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    Exclusivo CNN: aliados de Trump consideraram usar dados violados para interferir em eleição para Senado

    Ex-presidente dos EUA questionou sistema eleitoral diversas vezes antes e após perder as eleições presidenciais de 2020

    Ex-presidente dos EUA Donald Trump discursa em Palm Beach, EUA
    Ex-presidente dos EUA Donald Trump discursa em Palm Beach, EUA 04/04/2023REUTERS/Marco Bello

    Zachary Cohenda CNN

    Em meados de janeiro de 2021, dois homens contratados pela equipe jurídica do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump discutiram por mensagem de texto o que fazer com os dados obtidos de uma urna eletrônica violada em um condado rural da Geórgia, incluindo se deveriam usá-los como parte de uma tentativa de cancelar os resultados pendentes do segundo turno do Senado do estado.

    Os textos, enviados duas semanas depois que os agentes violaram uma máquina de votação em Coffee County, na Geórgia, revelam pela primeira vez que os aliados de Trump consideraram usar dados de votação não apenas para anular os resultados da eleição presidencial de 2020, mas também em um esforço para manter um controle republicano no Senado dos Estados Unidos.

    “Aqui está o plano. Vamos manter isso sob controle”, escreveu Jim Penrose, ex-funcionário da NSA que trabalha com o advogado de Trump, Sidney Powell, para acessar máquinas de votação na Geórgia, em uma mensagem de 19 de janeiro para Doug Logan, CEO da Cyber Ninjas, empresa que pretende realizar auditorias de sistemas de votação.

    No texto, que foi obtido pela CNN em primeira mão, Penrose faz referência à iminência da certificação da vitória do democrata Jon Ossoff sobre o republicano David Perdue.

    “Temos apenas até sábado para decidir se vamos usar este relatório para tentar cancelar a eleição de segundo turno do Senado ou se vamos mantê-lo para um momento maior”, escreveu Penrose, referindo-se a um possível processo.

    A trama para violar os sistemas de votação em Coffee County, coordenada por membros da equipe jurídica de Trump, incluindo Rudy Giuliani e Sidney Powell, faz parte de uma investigação criminal mais ampla sobre a interferência nas eleições de 2020 liderada pelo procurador distrital do condado de Fulton, Fani Willis.

    O escritório de Willis está avaliando um possível caso de extorsão contra vários réus e está decidindo ativamente contra quem apresentar acusações, disseram fontes à CNN.

    O procurador intimou vários indivíduos envolvidos na violação de Coffee County, incluindo os dois homens que a executaram e que estavam em contato com Penrose e Logan.

    Também forma intimados Giuliani e Powell como parte de sua investigação. Giuliani foi informado de que é um alvo na investigação do condado de Fulton, conforme noticiado pela CNN anteriormente.

    O grande júri especial convocado para o caso recomendou a emissão de múltiplas acusações em seu relatório final, concluído em fevereiro, de acordo com o representante do júri.

    Uma fonte familiarizada com a investigação de Willis disse à CNN que o promotor e sua equipe têm em sua posse evidências de que os aliados de Trump planejavam usar os dados de votação violados da Geórgia para tentar cancelar a eleição de segundo turno do estado.

    Os e-mails obtidos pela CNN mostram que Penrose e Powell conseguiram um pagamento adiantado para uma empresa forense cibernética que enviou uma equipe para Coffee County em 7 de janeiro de 2021.

    A violação no condado também está sob investigação do Georgia Bureau of Investigation — órgão estadual.

    O procurador especial Jack Smith também parece estar examinando a possibilidade de violar ou capturar máquinas de votação como parte de sua investigação federal sobre os esforços para anular a eleição de 2020 e o ataque de 6 de janeiro ao Capitólio dos EUA.

    Não está claro se há alguma evidência que ele tenha em sua posse relacionada à violação de Coffee County.

    Penrose e Logan também foram citados em uma investigação criminal estadual em Michigan, alegando que participaram de uma conspiração para violar máquinas de votação lá.

    Um advogado de Giuliani se recusou a comentar e encaminhou à CNN a transcrição do depoimento do comitê de 6 de janeiro.

