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    Explosão na Polônia mostra como a guerra na Ucrânia pode ficar mais séria

    Planeta continua em terreno perigoso, com a grande proximidade de a Otan participar da maior guerra terrestre na Europa desde a década de 1940

    Nick Paton Walshda CNN

    Os acidentes não são normalmente uma maneira de ampliar grandes guerras. Mas, com a ameaça de uma escalada gigantesca pairando fortemente sobre a invasão da Rússia à Ucrânia desde seu início, a queda de um míssil na terça-feira (15) na Polônia trouxe essa possibilidade à tona.

    Aparentemente a explosão não foi um ato da Rússia, deliberado ou não, mas sim uma tentativa ucraniana de interceptar um míssil russo que estava perdido. Em última análise, no entanto, trata-se possivelmente de um terrível efeito colateral da atitude ucraniana de ter de se defender de ondas sem fim de ataques de mísseis russos sobre povo e suas infraestruturas civis.

    A Polônia já não cogita mais pedir a invocação do Artigo 4 da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), com a qual poderia desencadear novas consultas sobre como se defender. A questão, agora, é saber onde fica a Otan e seu papel como a principal apoiadora e financiadora da defesa dura e sangrenta do seu território por parte da Ucrânia contra a agressão russa após esse breve momento de pânico.

    O fato de o presidente polonês, Andrzej Duda, afirmar que o ato “provavelmente foi um acidente” das defesas aéreas da Ucrânia reduz a probabilidade de uma resposta imediata da Otan. Os destroços podem ajudar a provar que o míssil veio de um sistema de defesa aérea S-300 fabricado pela Rússia e operado pela Ucrânia. No fundo, descobrir que esse incidente foi um acidente é o melhor resultado para todas as partes. O resultado também proporciona a possibilidade de a Otan reforçar as defesas aéreas da Ucrânia, talvez com sistemas que possam não atingir acidentalmente nos seus estados-membros.

    Acima de tudo, a hora teria sido improvável para a Rússia tentar escalar para um conflito total com a Otan, a maior aliança militar na história humana.

    A Rússia vem colecionando derrotas contra as forças armadas menores, mas mais bem organizadas, da Ucrânia em várias linhas da frente. Ela está se retirando voluntariamente de zonas que se declararam falsamente como parte do território russo.

    Está enviando prisioneiros e convocados à força para a linha da frente e escavando trincheiras antigas e rudimentares antes de um provável inverno difícil. Em suma, a Rússia está em uma posição terrível. Sim, um ataque aleatório à Polônia teria distraído o povo da derrota russa provocada pelo seu colapso na cidade-chave de Kherson. Mas seria uma jogada devastadoramente míope, suscetível de resultar na maior degradação das forças armadas da Rússia em confronto com a Otan.

    Continuamos num terreno perigoso, com a grande proximidade de a Otan participar da maior guerra terrestre na Europa desde a década de 1940. Muitas coisas podem dar errado, e as leis da física sugerem que eventualmente elas dão mesmo.

    A Polônia terá provavelmente de responder a esse incidente aumentando as suas defesas aéreas. A Alemanha já se ofereceu para ajudar a patrulhar o seu espaço aéreo. As forças dissuasoras são poderosas e a Rússia está perfeitamente consciente delas. Mas mais aviões e mais mísseis de defesa aérea nessa área febril apenas aumentam as chances de que mais acidentes possam acontecer. Separatistas apoiados pela Rússia derrubaram o voo civil MH17, da Malaysia Airlines, em 2014, num erro aparente, mas isso não tornou a perda de vidas agradável ou suavizou a resposta ocidental.

    O governo russo também está num péssimo lugar estrategicamente. Isso pode torná-lo mais inclinado a atos prudentes, mas, ao mesmo tempo reduz o espaço público para desescalar o conflito, como pedir desculpas ou aceitar um erro caso ele ocorra.

    O presidente russo, Vladimir Putin, passou a quarta-feira (16) ocupado discutindo a indústria automobilística do país e evitando uma explicação pública sobre a retirada de Kherson. O que não significa que ele não esteja sentindo a pressão. Com os radicais questionando sua conduta sobre a guerra desastrosa escolhida por ele, Putin tem pouco espaço internamente para desistir de um confronto com a Otan caso um outro erro ou incidente iniciem um. A retórica do estado russo já enquadra essa luta como a de Moscou contra toda a aliança da Otan. É mais difícil voltar atrás de uma luta que você afirma que você já está dentro.

    Portanto, a explosão na Polônia é mais um sinal da lenta escalada da guerra. Os movimentos pequenos e gelados (as ameaças às centrais nucleares da Ucrânia, a explosão do gasoduto Nord Stream, uma explosão que atingiu fatalmente uma fábrica de cereais polonesa) desgastam o sentido do que é impossível, e geram uma nova série de normas. Fazem com que o relógio soe ainda mais alto quando se trata do prazo dessa guerra e de por quanto mais tempo os apoiadores da Ucrânia suportam o conflito.

    É evidente que o governo russo está disposto a aguentar enormes quantidades de dor, derrota e vergonha antes de colocar um fim à campanha desastrosa. Isso posiciona ainda mais longe o momento da sua derrota ou retirada e abre um prazo maior, no qual mais equipamento militar em locais perigosos e violentos pode resultar em mais erros.

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