Gantz é eleito presidente do Parlamento; Israel caminha para governo de coalizão
Decisão abre possibilidade de 'acordo de rotatividade' no qual Benny Gantz e Benjamin Netanyahu se revezariam como primeiro-ministro
Benny Gantz, principal adversário político do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, foi eleito presidente do Parlamento nessa quinta-feira (26) em uma manobra inesperada que pode abrir caminho para um governo de coalizão que mantenha o veterano líder de direita no poder.
Com o apoio do Likud, partido de Netanyahu, e de outros partidos aliados do premiê, o ex-general Gantz deixou muitos de seus próprios aliados políticos irritados com a possibilidade de parceria com seu adversário.
A reviravolta política fez com que o Partido Azul e Branco de Gantz entrasse em crise apenas 13 meses depois de sua criação como uma coalizão de centristas opositores a Netanyahu que pretendiam derrubar o líder de 70 anos, o mais longevo na história do país.
A decisão de Gantz abriu a possibilidade de um “acordo de rotatividade” no qual ele e Netanyahu se revezariam como primeiro-ministro. A medida foi tomada depois de um ano de impasse político no qual os israelenses votaram em três eleições inconclusivas.
“Estes não são dias normais e exigem decisões especiais. Portanto, como eu disse, pretendo examinar e promover, de qualquer maneira possível, a criação de um governo nacional de emergência”, disse Gantz ao Parlamento.
Seu breve discurso foi seguido por uma cena incomum, reflexo da gravidade da crise de saúde no país, na qual os parlamentares entraram no Knesset, o Parlamento israelense, um por um para votar respeitando o distanciamento social.
Israel já registrou mais de 2.600 casos do novo coronavírus, que matou 8 pessoas e colocou grande parte do país sob bloqueio.
Yair Lapid, um dos aliados de Gantz na liderança, criticou a mudança e postura do político. “O que está sendo formado hoje não é um governo de unidade e nem um governo de emergência. É outro governo de Netanyahu. Benny Gantz se rendeu sem lutar e entrou no governo de Netanyahu”, disse Lapid em comunicado.
Emergência nacional
Após as eleições de 2 de março, Gantz foi convidado pelo presidente de Israel, Reuven Rivlin, a tentar formar um governo. Rivlin já havia pressionado os dois políticos a unirem forças, já que o país enfrentava a possibilidade de bloqueio nacional para tentar impedir a propagação do coronavírus.
Mas, sem apoio suficiente no centro e à esquerda para formar uma coalizão, as chances de Gantz eram praticamente nulas.
Isso repetiu o padrão de duas eleições em 2019, quando nem Netanyahu nem Gantz foram capazes de formar um governo, forçando os dois políticos, que trocaram acusações durante as campanhas eleitorais, a negociarem uma coalizão.
Netanyahu propôs um governo de “emergência nacional” para combater o coronavírus, prometendo deixar o cargo de primeiro-ministro dentro de um período acordado. Parte da mídia israelense afirmou que Gantz assumirá o cargo a partir de setembro de 2021, mas isso não foi confirmado por nenhum dos lados.
Rivais políticos
Durante a campanha eleitoral, Gantz descartou ser número dois em um governo liderado por Netanyahu, usando como argumento o iminente julgamento do premiê por acusações de suborno, fraude e quebra de confiança.
“Por que Gantz desistiu [de tentar tirar Netanyahu do poder]? É muito simples. Gantz está cansado. E você também ficaria depois de 14 meses sendo incansavelmente barrado e manobrado por Netanyahu”, escreveu no Twitter Anshel Pfeffer, analista político do jornal israelense ‘Haaretz’.
“E agora a maioria do público israelense quer um governo de união durante a crise do coronavírus. Muito simples.”
Pelo menos um membro do bloco de direita de Netanyahu, o ministro da Defesa Naftali Bennett, parabenizou publicamente Netanyahu e Gantz pelo acordo, apesar de não ter havido anúncio formal de que um acordo tenha sido alcançado.
Gantz, ex-chefe das forças armadas israelenses, é um estreante no mundo político. Ele se retrata como uma pessoa honesta que restaurará valores simples para Israel. Mas o que ele fará no poder não está totalmente claro, pois já enviou mensagens contraditórias.
Ele se considera mais diplomático do que Netanyahu, pedindo esforços redobrados para reiniciar as negociações de paz com os palestinos. Mas também apoiou o plano de paz para o Oriente Médio anunciado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que foi totalmente rejeitado pelos palestinos pelo que consideram um viés pró-Israel. (Com informações da Reuters)