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    Exército russo utiliza hordas de soldados para furar defesas da Ucrânia

    Com menos tropas, armas e munições, ucranianos têm dificuldade para manter suas posições

    Joseph AtamanFrederik PleitgenDaria Tarasova-Markinada CNN

    Situada na linha da frente da batalha, a pequena cidade de Avdiivka se tornou o epicentro da guerra na Ucrânia. Ainda dominada pelos ucranianos, ela está cercada em três lados por tropas e canhões russos.

    Golpeada pelo exército invasor, a cidade está irreconhecível. Carcaças de concreto marcam o que já foram os edifícios mais altos do município, aparentemente flutuando entre pequenas colinas de escombros.

    A cruz no topo da igreja da cidade, dobrada ao meio por uma explosão, aponta para as linhas russas.

    Em meio às ruínas, tropas russas e ucranianas se enfrentam, atacadas por drones e tanques. As baixas são pesadas em ambos os lados, mas especialmente entre os russos, que lançam onda após “onda humana” contra os defensores entrincheirados.

    “Ataques de carne” foi como um sniper ucraniano, chamado “Bess”, descreveu a ofensiva à CNN. Seu apelido significa “demônio” em ucraniano, e a cena que ele narra é infernal.

    Os soldados mortos “ficam ali congelados”, pontuou o oficial do Grupo de Forças Especiais Omega, direto de uma casa a vários quilômetros atrás da linha de frente, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia.

    “Ninguém os reitra de lá, ninguém os leva embora. Parece que as pessoas não têm uma tarefa específica, elas simplesmente vão e morrem”, ponderou.

    “Teren”, o comandante de uma unidade ucraniana de reconhecimento de drones na cidade, ressaltou que mesmo “se conseguirmos matar 40 a 70 militares com drones em um dia, no dia seguinte eles renovarão as suas forças e continuarão a atacar”.

    Em 18 meses de combates ao redor da cidade, relatou, seus pilotos da 110ª Brigada Mecanizada mataram ao menos 1.500 russos. Mesmo assim, eles continuam vindo.

    O número de baixas ucranianas é um segredo bem guardado, mas a batalha se transformou em um trabalho árduo, correspondendo aos ataques russos aparentemente caóticos contra os limitados, mas determinados, recursos e soldados dos ucranianos.

    Em viagem surpresa a Avdiivka no final de dezembro, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, descreveu a batalha pela cidade como um “ataque violento”, acrescentando que a luta poderia, em muitos aspectos, “determinar o curso geral da guerra”.

    Os líderes da Ucrânia parecem estar cientes das críticas em torno da defesa, e queda, de Bakhmut em 2023, reconhecendo as tensões óbvias entre manter locais sem grande significado estratégico e proteger as vidas dos soldados.

    “Cada pedaço da nossa terra é precioso para nós”, ponderou o chefe do Exército, Valery Zaluzhny, mas em Avdiivka, “não há necessidade de fazer nada remotamente parecido com um espetáculo”.

    Falta de armas e munição

    Mas as vidas dos soldados dependem de armas e munição.

    Em uma manhã gelada de janeiro, com termômetros marcando -22°C, a CNN presenciou outra equipe das forças especiais Omega correr para sua posição de tiro em torno de Avdiivka.

    Correndo para montar seu lançador de foguetes da era soviética, aparafusado na traseira de uma picape americana, um dos homens apertou o botão para lançar uma salva.

    Cliques e xingamentos foram ouvidos na sequência. Congelados, os foguetes não disparavam.

    Dependendo do equipamento que possuem, e não do hardware ocidental que desejam, eles sabem que cada oportunidade perdida de contra-atacar os russos pode custar vidas aos ucranianos.

    Poucos dias depois, um caminhão de abastecimento passou pela lama de um campo ao redor da cidade vizinha de Marinka, trazendo os tão necessários projéteis para a arma.

    Militar ucraniano inspeciona trincheira recém-cavada perto de Kupiansk / 28/12/2023 REUTERS/Thomas Peter

    Mas o canhão, um M777 fornecido pelos EUA, permanece silencioso durante a maior parte do dia, com racionamento para que dispare cerca de 20 projéteis por dia, ou 30 em um “bom dia”, relataram os artilheiros.

    No verão passado, apoiando a contra-ofensiva fracassada da Ucrânia, os canhões disparavam ao menos o dobro de projéteis estrangeiros, muitos deles de fabricação norte-americana, contra os russos, disseram.

    Em outro ponto, em um local a 90 minutos a norte de Avdiivka, perto da cidade de Bakhmut, que a CNN visitou, o compartimento de munições de um Paladin fornecido pelos EUA estava vazio. Os militares não tinha nenhum projétil para disparar.

    Uma entrega no final do dia trouxe quatro projéteis, mas nada que pudesse causar muito dano aos russos: eram apenas projéteis de fumaça.

    “Todos os projéteis que podem ser usados no Paladin nós usamos”, disse o comandante do canhão “Skyba” à CNN. “É melhor do que nenhum projétil”, ressaltou.

    “Dez para um” é a diferença entre os suprimentos de artilharia russa e ucraniana, disse à CNN o comandante da artilharia da 93ª Brigada Mecanizada da Ucrânia.

    “Eles usam antigos sistemas soviéticos, mas os sistemas soviéticos ainda podem matar”, alertou.

