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    Foguetes caseiros e AK-47 modificados: uma visão do arsenal mortal do Hamas

    Especialistas em armamentos analisaram imagens do arsenal usado pelo Hamas no ataque surpresa a Israel

    Isabelle ChapmanAudrey AshDaniel A. Medinada CNN*

    Foguetes caseiros. AK-47 modificados. Metralhadoras soviéticas com décadas de existência. Armas baratas, de segunda mão e roubadas constituem o arsenal mortífero improvisado do Hamas que alimentou um ataque devastador e multifacetado a Israel no fim de semana.

    A CNN analisou dezenas de fotos e vídeos de militantes do Hamas durante o ataque surpresa para identificar as armas usadas para matar pelo menos centenas de pessoas em Israel.

    Muitas das armas pareciam ser armas de fogo russas ou chinesas alteradas, presumivelmente deixadas para trás no campo de batalha em décadas passadas e que acabaram chegando às mãos de terroristas do Hamas, dizem os especialistas.

    Um especialista descreveu como o ataque intrincadamente planejado, no qual terroristas do Hamas se infiltraram em Israel por terra, mar e ar, reflete uma mudança na estratégia militar global do Hamas. Outros acreditam que certas armas de fogo foram provavelmente fornecidas pelo Irã, que, segundo o Departamento de Estado dos EUA, apoia o grupo terrorista com dinheiro, equipamento militar e treino.

    O grupo opera a partir de Gaza, uma faixa de terra costeira do Mediterrâneo, limitada por Israel e pelo Egito, que está isolada do resto do mundo desde 2007, quando o Hamas assumiu o controle do território, o que levou Israel e o Egito a imporem um bloqueio.

    É um terreno fértil para um grupo terrorista condenado vasculhar e transformar armas para a guerra de guerrilha.

    Embora as armas sejam muito menos sofisticadas do que os padrões de Israel – os militares daquele país têm acesso a alguns dos melhores equipamentos que os EUA podem fornecer – o seu impacto causou um nível de devastação sem precedentes.

    “Essas são armas de destruição em massa aos meus olhos”, disse o Major aposentado do Exército dos EUA, Mike Lyons, referindo-se a mísseis terra-ar portáteis que podem ser vistos em pelo menos um vídeo analisado pela CNN.

    Mas os combatentes do Hamas não precisam de equipamento sofisticado para serem mortais, disse Lyons. “Eles só precisam criar terror”.

    Metralhadoras

    Ilustração/CNN

    Imagens analisadas pela CNN mostram uma DShK de fabricação soviética, uma metralhadora calibre .50, modificada e montada em uma picape.

    A arma geralmente requer duas pessoas – uma para alimentá-la com balas e outra para disparar, disse Lyons. Mas ele suspeita que esta arma tenha sido ajustada, tornando-a mais fácil de ser operada por um único combatente.

    “Algum cara poderia sentar, colocar a mão no gatilho, atirar com uma mão e fazer algo com a outra”, disse Lyons. “Essas coisas causam estragos”.

    As armas, projetadas para penetrar em veículos e aeronaves militares, são frequentemente utilizadas por militares profissionais. Elas normalmente são montadas em um tripé ou veículo blindado e usadas como arma defensiva em combate.

    “É incomum ver (esta arma) ser enviada para uma aldeia desprotegida e sem presença militar”, disse John Spencer, presidente de Estudos de Guerra Urbana do Modern War Institute em West Point. “É como um assassinato militarizado ou um atirador ativo”.

    AK-47

    Ilustração/CNN

    Em muitos dos vídeos e fotos analisados pela CNN, os agressores carregavam AK-47. Letal, fácil de usar e fácil de encontrar, é o fuzil de assalto preferido dos grupos militantes, disseram especialistas.

    “Se você segurar o gatilho, poderá esvaziar o carregador inteiro. Possui uma alta cadência de tiro cíclica. Pode ser usado para disparar várias balas”, disse Stephen Biddle, professor da Universidade de Columbia e especialista em defesa, que descreveu a onipresença das armas. “Não é como se o Hamas tivesse se esforçado para adquirir essas coisas”.

    Um vídeo publicado no canal do Hamas no Telegram mostra combatentes – a maioria portando AK-47 – atacando um posto militar israelense. Os agressores atravessam bairros israelenses, disparam contra um tanque israelense e mantêm civis sob a mira de armas.

    Vários especialistas com quem a CNN conversou mencionaram modificações que alguns grupos farão nas AK-47, incluindo a remoção de equipamentos para tornar as armas mais leves e fáceis de usar.

    “Eles poderiam modificá-lo porque o que importa é apenas praticidade”, disse Lyons.

    Spencer observou que modificações como essas costumam ser um sinal de uma força pouco profissional, mas ainda assim perigosa.

