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    EUA prendem 38 suspeitos de ligação com a maior organização criminosa da Venezuela

    "Trem de Aragua" costuma extorquir, perseguir e matar aqueles que se recusam a colaborar com os criminosos

    Da CNN

    Juan diz que sua história em Nova York começa com um ataque na Venezuela.

    Ele prefere não divulgar o sobrenome por questões de segurança. Segundo explicou à CNN, decidiu embarcar na viagem aos Estados Unidos depois que o Trem de Aragua – a maior organização criminosa da Venezuela – extorquiu seu pai, que era comerciante no país, e tentou pressioná-lo ameaçando seus filhos.

    Além disso, o ex-marido da companheira de Juan pertence a esta quadrilha criminosa sanguinária que operava a partir da prisão de Tocorón, na Venezuela, e que conseguiu se espalhar seguindo a rota da migração venezuelana pelo continente americano.

    O jovem de 28 anos conta como no meio desta situação conflituosa o atacaram e, embora não dê detalhes, diz que foi o suficiente para se distanciar deste grupo cuja marca registrada é a extrema violência em seus crimes e a exposição nas redes sociais para despertar medo.

    Juan faz parte de centenas de milhares de venezuelanos que tentam atravessar a fronteira do México, para escapar à turbulência política, à corrupção e ao colapso econômico do seu país, que se tornou uma crise humanitária.

    “Aqui me sinto mais seguro. Aqui é um pouco mais difícil para eles entrarem, eu acho”, disse Juan em julho, em entrevista à CNN em Nova York.

    Porém, um mês depois, Jason Owens, chefe da Patrulha de Fronteira dos EUA, publicou uma mensagem nas redes sociais sobre a entrada no país.

    Consultada pela CNN sobre esta afirmação, a Patrulha de Fronteira dos Estados Unidos informou que não se tratava apenas de uma pessoa integrante desta quadrilha criminosa, mas que havia detido possíveis integrantes do Trem de Aragua em seis setores, entre outubro de 2022 e o mesmo mês de 2023.

    Pelo menos dois deles estão sendo processados ​​por suposta entrada ilegal no país, segundo as autoridades.

    Segundo a Patrulha da Fronteira, uma dessas pessoas foi detida com um grupo de 15 migrantes após cruzar a fronteira entre o México e os Estados Unidos, perto de El Paso, no Texas.

    O outro foi detido em 25 de agosto de 2023, como parte de um grupo de 46 migrantes que também cruzaram ilegalmente para El Paso.

    O relatório obtido pela CNN afirma que, ao analisar os antecedentes deste indivíduo, constataram que ele poderia ser integrante do Trem de Aragua, e que já havia sido expulso por entrar ilegalmente nos Estados Unidos.

    O suspeito permanece detido enquanto se aguarda a resolução do seu caso.

    As autoridades dos EUA não informaram que a gangue esteja operando no país e a CNN não verificou isso de forma independente.

    Os EUA também aparecem como um dos possíveis destinos do líder da temida gangue, Héctor Rusthenford Guerrero Flores, conhecido como “Niño Guerrero”.

    Em 23 de setembro de 2023, a Interpol publicou um aviso vermelho contra Guerrero Flores, que conseguiu escapar da prisão de Tocorón, na Venezuela, antes de esta instalação ser invadida pelas autoridades locais em 20 de setembro de 2023.

    A notificação descreve Guerrero como alguém “armado, perigoso, propenso à evasão e violento” e explica que se trata de um “fugitivo procurado por processo criminal”.

    Além dos EUA, o alerta menciona Colômbia, Brasil, Chile, Peru e Equador como possíveis destinos.

    Um funcionário do Departamento de Segurança Interna dos EUA disse à CNN que eles “monitoram continuamente todas as fontes disponíveis de inteligência e informações relacionadas a ameaças potenciais e trabalham com o FBI e outras autoridades para compartilhá-las”.

    Além disso, monitoram as informações biométricas e biográficas de pessoas que tentam entrar nos bancos de dados classificados e não classificados de diversos órgãos federais do país.

    Em 3 de outubro, Owens publicou outra mensagem em suas redes sociais na qual mencionava que um suspeito do Trem de Aragua havia sido preso. Segundo as informações que forneceu, esta pessoa havia sido condenada por homicídio e roubo na Venezuela.

