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    Garotas espertas não se casam? Japão corre para acabar com o estigma das mulheres na ciência

    Japão ocupa o último lugar entre as nações ricas, com apenas 16% das estudantes universitárias se formando em engenharia, manufatura e construção, e com apenas uma cientista para cada sete

    Mulher japonesa andando em Tóquio
    Mulher japonesa andando em Tóquio Photo by Tomohiro Ohsumi/Getty Images

    Da Reuters

    Estudante do terceiro ano em uma das principais universidades de engenharia do Japão, Yuna Kato está de olho na carreira de pesquisadora, mas teme que ela seja breve caso tenha filhos.

    Kato diz que parentes tentaram afastá-la da ciência , tecnologia, engenharia e matemática, segundo a noção de que as mulheres nesses campos de atuação estariam muito ocupadas com a vida acadêmica e trabalho para conciliar com namoro ou na construção de uma família.

    “Minha avó e minha mãe costumam me dizer que existem empregos não STEM [acrônimo para ciência , tecnologia, engenharia e matemática] por aí se eu quiser criar filhos”, disse ela.

    Kato chegou até aqui, mas muitas aspirantes a engenheiras escolhem um caminho diferente devido ao estigma social, criando uma enorme dor de cabeça para o Japão. Somente no campo de TI, o país espera um déficit de 790.000 trabalhadores até 2030, em grande parte devido a uma grave sub-representação de mulheres.

    O resultado, alertam os especialistas, é um declínio em inovação, produtividade e competitividade para um país que se tornou a terceira maior economia do mundo com base nesses pontos fortes durante o último século.
    “É um desperdício e uma perda para a nação”, disse Yinuo Li, uma educadora chinesa com PhD em biologia molecular, cuja imagem foi usada para uma boneca Barbie como modelo feminino em STEM.

    “Se você não tiver o equilíbrio de gênero, sua tecnologia terá um ponto cego significativo e deficiências”, disse a mãe de três filhos que está no Japão em um programa de intercâmbio cultural.

    Viés inconsciente

    O Japão ocupa o último lugar entre as nações ricas, com apenas 16% das estudantes universitárias se formando em engenharia, manufatura e construção, e com apenas uma cientista para cada sete. Isso apesar das meninas japonesas terem a segunda maior pontuação do mundo em matemática e a terceira em ciências, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

    Para a paridade geral de gênero, a classificação do Japão caiu este ano para um nível recorde. O país está em uma missão para fechar a lacuna.

    Para o ano acadêmico que começa em 2024, cerca de uma dúzia de universidades – incluindo o Instituto de Tecnologia de Tóquio de Kato – atenderão ao apelo do governo para introduzir uma cota para estudantes STEM do sexo feminino, juntando-se a várias outras que começaram este ano.

    É uma grande reversão para um país onde uma investigação em 2018 descobriu que uma escola de medicina de Tóquio baixou deliberadamente as notas dos testes de admissão das mulheres para favorecer a admissão de homens. Funcionários da escola achavam que as mulheres eram mais propensas a parar de trabalhar depois de ter filhos e desperdiçar sua educação.

    Com o objetivo de mudar as atitudes, o governo criou há alguns meses um vídeo de 9 minutos e meio para mostrar aos educadores e outros adultos como o “preconceito inconsciente” impede as meninas de prosseguirem os estudos em áreas STEM.

    Em um cenário, um ator que interpreta um professor de escola elogia uma aluna por “ser boa em matemática, mesmo sendo uma menina”, fazendo-a sentir que era anormal ser uma especialista em matemática. Em outro, uma mãe desencoraja a filha a seguir engenharia, já que “o campo é dominado por homens”.

    Trabalhando com o setor privado, o Gender Equality Bureau do governo realizará mais de 100 workshops e eventos sobre STEM voltados principalmente para estudantes do sexo feminino neste verão – como aprender com os engenheiros de carros esportivos 7261.T da Mazda.

    Sem diversidade, sem inovação

    Mais escolas e empresas, incluindo Mitsubishi Heavy Industries 7011.T e Toyota 7203.T, estão oferecendo bolsas de estudo para estudantes STEM do sexo feminino para atrair talentos.

    “A escassez de engenheiras é absolutamente antinatural quando você considera que as mulheres representam metade da sociedade”, disse Minoru Taniura, oficial de recursos humanos da Mitsubishi Heavy.
    “Se a composição dos engenheiros não for a mesma da população, ficaremos para trás em poder oferecer o que os clientes procuram.”

    A Panasonic 6752.T também vê benefícios de uma perspectiva feminina, dizendo que sua engenheira sênior Kyoko Ida pode se relacionar com as mulheres pesquisadas para o desenvolvimento da máquina de pão da empresa, cujos usuários eram principalmente mulheres.

    Jun-ichi Imura, vice-diretor da escola de Kato, disse que a falta de diversidade já cobrou seu preço.

    “A diversidade é a fonte da inovação e, quando pensamos se vimos inovações verdadeiras nas últimas décadas em nossa escola ou no Japão, não parece bom”, disse ele.

    “Olhando para 2050, todos nós precisamos pensar sobre o que precisa ser feito agora.”

    Parcela de graduadas em áreas STEM