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    Famílias temem por bebês nascidos nas enchentes devastadoras do Paquistão

    Segundo a OMS, mulheres e crianças foram desproporcionalmente afetadas pelas inundações catastróficas no país devido à falta de acesso a cuidados de saúde

    Famílias temem por bebês nascidos nas enchentes devastadoras do Paquistão
    Famílias temem por bebês nascidos nas enchentes devastadoras do Paquistão Javed Iqbal / CNN

    Javed IqbalSameer MandhroKathleen Magramoda CNN*

    Estava chovendo quando a filha de Kainat Solangi nasceu, em 14 de agosto, e quase não parou de chover desde então, deixando sua família presa em uma barraca improvisada em uma estreita faixa de terra cercada pelas piores inundações do Paquistão.

    A família de oito pessoas construiu seu abrigo usando móveis, lençóis e tudo mais que eles conseguiram salvar de sua casa inundada na vila de Rijepur, perto de Khairpur Nathan Shah, no sudoeste da província paquistanesa de Sindh.

    Segurando seu bebê de 24 dias, Shumaila, Solangi disse que se preocupa com seu recém-nascido, que ela tirou do hospital quando a chuva começou a cair porque ela não tinha dinheiro para pagar seus medicamentos.

    Agora, ela e seus outros cinco filhos estão famintos, doentes e cautelosos com as cobras que também procuram comida e áreas mais altas para fugir dos alagamentos. Seu marido, que ganha salário por dia de trabalho, não pode trabalhar.

    “Todos aqueles que podiam pagar, deixaram esta aldeia, mas ainda estamos aqui porque não podemos ir a lugar nenhum. É tudo uma questão de dinheiro”, disse ela. “Somos pessoas indefesas. Também estou doente e é o terceiro mês que tenho febre e infecção na garganta. Não podemos pagar nem para comprar remédios.”

    Mulheres e crianças foram desproporcionalmente afetadas pelas inundações catastróficas no Paquistão devido à falta de acesso a cuidados de saúde, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

    Cerca de 10% das instituições de saúde do país foram danificadas pelas enchentes, disse o representante da OMS no Paquistão, Palitha Gunarathna Mahipala, na segunda-feira (5). Ele disse estar especialmente preocupado com as 1,2 milhão de mulheres grávidas que estão entre as centenas de milhares de pessoas deslocadas.

    Kainat Solangi e seu bebê de 24 dias, Shumaila, cercados pelas águas da enchente, no Paquistão, em 5 de setembro de 2022 / Javed Iqbal / CNN

    Solangi pode ter sobrevivido ao nascimento de seu bebê, mas ela sabe que essa pequena faixa de terra entre as águas da enchente não é lugar para uma criança. Entretanto, ela disse que se sente mais segura lá do que em um campo de ajuda nas proximidades, acessível apenas por barco.

    “Não há nada no campo de ajuda”, disse ela. “As pessoas estão desamparadas. Eles não dão nada para as pessoas. É melhor viver aqui”, disse ela.

    ‘Malária de proporções epidêmicas’

    Em todo o Paquistão, outros como Solangi estão sobrevivendo com alimentos racionados deixados por trabalhadores humanitários enquanto esperam que as águas recuem. Cerca de 10 famílias estão amontoadas com Solangi na faixa de terra que em alguns pontos tem menos de cinco metros de largura apenas.

    As moscas pousam nos rostos das crianças enquanto elas dormem, e é difícil evitar os pernilongos que carregam a ameaça da malária, que pode causar febre, sintomas semelhantes aos da gripe e às vezes até a morte.

    Famílias estão vivendo em tendas improvisadas ao longo de uma pequena faixa de terra na província de Sindh, no Paquistão / Javed Iqbal / CNN

    “Uma senhora veio aqui e prometeu que nos forneceriam mosquiteiros, mas ela nunca mais voltou”, disse Solangi. “Ainda estou esperando por isso. Eles também registraram meu nome, mas ela não voltou mais”.

    Mahipala disse que a OMS está vendo a “malária de proporções epidêmicas” e que casos de febre tifóide e infecções da pele, olhos e trato respiratório estão se tornando mais comuns.

    “Tememos que a situação piore com o maior impacto humanitário e de saúde pública, particularmente na província de Sindh, à medida que as águas vão para o sul do país”, disse ele.

    O acesso a alimentos e água potável é difícil em Khairpur Nathan Shah, província de Sindh, no Paquistão / Javed Iqbal / CNN

    A OMS estima que cerca de 634 mil pessoas vivem em campos de deslocados, mas esse número pode ser maior porque é muito difícil acessar algumas áreas.

    “Somos pobres e não podemos sair desta área”

    Na faixa de terra, as crianças se misturam com o gado salvo da inundação e se divertem jogando água na enchente que agora cobre sua pequena aldeia.

    Mai Haleema, de 70 anos, cuida deles, mas principalmente quando dormem. Ela se preocupa que as crianças mais novas esqueçam onde estão e acidentalmente caiam na água que fica a poucos metros de suas camas.

    A água está tão alta que os moradores usam barcos para se locomover pela vila em busca de comida e outros suprimentos no Paquitão / Javed Iqbal / CNN

    “Nós mantemos nossos olhos em nossas crianças depois do pôr do sol. Elas podem cair na água sem perceber que não estão morando em suas antigas casas. Temos que cuidar delas”, disse Haleema.

    Haleema disse à CNN que testemunhou a dura temporada de monções do Paquistão ao longo de sua vida, mas esta é uma das piores.

    O Paquistão está na linha de frente da crise climática, enfrentando uma série de eventos climáticos extremos nos últimos meses, desde ondas de calor recordes até inundações destrutivas.

    “Esta área foi atingida por inundações quatro vezes na minha vida, mas eu me lembro de três delas. Mas desta vez, as fortes chuvas pioraram a situação. O nível da água não era tão alto no passado”, disse Haleema.

    Mai Haleema cuida de um menino enquanto ele dorme, no Paquistão, em 5 de setembro de 2022 / Javed Iqbal / CNN

    Ela se preocupa com o futuro, mas não pensa muito em sua casa danificada. “É inútil chorar por isso agora”, disse ela.

    Ela e Solangi estão mais preocupadas com as crianças e como elas vão sobreviver a essa provação. “Temos que guardar comida para nossos filhos”, disse Haleema. “Só Deus pode nos ajudar.”

    Solangi também espera uma intervenção divina para salvá-los de um desastre que ninguém esperava.

    “Deus é nosso salvador. Não estou me sentindo bem”, disse ela. “Meus filhos também estão doentes. Tenho que buscar água.”

    Casas na aldeia de Mai Haleema foram inundadas pela água da enchente no Paquistão / Javed Iqbal / CNN

     

    *Com informações de Hira Humayun, da CNN, em Atlanta.

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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