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    Exclusivo CNN: Mensagens do dia 6 de janeiro foram apagadas de celulares do Pentágono no governo Trump

    Reconhecimento de que os celulares foram apagados foi revelado pela primeira vez em uma ação da Lei da Liberdade de Informação, movida pela entidade American Oversight

    Tierney SneedZachary Cohenda CNN

    O Departamento de Defesa dos Estados Unidos limpou os telefones de seus principais oficiais e do Exército no fim do governo Trump, e deletou todas as mensagens de texto de testemunhas-chave dos eventos relativos à invasão do Capitólio dos EUA no dia 6 de janeiro de 2021, de acordo com arquivos judiciais.

    O reconhecimento de que os celulares dos funcionários do Pentágono foram apagados foi revelado pela primeira vez em uma ação da Lei da Liberdade de Informação (Freedom of Information Act, ou FOIA) movida pela entidade American Oversight contra o Departamento de Defesa e o Exército.

    O órgão de vigilância está em busca dos registros do dia 6 de janeiro do ex-secretário interino de Defesa, Chris Miller, do ex-chefe de gabinete, Kash Patel, e do ex-secretário do Exército, Ryan McCarthy, entre outros importantes oficiais do Pentágono. Os requerimentos iniciais referentes à FOIA foram apresentados apenas alguns dias após o ataque ao Capitólio.

    Miller, Patel e McCarthy são considerados testemunhas cruciais para entender a resposta do governo à invasão do Capitólio em 6 de janeiro e a reação do ex-presidente Donald Trump ao ataque. Todos os três estavam envolvidos na resposta do Departamento de Defesa de enviar tropas da Guarda Nacional para o Capitólio dos EUA enquanto o tumulto se desenrolava. Nada sugeriu que os próprios funcionários apagaram os registros.

    A afirmação do governo nos autos de que as mensagens dos oficiais enviadas naquele dia não foram preservadas é o último golpe nos esforços para dar transparência aos eventos de 6 de janeiro. O fato ainda surge num momento em que o Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) também é alvo de críticas pela aparente perda de mensagens do Serviço Secreto daquele dia.

    Miller se recusou a comentar. Patel e McCarthy não responderam aos pedidos de comentários. O Departamento de Defesa também não respondeu imediatamente a um pedido da CNN. A chefe de relações públicas do Exército dos EUA, coronel Cathy Wilkinson, disse em comunicado que “é nossa política não comentar sobre processos em andamento”.

    A American Oversight agora pede que o Departamento de Justiça conduza uma “investigação entre agências” para apurar a destruição dos materiais.

    “É simplesmente inacreditável que a agência não entendeu a importância de preservar seus registros – em especial no que diz respeito aos altos funcionários – que poderiam ter apreendido o que as pessoas estavam fazendo, quando e por que estavam fazendo, naquele dia”, disse Heather Sawyer, diretora executiva da American Oversight, à CNN.

    Sawyer explicou que sua organização soube que os registros não haviam sido preservados por meio de advogados do governo no início deste ano, e que o reconhecimento foi então documentado em um relatório conjunto apresentado ao órgão judicial em março.

    “O Departamento de Defesa e o Exército comunicaram ao autor da ação que quando um funcionário se desliga do órgão ou do Exército, ele ou ela entrega o telefone fornecido pelo governo, e o celular é apagado”, afirmou o governo nos autos.

    “Para aqueles que não estão mais na agência, as mensagens de texto não foram preservadas e, portanto, não puderam ser pesquisadas, embora seja possível que algumas mensagens de texto possam ter sido salvas em outros sistemas de registro, como e-mails”.

    O reconhecimento de que os registros não foram preservados ganhou um novo significado na esteira do escândalo em andamento sobre a perda de textos do dia 6 de janeiro dos agentes do Serviço Secreto.

    “Isso só revela uma falta generalizada de seriedade em relação à obrigação de preservar registros, de garantir a responsabilização perante o poder legislativo e o povo americano”, comentou Sawyer.

    O Serviço Secreto disse que seus textos foram perdidos por conta de uma migração de dados dos celulares de seus agentes, programada anteriormente e que começou no dia 27 de janeiro de 2021, exatamente três semanas após o ataque ao Capitólio dos EUA. O inspetor-geral de Segurança Interna, Joseph Cuffari, soube que esses textos estavam desaparecidos em maio de 2021, como reportou a CNN.

    O padrão existente em diversas agências levou a organização de Sawyer a escrever para o procurador-geral Merrick Garland, que já está enfrentando a demanda de democratas do Congresso para que assuma a investigação do DHS sobre as mensagens de texto desaparecidas do Serviço Secreto.

    “A American Oversight, portanto, insiste que sejam investigadas as ações do órgão ao permitir a destruição de registros potencialmente relevantes para este importante assunto de atenção nacional e importância histórica”, incluía a carta, citando os apelos do senador democrata Dick Durbin de que o Departamento de Segurança Interna seja investigado por falhas semelhantes, constava ainda na carta, compartilhada com a CNN na terça-feira (2).

    Após protocolar o requerimento da FOIA junto ao Departamento de Defesa e ao Exército, a American Oversight afirma que o Pentágono reconheceu o pedido em 15 de janeiro de 2021.

    A American Oversight então entrou com uma ação judicial em março para forçar a divulgação dos registros. Além das obrigações referentes à Lei da Liberdade de Informação, o órgão de vigilância alega ainda que o Pentágono, ao não preservar os registros, ignorou uma outra lei federal de registros que também exige que o governo preserve registros que tenham “valor informativo dos dados neles contidos”, conforme destacou Sawyer.

    “Acho bem pouco provável que alguém possa dizer que as comunicações entre esses altos funcionários no dia 6 de janeiro não teriam o tipo de valor informativo a que a Lei Federal de Registros se refere”, comentou Sawyer.

    A American Oversight está em busca de registros de diversos outros oficiais do Pentágono, alguns dos quais continuam a serviço do governo.

    “Para aqueles ainda na agência, o Exército iniciou uma busca por mensagens de texto em resposta às solicitações da FOIA, e estima concluir sua pesquisa complementar até o fim de setembro”, disse o Departamento de Justiça no relatório conjunto de julho.

    Um porta-voz do Departamento de Justiça se recusou a comentar.

    O que o Pentágono ouviu da Casa Branca enquanto o ataque ao Capitólio acontecia foi o foco da investigação conduzida pela Câmara sobre o 6 de janeiro e, segundo os legisladores, um dos objetivos é abordar as falhas de segurança daquele dia.

    O Comitê de 6 de janeiro da Câmara divulgou na semana passada o testemunho de Miller negando que o ex-presidente Donald Trump havia dado uma ordem formal para ter 10 mil soldados prontos para serem enviados ao Capitólio em 6 de janeiro.

    “Nunca recebi nenhuma orientação ou ordem, ou soube de qualquer plano dessa natureza”, afirmou Miller no vídeo.

    Um porta-voz do Comitê de 6 de janeiro se recusou a comentar os registros relacionados ao Pentágono.

    Um ex-oficial do Departamento de Defesa, que fez parte de um governo anterior, contou à CNN que, durante o treinamento de novos funcionários, é deixado muito claro que seus dispositivos de trabalho estão sujeitos à Lei de Registros Presidenciais, e que suas comunicações serão arquivadas. A fonte ainda afirmou que presumia-se que, quando os agentes entregaram seus dispositivos no fim de seu contrato, todos os registros de comunicação estariam arquivados.

    (Jeremy Herb, Katie Bo Lillis e Ellie Kaufman, da CNN, contribuíram para esta reportagem)

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