    “Se tudo fosse padronizado, seria um sinal de profissionalização”, disse ele. “Você pode fazer pequenas modificações em equipamentos mais antigos para torná-los igualmente eficazes ou um pouco mais eficazes ou ergonômicos”.

    Alguns dos AK-47, segundo vários especialistas, também são provavelmente antigas armas soviéticas que foram deixadas para trás durante a invasão do Afeganistão pela federação na década de 1980. Outros podem ser antigas armas chinesas canalizadas para a rede de armas dos terroristas.

    Alguns podem ter vindo do Iraque, onde Saddam Hussein comprou AK-47 aos milhares. Além disso, uma série de armas pequenas provenientes da Líbia penetrou no mercado negro na década de 2010, dizem os especialistas.

    Para Lyons, este é o enigma quando militares mais sofisticados deixam equipamentos para trás no campo de batalha – eles pode eventualmente acabar nas mãos de grupos terroristas.

    “Isso poderia ter sido filmado há 40 anos. Este é o mesmo equipamento”, disse Lyons. “Eles são projetados de forma simples e para funcionar nas condições mais austeras e piores do mundo”.

    Foguetes

    Ilustração/CNN

    O Hamas depende há muito tempo de foguetes para travar as suas batalhas assimétricas com Israel. Só no sábado, o grupo militante afirmou ter disparado 5 mil foguetes contra Israel, a maioria dos quais foram interceptados pelo sistema de defesa aérea Iron Dome, ou Domo de Ferro, de Israel.

    Ainda assim, o grande número de foguetes às vezes sobrecarrega o Iron Dome, um sistema de última geração equipado com um radar para detectar projéteis que se aproximam e derrubá-los.

    Alguns até pousaram sem explodir em casas israelenses. Em um curto vídeo publicado no Telegram, um homem mostra os restos de um foguete do Hamas projetando-se do teto de um quarto.

    O foguete parece ser um Qassam ou Saraya al-Quds não detonado, disse um pesquisador britânico que dirige o Caliber Obscura, um site que identifica armas. Ambos os foguetes são identificados, observou o pesquisador, pelos grupos que os utilizam: a ala militar do Hamas, conhecida como brigadas Izz al-Din al-Qassam; e a brigada al-Quds da Jihad Islâmica Palestina, um grupo islâmico rival na Faixa de Gaza.

    O Hamas produz atualmente a grande maioria dos seus próprios foguetes Qassam, disse o pesquisador, dadas as dificuldades de contrabando de foguetes maiores para a bloqueada Faixa de Gaza. A forma como o grupo fabrica os foguetes improvisados é menos conhecida. Em batalhas anteriores com Israel, sabia-se que o Hamas disparou foguetes feitos de canos de água antigos, observou o pesquisador.

    Uma autoridade sênior do Hamas baseada no Líbano deu detalhes da fabricação de armas do grupo em uma entrevista editada ao canal de notícias árabe do Russia Today, RT Arab, publicada em seu site no domingo.

    “Temos fábricas locais para tudo, para foguetes com alcance de 250 km, para 160 km, 80 km e 10 km. Temos fábricas de morteiros e seus projéteis. Temos fábricas de Kalashnikovs (rifles) e suas balas. Estamos fabricando as balas com permissão dos russos. Estamos construindo isso em Gaza”, disse Ali Baraka, chefe de Relações Nacionais do Hamas no Exterior, ao canal.

    Mas ex-funcionários dos EUA dizem que há poucas dúvidas de que o enorme arsenal de armas utilizado no ataque de sábado foi adquirido e montado com a ajuda do Irã.

    “O Hamas não construiu o sistema de orientação e os mísseis em Gaza”, disse o general reformado Frank McKenzie, antigo comandante do Comando Central dos EUA. “Eles os pegaram de algum lugar. E a assistência tecnológica para a sua montagem veio certamente do Irã – de onde mais teria vindo?”.

    Granadas

    Ilustração/CNN

    Nas fases iniciais dos seus ataques, os militantes do Hamas utilizaram granadas enquanto atacavam cidades e aldeias israelenses perto da Faixa de Gaza.

    Em um vídeo verificado pela CNN, um militante atira uma granada em um abrigo antiaéreo perto do local do festival de música. Os combatentes imediatamente se protegem quando um homem foge do abrigo.

    “Todos procuraram abrigo, que é o que normalmente fariam as pessoas que já fizeram isso antes”, disse o ex-tenente David Benson, que serviu no Iraque e agora trabalha em uma empresa de segurança. O vídeo indicava o nível de treinamento dos combatentes, disse ele.

