outros expatriados e de suas próprias organizações de caridade, afirmou.
Após a retirada completa das tropas israelenses de Gaza em 2006, o Hamas venceu as eleições legislativas palestinas por uma vitória esmagadora. Após uma tentativa de coalizão com a AP, eclodiu um conflito com o Hamas tomando o poder em Gaza, situação que mantém até hoje.
O governo dos EUA e a União Europeia consideram o Hamas uma organização terrorista.
8: Hezbollah
Durante o conflito de Israel com o Hamas, o nome do grupo Hezbollah também surgiu entre as notícias pela possibilidade de envolvimento na guerra.
O vice-chefe do Hezbollah, o Xeque Naim Qassem, disse que o grupo está “pronto” e “contribuirá” para os confrontos contra Israel de acordo com seu próprio plano.
Potências estrangeiras já advertiram o grupo e pediram que se mantenha fora do conflito. “O Hezbollah conhece perfeitamente os seus deveres. Estamos preparados e prontos, totalmente prontos, e acompanhamos os desenvolvimentos momento a momento”, disse o Xeque.
O grupo já entrou em confronto com Israel na fronteira libanesa ao longo da semana, após o ataque do Hamas contra cidades israelenses e o bombardeamento retaliatório de Israel na Faixa de Gaza.
O movimento surgiu em 1982 como resposta à invasão de Beirute por Israel durante a sangrenta guerra civil do Líbano. Os israelenses cumpriram o seu objetivo de expulsar combatentes palestinos do país, mas colheram como resultado um inimigo mais forte no Hezbollah.
O novo regime do Irã enxergou o grupo como um aliado adequado, tanto por causa de mesma ideologia xiita quanto pela posição do Hezbollah no coração do mundo árabe. O país começou, então, a fornecer financiamento e treinamento ao grupo logo após a sua criação.
Muitos países, incluindo os Estados Unidos, o Reino Unido e a Alemanha, bem como os estados do Golfo Pérsico e a Liga Árabe, rotularam todo o grupo como uma organização terrorista.
Já a União Europeia e a França consideram apenas a ala militar do Hezbollah como tal. Hassan Nasrallah, líder do grupo, é considerado um terrorista internacional pelos Estados Unidos e, sendo assim, está sujeito a sanções norte-americanas.
As opiniões no Líbano são divididas: 52% dos libaneses não acreditam que o Hezbollah promova a estabilidade do país, de acordo com uma pesquisa do instituto Zogby de 2021, enquanto o restante acredita que sim.
As divisões sectárias são mais flagrantes. Oitenta por cento dos xiitas têm confiança de que o Hezbollah beneficia a estabilidade do Líbano, assim como maiorias de drusos (64%) e cristãos (56%); mas nenhum dos pesquisados sunitas expressou esse sentimento, de acordo com a pesquisa.
* Publicado por Léo Lopes, com informações de Adam Pourahmadi, Joshua Berlinger, Karla Dunder, Flávio Ismerim, Germán Padinger, Amir Tal, Lauren Iszo, Nadeen Ebrahim, Mostafa Salem, CNN en Español, Reuters e CNN Internacional