    Powell, Penrose e Logan não responderam aos pedidos de comentários.

    Máquina de votação violada na Geórgia

    Em 7 de janeiro de 2021, um dia após a invasão do Capitólio dos Estados Unidos, duas pessoas entraram em um escritório eleitoral em Coffee County, na Geórgia, em uma parte rural do estado que votou de forma esmagadora em Trump em 2020.

    Um oficial eleitoral local os ajudou a obter acesso a dados confidenciais de votação que eles baixaram em um disco rígido portátil.

    Esses dados foram então enviados para um servidor criptografado e compartilhados com vários aliados e agentes de Trump, incluindo Logan, Penrose, Powell e Giuliani, de acordo com registros de acesso revisados pela CNN e depoimentos divulgados pelo comitê de 6 de janeiro.

    No ano passado, um ex-funcionário de Trump testemunhou sob juramento ao comitê da Câmara em 6 de janeiro que os planos de acessar os sistemas de votação na Geórgia foram discutidos em reuniões na Casa Branca, inclusive durante uma agora infame reunião do Salão Oval em 18 de dezembro de 2020, que incluiu Trump.

    Derek Lyons, ex-vice-conselheiro da Casa Branca que estava naquela reunião, testemunhou ao comitê de 6 de janeiro que Giuliani sugeriu o acesso às urnas eletrônicas na Geórgia como uma alternativa a ordenar que os militares ou o Departamento de Segurança Interna apreendessem as urnas eletrônicas.

    “Seu ponto de vista era que, de alguma forma, a campanha, acredito, seria capaz de garantir o acesso às máquinas de votação na Geórgia por outros meios que não a apreensão”, disse Lyons sobre Giuliani, de acordo com a transcrição de seu depoimento.

    O ex-conselheiro pontuou ao comitê que Giuliani sugeriu que o acesso seria “voluntário” e que o exame dessas máquinas “começaria a mostrar evidências das alegações que estavam sendo feitas”.

    “Essa evidência poderia então ser aproveitada para … obter acesso a máquinas adicionais. A Geórgia era o tema da discussão naquela época”, afirmou Lyons.

    Não há evidências de que os dados de votação do Condado de Coffee tenham sido usados como parte de um processo para tentar invalidar os resultados do segundo turno do Senado.

    Mas o fato de os dados ainda não terem sido recuperados levantou preocupações entre os defensores da segurança eleitoral sobre como eles poderiam ser usados para atrapalhar os resultados futuros.

    Em uma carta de dezembro de 2022 ao FBI, Susan Greenhalgh, consultora sênior de segurança eleitoral do grupo de defesa Free Speech For People, descreveu como cópias dos dados de votação de Coffee County foram “compartilhadas secretamente com um número desconhecido de negadores das eleições”.

    A carta alertava que os dados “poderiam ser usados para semear desconfiança nas eleições, fabricar evidências para contestar os resultados eleitorais legítimos ou até mesmo para manipular os resultados eleitorais no futuro”.

    Greenhalgh está entre os envolvidos em um processo civil focado na segurança eleitoral na Geórgia. Ela pediu ao FBI e à equipe de Smith para investigar a violação de Coffee County ainda esta semana.

    Esforços mais amplos

    Em busca por evidências para apoiar as alegações infundadas de fraude eleitoral, após a eleição de 2020, os aliados de Trump contrataram uma empresa de segurança pouco conhecida com sede no Texas, chamada Allied Security Operations Group (ASOG), para investigar supostas irregularidades nas máquinas de votação em um punhado de estados “pêndulo” que Trump perdeu, incluindo Michigan, Arizona e Geórgia.

    Algumas semanas antes da violação do condado de Coffee, no final de dezembro de 2020, os aliados do ex-presidente tiveram acesso às urnas eletrônicas no condado de Antrim, no Michigan, um condado de aproximadamente 24 mil pessoas, onde Trump obteve 61% dos votos.

    A equipe então pegou esses dados e, com a ajuda da ASOG, produziu um relatório alegando vulnerabilidades do Dominion Voting Systems. Esse relatório, que desde então foi amplamente desmascarado, formou a base de uma ação movida por Powell em dezembro de 2020 contestando os resultados das eleições em Michigan.