    Granadas de mão aparecem novamente em uma foto da Reuters de 8 de outubro. A imagem mostra tropas israelenses inspecionando armas dispostas na calçada em frente a uma delegacia de polícia na cidade fronteiriça de Sderot. Três especialistas disseram à CNN que os dispositivos parecem ser granadas de mão.

    Ainda não está claro se o Hamas obteve as granadas ou as fabricou, mas o fato de as possuírem sugere que o grupo aumentou as suas capacidades nos últimos anos.

    “Granadas de mão são caras, mesmo nas forças armadas americanas”, disse Benson.

    Drones

    Ilustração/CNN

    Um vídeo postado em uma conta de mídia social do Hamas mostra uma visão panorâmica das munições que o Hamas afirma ter lançado sobre soldados israelenses por drone. A CNN não conseguiu verificar a autenticidade do vídeo, mas uma arma semelhante foi usada no ataque inicial, durante o qual o Hamas lançou bombas contra torres de metralhadoras não tripuladas em um posto avançado israelense ao longo da fronteira.

    Biddle disse que parece que os drones naquele vídeo têm como alvo sensores que monitoram a cerca que separa Gaza de Israel, indicando um ataque planejado. “A primeira coisa a fazer não é romper a cerca, é destruir os sensores”.

    Spencer disse à CNN que isso aponta não apenas para o fornecimento apoiado pelo Estado, mas também para o treinamento para saber como usar os dispositivos e quais bombas seriam mais eficazes para seus alvos.

    “Os drones foram a única coisa que me surpreendeu. É normal pensar que eles os teriam, mas ter esse nível de coordenação e sofisticação do ataque, e incluir os vídeos que divulgaram… Isso para mim, mais uma vez, aponta fortemente para um patrocinador apoiado pelo Estado dos militantes do Hamas”, disse Spencer.

    Em outro vídeo divulgado pelo Hamas e geolocalizado pela CNN, um drone parece colocar um IED cronometrado sobre uma metralhadora automática controlada remotamente em um posto avançado israelense perto de Kfar Aza, Israel.

    Parapentes

    Ilustração/CNN

    Em outro vídeo do Hamas analisado pela CNN, militantes podem ser vistos amarrados a uma vela e entrando em Israel durante a onda inicial do ataque de sábado, quando choveram foguetes lançados perto de Beit Lahia, Gaza.

    Parapentes, que usam o vento para impulsionar para frente e para cima, ou paraquedas motorizados, são comumente usados por aventureiros. Mas eles não são comumente usados em guerra – e por boas razões.

    “Os parapentes são incrivelmente vulneráveis e pouco manobráveis”, disse Benson.

    Sean Elliott, vice-presidente de Assuntos Industriais e Regulatórios da Experimental Aircraft Association, concordou. “Eles têm um escopo bastante restrito”, disse Elliott. “Você precisa das condições certas e do ambiente certo. Há muitas fraquezas”.

    Mas isso já aconteceu antes. No final de 1987, um militante palestino preso a uma asa delta – semelhante a um parapente, mas com uma estrutura rígida nas asas – entrou no espaço aéreo israelense. O combatente, armado com granadas de mão, uma pistola e um rifle de assalto, matou seis soldados israelenses e feriu outros sete antes de ser morto, informou a TIME.

    E mais recentemente, em 2012, uma célula suspeita de terrorismo da Al Qaeda na Espanha foi encontrada com três parapentes motorizados e foi treinada por um instrutor local sobre como pilotá-los.

    Mas Spencer disse que o Hamas não apenas retirou os parapentes das prateleiras de uma loja e suspeitou que o grupo pode ter sido treinado e apoiado por um patrocinador fora de Gaza. “Eles não criaram o equipamento sozinhos”, disse.

    Escavadeiras

    Ilustração/CNN

    Vários especialistas que falaram com a CNN enfatizaram a natureza do ataque surpresa do Hamas. Os combatentes parecem usar tudo o que estava à disposição do grupo militante para executar o ataque.

    Imagens do ataque inicial mostram uma escavadeira sendo usada para derrubar a cerca que separa Gaza de Israel. Em alguns vídeos, militantes do Hamas podem ser vistos dirigindo veículos das Forças de Defesa de Israel e usando armas israelenses que provavelmente foram levadas durante os combates iniciais.

    O Hamas também teria usado uniformes de soldados israelenses para confundir as forças israelenses – uma tática que eles usaram durante guerras anteriores.

    “A prática do Hamas de se vestir como soldados das Forças de Defesa de Israel para capturar outras áreas, soldados ou para chegar perto o suficiente para atacar é uma tática muito comum deles”, disse Spencer.

    *Com informações de Allison Gordon, Tal Yellin, Ian Berry, Vanessa Leroy, Gianluca Mezzofiore, Paul Murphy e Pete Muntean, da CNN

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