EUA se aproximam de Taiwan com visita de secretário; China condena encontro
Secretário de Saúde americano se encontra com presidente de Taiwan nesta segunda, na mais importante agenda entre o governo dos EUA e a ilha em décadas
Alex Azar, o secretário de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, se reúne com o presidente taiwanês Tsai Ing-wen nesta segunda-feira (10), no encontro mais importante entre Washington e a ilha autônoma em décadas.
A visita foi condenada por Pequim, que considera Taiwan como território chinês, e ocorre em meio a altas tensões nas relações EUA-China.
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Azar chegou a Taiwan no domingo, onde ele e sua equipe fizeram testes do novo coronavírus e foram vistos usando máscaras faciais. O grupo foi recebido por membros do Ministério de Relações Exteriores de Taiwan, bem como pelo diretor geral dos Centros de Controle de Doenças de Taiwan e pelo diretor do Instituto Americano em Taiwan, a embaixada de fato dos Estados Unidos.
Falando na segunda-feira, Azar disse que sua viagem “demonstra a sólida parceria EUA-Taiwan em saúde global e segurança sanitária, um dos muitos aspectos de nossa amizade abrangente”.
“Consideramos Taiwan um parceiro vital, uma história de sucesso democrático e uma força do bem no mundo”, acrescentou.
“Há três temas abrangentes para esta viagem. O primeiro é reconhecer Taiwan como uma sociedade aberta e democrática, que executou uma resposta à Covid-19 altamente bem-sucedida e transparente. O segundo é reafirmar Taiwan como um parceiro de longa data e amigo dos Estados Unidos, e para destacar nossa história de ampla colaboração em saúde e saúde pública. A terceira é observar que Taiwan merece ser reconhecido como um líder global em saúde com um excelente histórico de contribuição para a saúde internacional”.
Taiwan tem sido amplamente aclamada por sua resposta eficaz ao novo coronavírus, com 479 casos e sete mortes em uma população de 23 milhões de pessoas. Esse sucesso serviu para destacar a exclusão de Taiwan da Organização Mundial da Saúde (OMS), onde a China impediu seu vizinho de tomar assento de observador.
China condena encontro
Embora o Partido Comunista nunca tenha controlado Taiwan, Pequim considera a ilha uma parte soberana da China.
“A China se opõe firmemente a qualquer interação oficial entre os EUA e Taiwan. Esta posição é consistente e clara. A China fez duras representações junto aos EUA tanto em Pequim quanto em Washington”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Wang Wenbin, na semana passada.
“Quero enfatizar que o princípio de uma só China é universalmente reconhecido pela comunidade internacional. Qualquer tentativa de ignorar, negar ou desafiar esse princípio está fadada ao fracasso.”
Após a conclusão da guerra civil chinesa em 1949, quando o governo nacionalista derrotado se retirou para Taiwan, a República da China – como a ilha é oficialmente conhecida – continuou a manter relações diplomáticas e uma sede nas Nações Unidas, o que significa que havia efetivamente duas Chinas competindo por reconhecimento e alianças.
Como muitos países abriram relações com a República Popular da China, eles cortaram os laços com Taiwan, que perdeu sua sede na ONU em 1971.
Hoje, poucos países têm relações diplomáticas com a ilha, reconhecendo Pequim como o governo legítimo de “uma só China”. No entanto, muitos países, incluindo os EUA, não reconhecem as reivindicações chinesas de soberania sobre a ilha de Taiwan.
Nos últimos anos, à medida que Taiwan se afastava da órbita da China, elegendo o Partido Popular Democrático pró-independência de Tsai, aumentaram os pedidos de alguns países para que apoiassem mais a ilha em face da pressão chinesa, tanto militar quanto diplomática.
A crise do novo coronavírus e a resposta bem-sucedida de Taiwan reforçaram a posição de Taipei globalmente, com dezenas de países apoiando uma moção em uma recente reunião da OMS – que acabou sendo descartada devido a limitações de tempo – para readmitir Taiwan como observador.
Com o crescimento das tensões entre Washington e Pequim, os EUA parecem estar dispostos a se envolver com Taiwan muito mais do que no passado, inclusive por meio da venda de armas e visitas como a de Azar.
Falando na segunda-feira, Azar disse que sua visita era “consistente com a antiga ‘política de uma só China’ dos Estados Unidos e o compromisso anterior com Taiwan”.