    Ajuda estrangeira acabando

    Contudo, o apoio dos Estados Unidos à Ucrânia já não parece garantido. Os futuros pacotes de ajuda ainda estão travados em disputas no Capitólio, e a possibilidade de uma possível Presidência de Trump, contrária à ajuda à Ucrânia, no horizonte, acrescenta ainda mais incerteza.

    O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, disse claramente este mês: “A assistência que prestamos foi interrompida. Os ataques que os russos estão conduzindo estão apenas aumentando”.

    Mas quando puderem colocar em uso as armas fornecidas pelo Ocidente, os ucranianos terão muito mais para comemorar em Avdiivka.

    O veículo de combate Bradley, oferecido à Ucrânia pelos EUA e concebido para apoiar a infantaria, está atenuando ondas de ataques russos.

    Sem o Bradley, “duvido que estaríamos aqui conversando com você”, avaliou o comandante da tripulação “Barbie” à CNN atrás da linha de frente de Avdiivka.

    “O veículo é resistente. Não tem medo de nada”, comentou.

    Um tanque ucraniano T-64 em serviço de combate no distrito de Bakhmut em 8 de dezembro. / Kostya Liberov/Libkos/Getty Images

    Em vídeo fornecido à CNN por outra unidade Bradley, da 47ª brigada mecanizada, uma tripulação treinada pelos EUA enfrenta um tanque russo T-90, um dos mais poderosos do exército de Moscou.

    Os tiros deles desativam o tanque, mantendo sua torre girando incontrolavelmente, antes que um drone explosivo atinja seu lado.

    Mas os Bradleys fabricados nos EUA têm fornecimento limitado na frente de batalha.

    Cerca de 200 Bradleys foram prometidos pelos Estados Unidos e dezenas foram danificados e destruídos em batalha. Alguns deles provavelmente foram reparados e enviados de volta para a linha de frente.

    As tripulações ucranianas, embora admiradoras do poder do Bradley, também criticaram a sua capacidade de resistir ao rigoroso inverno ucraniano e ao estado de alguns dos veículos mais antigos enviados pelos EUA.

    Assim, a falta de poder de fogo da Ucrânia em comparação com o seu adversário é um tema comum na linha da frente. “Teren”, o comandante de uma unidade de reconhecimento de drones próxima, afirmou abertamente que a Ucrânia não tem armas e equipamentos suficientes para vencer a Rússia.

    Os ucranianos, entãom são forçados a serem melhores pilotos e mais inventivos com os seus recursos limitados, destacou.

    “No início da guerra, a vantagem deles em drones era 10 vezes maior que a nossa. No momento, acho que somos um adversário digno no formato drone. Cobrimos o céu o tempo todo”, explicou.

    Observando a caça às tropas russas a partir do posto de comando da unidade, a CNN viu vários drones circulando uma trincheira russa.

    As poderosas câmeras de um drone capturaram dois soldados russos mirando desesperadamente um drone suicida, com a fumaça de seus rifles e cigarros flutuando no ar frio. O drone ucraniano mergulha no estreito abrigo atrás deles e explode.

    A CNN não sabe o que aconteceu com os soldados, mas os pilotos de drones na área disseram à CNN que é improvável que tenham sobrevivido, dado o número de unidades de drones operando na área.

    Um copo transbordando

    Ainda assim, os ataques russos continuam, o que significa que manter Avdiivka é agora uma questão de números, disse “Bess”, o sniper das forças especiais.

    Para equilibrar os números superiores da Rússia, a liderança da Ucrânia, sob pressão dos principais generais do país, está mobilizando até meio milhão de soldados adicionais para reforçar as fileiras militares.

    A vida nas cidades ucranianas longe da frente de batalha parece relativamente inalterada pelos combates.

    Embora cartazes de recrutamento e postos de controle militares pontilhem as rodovias e homens uniformizados sejam uma visão regular, há poucos sinais evidentes de restrições durante a guerra ou mudanças na vida cotidiana. Os supermercados e os cafés estão lotados de clientes.

    Mas o recrutamento é um assunto delicado.

    O presidente ucraniano tem o poder de impor a maior mobilização, actualmente limitada aos maiores de 27 anos, mas optou por procurar a aprovação parlamentar para tal. O projeto de lei está lentamente, e não sem dificuldade, passando pela análise dos legisladores.

    Zelensky também questionou como pagar a mobilização, com seis contribuintes obrigados a pagar o salário de cada soldado uniformizado, destacou.

    A sua reticência é um sinal das sensibilidades políticas em torno da opinião pública na Ucrânia, mesmo quando os inimigos do país não escondem as suas ambições violentas para Kiev.

    “A existência da Ucrânia é mortal para os ucranianos”, publicou o ex-presidente russo Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia e um dos políticos russos mais agressivos, no Telegram em 17 de janeiro.

    “Por que? A existência de um Estado independente nos territórios históricos russos será agora um pretexto constante para a retomada das ações de combate”, continuou.

    De volta à linha de frente, a moral entre as tropas com quem a CNN conversou estava alto.

    Os soldados, cansados, mas raramente descontentes, reconheceram que os reforços proporcionariam um aumento bem-vindo nas suas rotações fora da linha da frente.

    Por enquanto, ainda assim, esta continua sendo uma esperança distante, já que em Avdiivka a luta continua.

    “Estamos fazendo todo o possível e impossível para manter esta linha”, ressaltou o oficial das Forças Especiais Omega “Sayer” à CNN.

    “Não sei o que vai acontecer a seguir. Mas Avdiivka está aguentando. Estamos em nossa terra. Nós não temos nada a perder”, concluiu

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