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    França diz que Biden agiu como Trump para afundar acordo de defesa da Austrália

    "É uma facada nas costas", disse ministro francês após anúncio de parceria sobre submarinos nucleares

    Michael Roseda Reuters

    A França acusou o presidente dos Estados Unidos Joe Biden, nesta quinta-feira (16), de esfaqueá-lo pelas costas e agir como seu antecessor Donald Trump, depois que Paris foi afastado de um contrato histórico de exportação de defesa para fornecer submarinos à Austrália.

    Os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a Austrália anunciaram que estabeleceriam uma parceria de segurança para o Indo-Pacífico que ajudará a Austrália a adquirir submarinos nucleares norte-americanos e descartar o acordo de US$ 40 bilhões de submarinos de projeto francês.

    “Esta decisão brutal, unilateral e imprevisível me lembra muito o que o Sr. Trump costumava fazer”, disse o ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, à Rádio “franceinfo”.

    “Estou com raiva e ressentido. Isso não é feito entre aliados.”

    É a mais recente reviravolta dramática em uma disputa que viu as potências da construção naval batalharem durante anos pelo que muitos observadores chamaram de o maior acordo de exportação de armas do mundo.

    Em 2016, a Austrália selecionou o construtor naval francês Naval Group para construir uma nova frota de submarinos no valor de $ 40 bilhões para substituir seus submarinos Collins com mais de duas décadas.

    Há apenas duas semanas, os ministros australianos da defesa e do exterior reconfirmaram o acordo com a França, e o presidente francês Emmanuel Macron elogiou décadas de cooperação futura ao receber o primeiro-ministro australiano Scott Morrison em junho.

    “É uma facada nas costas. Criamos uma relação de confiança com a Austrália e essa confiança foi quebrada”, disse Le Drian.

    As relações da França com os Estados Unidos azedaram durante a presidência de Trump, que muitas vezes irritou os aliados europeus ao exigir que aumentassem seus gastos com defesa para ajudar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e ao mesmo tempo alcançar adversários como a Rússia e a Coreia do Norte.

    Diplomatas dizem que tem havido preocupação nos últimos meses de que Biden não esteja sendo franco com seus aliados europeus.

    Os laços da França com o primeiro-ministro britânico Boris Johnson também azedaram com a saída do Reino Unido da União Europeia.

    As ações de Washington na Austrália devem prejudicar ainda mais os laços transatlânticos, disseram analistas políticos. A União Europeia deve lançar sua estratégia Indo-Pacífico na quinta-feira e Paris está prestes a assumir a presidência da UE.

    “Este é um trovão, e para muitos em Paris, um momento Trafalgar”, disse Bruno Tertrais, vice-diretor do think tank parisiense da Foundation of Strategic Research, no Twitter, referindo-se à derrota naval francesa em 1805 que foi seguida por um longo período de supremacia naval britânica.

    Ele disse que isso “complicaria a cooperação transatlântica na região e sobre ela. Pequim se beneficiará”.

    Biden disse na quarta-feira que a França continua sendo um “parceiro-chave na zona do Indo-Pacífico”.

    Morrison disse que a Austrália espera continuar a trabalhar “de perto e positivamente” com a França, acrescentando: “A França é um amigo e parceiro importante para a Austrália e o Indo-Pacífico.”

    Presidente dos EUA, Joe Biden, e primeiro-ministro da Inglaterra, Boris Johnson
    Presidente dos EUA, Joe Biden, e primeiro-ministro da Inglaterra, Boris Johnson, conversam durante cúpula do G7 / Foto: Toby Melville – WPA Pool/Getty Images

    Quebra de expectativas

    É o segundo revés para as exportações francesas de defesa em três meses, depois que a Suíça rejeitou o Rafale da Dassault para comprar caças Lockheed Martin F-35 de fabricação americana.

    Analistas disseram que a perda de um contrato de submarino muito maior foi um golpe significativo para a França, cuja experiente máquina de vendas de armas fez de tudo para arrancar o negócio do submarino do provável vencedor Japão sob o então ministro da Defesa Le Drian, em 2016.

    A Alemanha também esteve na corrida.

    A vitória de 2016 veio uma década depois que a França reformulou radicalmente a maneira como lidava com as vendas de armas, após o constrangimento de Paris com a perda de um concurso para vender caças ao Marrocos.

    A notícia de seu cancelamento dominou a maior feira de armas da Europa em Londres, onde um delegado a chamou de “de cair o queixo”.

    A francesa Thales, que analistas dizem ter ganho cerca de US $ 1 bilhão com as vendas de sonares e optrônicos – os olhos e ouvidos dos submarinos franceses – rapidamente assegurou aos investidores que suas finanças para 2021 não seriam atingidas.

    Mas alguns analistas alertaram que a reação furiosa da França sobre o contrato australiano pode sair pela culatra, e houve relatos de dúvidas australianas sobre o ritmo de implementação.

    A Thales, que possui 35% do Naval Group, continua sendo a maior contratada local de defesa da Austrália por meio de uma subsidiária.

    “A traição é a linguagem errada e fere a posição da França na Austrália; ela pode envenenar o poço”, disse o analista de defesa do Reino Unido Francis Tusa, acrescentando que a França agora dependeria mais da venda de Rafales para garantir seu lugar no mercado global de armas.

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