    O chefe da Patrulha da Fronteira não indicou o nome desta pessoa.

    Trem de Aragua tinha até lançador de foguetes em Tocorón

    A data exata da origem do Trem de Aragua não é clara. Enquanto o grupo Insight Crime afirma ter nascido em 2005 como parte do sindicato de trabalhadores que trabalharam na construção de uma obra ferroviária, outros especialistas atribuem isso à chegada a Tocorón – em 2012 – de Guerrero Flores.

    As instalações desta temida prisão, oficialmente chamada de Centro Penitenciário Aragua, foram evacuadas em 20 de setembro de 2023, por 11 mil seguranças civis e militares, segundo o governo venezuelano.

    O governo do presidente Nicolás Maduro descreveu a operação como um sucesso. Porém, o Guerrero Flores conseguiu escapar com vários de seus companheiros.

    Numa visita permitida pelo governo, que normalmente nega o acesso a esta informação pública, os jornalistas foram autorizados a ver parte das instalações prisionais.

    Na entrada, pilhas de roupas descartadas, um cachorro morto, máquinas destruindo alguns galpões com tecidos, mas conforme a câmera avançava dava para ver um quiosque de restaurante, chamado “Los manes de las hamburgers”, ao lado de outra churrascaria chamada “Casa do Steak”.

    No centro, duas piscinas ligadas por uma ponte e ao lado um parque infantil com relva artificial, escorregas e balanços.

    Num país onde existe um risco crítico de sobrelotação nas prisões, segundo relatórios da ONG Observatório Prisional Venezuelano (OVP), instalações como esta parecem irreais.

    Mas quando o Ministro do Interior, Justiça e Paz da Venezuela, Remigio Ceballos, lista o que foi encontrado em Tocorón, o poder de fogo da gangue fica muito claro.

    “Capturamos armas longas de atirador, granadas, explosivos, narcóticos, lançadores de foguetes e diversas munições.” As autoridades até encontraram computadores usados ​​para extrair bitcoins no local.

    Segundo relatórios da OVP, desde pelo menos 2005, a Corte Interamericana de Direitos Humanos alerta o Estado venezuelano sobre a violência carcerária, a falta de controles para a entrada de armas, a cobrança de extorsões conhecidas como “causas” e controle interno por parte dos “pranes” – presos violentos.

    Segundo cálculos do OVP para 2022, a arrecadação de “causas” pode gerar milhões de dólares anualmente e quem não paga sua taxa paga um preço alto. Ou seja, as primeiras vítimas da extorsão são os próprios presos.

    A CNN tentou contatar tanto o Ministério do Interior, Justiça e Paz como a Procuradoria-Geral da Venezuela, mas até o momento não obteve resposta.

    Com o desmantelamento de Tocorón, Ceballos anunciou em outubro que havia vários detidos por alegada corrupção e garantiu que a investigação continuaria.

    Alertou ainda que viria uma segunda fase que lhes permitiria “capturar, procurar até debaixo das pedras. Não haverá lugar para se esconder. Continuaremos avançando no combate permanente ao crime em todas as suas expressões”, afirmou o militar.

    A jornalista Ronna Rísquez, autora do livro “El Tren de Aragua: a gangue que revolucionou o crime na América Latina”, considera que o ataque a Tocorón é um duro golpe para a organização.

    “No entanto, isso não significa seu desmantelamento. Os dirigentes do Trem de Aragua não foram detidos e não se sabe onde estão”, acrescenta.

    Por enquanto, vários países latino-americanos emitiram mandados de prisão contra “Niño Guerrero”.

    Eles até ofereceram recompensas para quem descobrir seu paradeiro, porque sabem que o Trem de Aragua ainda não chegou à última estação.

    A CNN em Espanhol faz parte do “NarcoFiles: a nova ordem criminal”, um projeto de colaboração investigativa e jornalística no qual participam meios de comunicação e organizações de diferentes partes do mundo e que envolveu a revisão de milhares de documentos provenientes de um vazamento de e-mails da Procuradoria-Geral da Colômbia.

    O Organized Crime and Corruption Reporting Project coletou esses dados e convidou dezenas de meios de comunicação de 23 países da América e da Europa para analisar seu conteúdo. A CNN mantém supervisão editorial de suas peças.

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