Frio mortal atinge o leste da Ásia e especialistas dizem ser essa a ‘nova norma’
Especialistas apontam para mudanças climáticas como responsáveis por recordes de mínimas registrados na Ásia; na Sibéria russa, temperaturas chegaram a -62,7 graus Celsius
Uma onda de frio mortal que atinge o leste da Ásia matou pelo menos quatro pessoas no Japão depois que temperaturas abaixo de zero e muita neve causaram o caos nas viagens durante o feriado do Ano Novo Lunar, e especialistas em clima alertam que tais eventos climáticos extremos se tornaram a “nova norma”.
Autoridades japonesas disseram que todos os quatro mortos na quarta e na quinta-feira estavam trabalhando para limpar a neve em meio ao que o secretário-chefe do gabinete, Hirokazu Matsuno, chamou de “uma onda de frio que ocorre uma vez na década”.
Duas das mortes foram relatadas na província de Niigata, no oeste, uma na província de Oita, no sudoeste, e outra na província de Okayama, no sul – onde a vítima teve um ataque cardíaco.
Na vizinha Coreia do Sul, alertas de neve pesada foram emitidos esta semana, quando as temperaturas na capital Seul caíram para -15 graus Celsius e despencaram para mínimas recordes em outras cidades, disseram autoridades. Moradores contaram que começou a nevar forte durante a noite de quarta para quinta-feira.
Na popular ilha turística de Jeju, o mau tempo esta semana levou ao cancelamento de centenas de voos, enquanto os navios de passageiros foram forçados a permanecer no porto devido às ondas enormes, de acordo com a Sede Central de Contramedidas de Desastres e Segurança.
“O ar frio do Polo Norte atingiu diretamente a Coreia do Sul”, depois de viajar pela Rússia e China, disse à CNN o porta-voz da Administração Meteorológica da Coreia, Woo Jin-kyu.
Woo disse que, embora os cientistas tenham uma visão de longo prazo das mudanças climáticas, “podemos considerar esse clima extremo – clima extremamente quente no verão e clima extremamente frio no inverno – como um dos sinais das mudanças climáticas”.
Do outro lado da fronteira, em Pyongyang, as autoridades norte-coreanas alertaram sobre as condições climáticas extremas à medida que a onda de frio varria a península coreana. Esperava-se que as temperaturas em partes da Coreia do Norte caíssem abaixo de -30 graus Celsius, informou a mídia estatal.
No Japão, centenas de voos domésticos foram cancelados na terça e quarta-feira devido à forte neve e ventos que dificultaram a visibilidade. As principais operadoras Japan Airlines e All Nippon Airways cancelaram um total de 229 voos.
Enquanto isso, trens de alta velocidade foram suspensos entre as estações norte de Fukushima e Shinjo, informou o Japan Railway Group.
A autoridade meteorológica da China também previu grandes quedas de temperatura em partes do país e na segunda-feira emitiu um alerta azul para uma onda de frio – o nível mais baixo em um sistema de alerta de quatro níveis.
Mohe, a cidade mais ao norte da China, viu no domingo as temperaturas caírem para -53 graus Celsius, o mais frio já registrado, disseram meteorologistas. A névoa de gelo – um fenômeno climático que ocorre apenas no frio extremo, quando as gotas de água no ar permanecem na forma líquida – também é esperada na cidade esta semana, disseram as autoridades locais.
Outras partes da Ásia também sentiram os impactos do frio intenso. No início deste mês, na Sibéria russa, as temperaturas na cidade de Yakutsk ficaram em -62,7 graus Celsius, um recorde para um lugar amplamente conhecido como a cidade mais fria do mundo.
O frio também foi sentido no Afeganistão, onde oficiais do Talibã relataram a morte de pelo menos 157 pessoas, enquanto o país passa por um de seus invernos mais rigorosos de todos os tempos e com ajuda humanitária mínima. Autoridades disseram que as temperaturas no início de janeiro chegaram a atingir -28 graus Celsius.
‘Nova norma’
Yeh Sang-wook, professor de clima da Universidade Hanyang em Seul, atribuiu a onda de frio extremo na Península Coreana aos ventos árticos da Sibéria, acrescentando que a onda de frio na Coreia do Sul este ano foi em parte devido ao derretimento das calotas polares do Ártico devido a um clima quente.
“Houve um recorde de derretimento no ano passado e neste ano”, disse ele. “Quando o gelo do mar derrete, o mar se abre, enviando mais vapor para o ar, levando a mais neve no norte”.
À medida que a mudança climática piora, a região enfrentará um clima frio mais severo no futuro, disse ele.
“Não há outra (explicação)”, disse ele. “As mudanças climáticas estão realmente se aprofundando e há um consenso entre os cientistas globais de que esse tipo de fenômeno do frio vai piorar daqui para frente”.
Kevin Trenberth, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos (NCAR, da sigla em inglês), concordou que “eventos climáticos extremos são a nova norma”, acrescentando: “certamente podemos esperar que os extremos climáticos sejam piores do que eram antes”.
Ele também apontou os ciclos climáticos El Niño e La Niña no Oceano Pacífico, que afetam o clima em todo o mundo.
La Niña, que normalmente tem um efeito de resfriamento nas temperaturas globais, é uma das razões para a atual onda de frio, disse ele.
“Certamente há uma grande variabilidade natural que ocorre no clima, mas […] muitas vezes ouvimos falar do fenômeno El Niño e no momento estamos na fase La Niña. E isso certamente influencia os tipos de padrões que tendem a ocorrer. E isso também é um fator”, disse ele.
*Com informações de Jake Kwon, Junko Ogura e Emiko Jozuka, da CNN.