    Esse processo foi um dos mais de 60 movidos pela equipe jurídica de Trump contestando os resultados das eleições, que foram rejeitados em tribunais de todo o país.

    Ainda assim, Logan e Penrose, que faziam parte da equipe que produziu o relatório do condado de Antrim, consideraram usar os dados do condado de Coffee de maneira semelhante para desafiar o segundo turno do Senado da Geórgia.

    Nas mensagens de 19 de janeiro, os dois homens planejaram criar um relatório com a ajuda do principal advogado da ASOG, um homem chamado Charles Bundren, que esteve profundamente envolvido em esforços anteriores para obter acesso aos sistemas de votação.

    “Se você puder redigir um relatório para revisão na manhã de sexta-feira com Charles Bundren, seria melhor”, escreveu Penrose a Logan em mensagem de texto.

    Bundren fez parte da equipe listada pelos advogados de Trump para encontrar evidências de fraude eleitoral generalizada após a eleição de 2020.

    Ele ajudou a supervisionar o esforço de vários estados para acessar as máquinas de votação em nome da equipe jurídica de Trump, de acordo com vários documentos obtidos pela CNN.

    Bundren também teve um papel prático no desenvolvimento de algumas das opções mais extremas consideradas pelo círculo íntimo de Trump, incluindo ajudar a redigir ordens executivas em dezembro de 2020, instruindo os militares e o DHS a apreender máquinas de votação, de acordo com uma fonte com conhecimento direto do papel de Bundren no plano. As ordens nunca foram assinadas por Trump.

    Mesmo depois que o relatório do condado de Antrim foi repetidamente desmascarado por autoridades locais, estaduais e federais, aliados de alto escalão de Trump, incluindo Giuliani e Powell, recomendaram especificamente aos legisladores de todo o país que contratassem a empresa de segurança para conduzir uma auditoria dos resultados das eleições de 2020.

    Isso aconteceu na Pensilvânia, onde o senador estadual republicano Doug Mastriano, um dos defensores mais confiáveis de Trump para anular os resultados das eleições de 2020, instou as autoridades do condado em seu estado a não apenas iniciar uma auditoria externa, mas contratar a ASOG para realizá-la, de acordo com um carta obtida pela CNN.

    No Arizona, as autoridades republicanas estaduais inicialmente tentaram contratar a ASOG para realizar a auditoria partidária no condado de Maricopa, mas acabaram escolhendo a Cyber Ninja de Logan devido ao escrutínio público sobre o relatório Antrim.

    Mas Bundren permaneceu intimamente envolvido nesse processo e coordenou diretamente com os funcionários do Partido Republicano que supervisionavam a falsa auditoria.

    Seus associados da ASOG até recomendaram Logan para o trabalho, uma vez que ficou claro que eles não poderiam ser contratados.

    Bundren e outros funcionários da empresa também participaram discretamente da própria auditoria depois de serem contratados como subcontratados, trabalhando sob empresas com nomes diferentes, mensagens de texto e outros documentos obtidos pelo grupo American Oversight e compartilhados com o programa da CNN.

    Em todas as frentes, Bundren trabalhou em estreita colaboração com Phil Waldron, membro da ASOG e coronel aposentado do Exército que fazia parte da equipe de Giuliani que estava investigando alegações de fraude eleitoral após a eleição de 2020.

    Ele foi fundamental para o esforço mais amplo de acessar máquinas de votação nos principais estados indecisos.

    Logan testemunhou no processo judicial da Geórgia que produziu um relatório sobre os dados do Condado de Coffee para Bundren e parece ter chegado a Giuliani, que disse ao comitê da Câmara em 6 de janeiro que sua equipe teve acesso às máquinas de votação no Condado de Coffee, de acordo com uma transcrição de seu depoimento divulgada pelo painel.

    Questionado se alguém teve acesso a máquinas em Coffee County e lhe forneceu um relatório, Giuliani disse ao comitê da Câmara que “sim”, lembrando que o indivíduo era Waldron.

    Bundren e Waldron não responderam aos pedidos de comentários.

    *Sara Murray, Jason Morris e Paula Reid, da CNN, contribuíram para esta reportagem

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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