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    França corta ao meio dois submarinos com propulsão nuclear para criar um novo

    Traseira e dianteira de embarcações que estavam fora de operação foram soldadas; obras devem ser concluídas até o fim de 2021

    As duas metades do submarino Perle ficam no estaleiro de Cherbourg, na França, depois que o navio foi cortado no início deste ano
    As duas metades do submarino Perle ficam no estaleiro de Cherbourg, na França, depois que o navio foi cortado no início deste ano Foto: Naval Group

    Brad Lendon, da CNN

    Um submarino francês movido a energia nuclear danificado pelo fogo no ano passado foi salvo do ferro-velho de uma maneira pouco comum: depois de ser cortado ao meio, ele teve a metade recuperável soldada em uma parte de outra embarcação desativada.

    Em junho de 2021, o submarino de ataque Perle foi atingido por um incêndio enquanto estava em doca seca para reparos, em Toulon, sul da França. De acordo com o Ministério da Defesa do país, o acidente deixou a parte frontal do barco inutilizável, com danos estruturais em componentes de aço que não puderam ser reparados.

    Porém, a metade traseira do submarino de 73 metros de comprimento, que tem um deslocamento de 2.600 toneladas, não foi danificada pelas chamas. 

    Para a felicidade da marinha francesa, uma das embarcações irmãs do Perle, o Saphir, que foi retirado de serviço em 2019, ainda aguardava pelo desmanche num estaleiro no porto noroeste de Cherbourg.

    A parte dianteira do Saphir era estruturalmente sólida, e os oficiais franceses concluíram que poderia ser acoplada à traseira do Perle para fazer um submarino de ataque útil.

    O Perle danificado foi transferido de Toulon para Cherbourg num navio semissubmersível em dezembro.

     Em fevereiro, trabalhadores o cortaram e fizeram o mesmo com o Saphir um mês depois, de acordo com comunicado à imprensa do estaleiro francês Naval Group.

    No início deste mês, a metade traseira do Perle e a metade dianteira do Saphir foram colocadas em Cherbourg para que pudessem ser cuidadosamente alinhadas e depois soldadas.

    A porta-voz do Naval Group, Klara Nadaradjane, informou que as obras de junção serão concluídas nos próximos meses.

    O submarino resultante, que ainda será chamado de Perle, será de 1,4 metros mais longo do que qualquer um de seus antecessores para acomodar uma “área de junção”, enquanto os quilômetros de cabos e tubos que o percorrem serão emendados.

    A área de junção também fornecerá espaço para novos alojamentos, adicionando um novo ambiente para a tripulação de 70 profissionais.

    Modelagem digital

    Todo o trabalho é feito por meio de um modelo digital tridimensional. A tarefa envolve 300 pessoas em 100 mil horas de estudos de engenharia e 250 mil horas de trabalho industrial. 

    Nadaradjane explica que os regulamentos do setor não permitiam que a empresa fornecesse um custo para a operação.

    O Perle, que entrou em operação em 1993, era o mais novo dos seis submarinos nucleares da classe Rubis da frota francesa. O Saphir, o segundo barco da classe, foi inaugurado em 1984 e ficou em atividade por 35 anos.

    Os submarinos da classe Rubis devem ser substituídos nos próximos anos pelos novos submarinos nucleares Barracuda. O primeiro deles, o Suffren, foi entregue à marinha francesa em novembro. Porém, não há expectativa de que o sexto submarino Barracuda se junte à frota até 2030, então o Perle meio a meio será necessário para manter o número de submarinos de ataque francês nos seis exigidos, destacou o Naval Group. 

    Franck Ferrer, diretor de programas da Divisão de Serviços do estaleiro, disse em janeiro que o novo Perle deveria ser transferido de volta para Toulon no final deste ano para atualizações nos sistemas de combate antes de entrar na frota francesa no início de 2023.

    “Realizar esse tipo de projeto nessas circunstâncias, ou seja, o trabalho de reparo que envolve a junção das extremidades da proa e da traseira de dois navios irmãos, é certamente a primeira na história moderna do Naval Group”, afirmou Ferrer. 

    Embora inusitada, a junção de dois submarinos não é inédita.

     “A Marinha dos Estados Unidos fez algo semelhante ao substituir a proa do USS San Francisco danificado, que encalhou em um monte perto de Guam em 2005, pela proa do USS Honolulu, que deveria ser aposentada”, contou Thomas Shugart, comandante aposentado de um submarino de ataque da Marinha dos EUA.

    E o reparo começou do zero, segundo ele.

    “Com certeza deu muito trabalho, mas provavelmente muito menos do que construir um submarino totalmente novo”, disse Shugart, agora membro do Centro para uma Nova Segurança Americana. 

    Shugart disse que a atual construção de submarinos faz essencialmente o que os franceses estão fazendo agora no estaleiro de Cherbourg.

    “Todos os submarinos americanos de construção nova são agora feitos usando construção modular, que consiste essencialmente em juntar peças do submarino, embora claramente de uma forma mais planejada do que no caso deste submarino francês reparado”, afirmou.

    O renascimento do Perle é certamente um resultado melhor do que o experimentado por outro submarino danificado pelo fogo, o USS Miami.

    Incendiado por um trabalhador descontente do estaleiro enquanto passava por reparos em Portsmouth, Maine, em 2012, o Miami teria um custo elevado para retornar ao serviço e foi descartado.

    No ano passado, um navio de superfície da Marinha dos Estados Unidos, o USS Bonhomme Richard, foi danificado por um incêndio enquanto passava por reformas em San Diego. Após determinar que levaria até US$ 3,2 bilhões (R$ 18 bilhões) e até sete anos para repará-lo, a Marinha ordenou que o Bonhomme Richard fosse demolido em novembro.

    (Texto traduzido. Clique aqui para ler a versão em inglês)