EUA: Comitê da Câmara reforça culpabilidade de Trump por ataque ao Capitólio
Em primeira audiência televisionada em horário nobre, painel exibe imagens inéditas do protesto e depoimentos de pessoas próximas ao ex-presidente
O comitê da Câmara dos Estados Unidos que investiga o ataque ao Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021 realizou sua primeira audiência televisionada no horário nobre na noite de quinta-feira (9), detalhando as conclusões da investigação.
O painel reproduziu um novo vídeo de depoimentos a portas fechadas de membros da equipe do ex-presidente Donald Trump e retratou a violência do ataque ao Capitólio.
A audiência de quinta-feira foi a primeira de uma série deste mês que destacará as descobertas da investigação do painel, que incluiu entrevistas com mais de mil pessoas sobre como Trump e sua equipe tentaram anular os resultados das eleições de 2020 em várias frentes.
Embora muitos detalhes tenham sido relatados pela CNN e outros meios de comunicação, as audiências do comitê tentarão contar a história de 6 de janeiro ao povo americano.
Aqui estão as principais conclusões apresentadas na primeira audiência:
Imagens viscerais revivem os horrores de 6 de janeiro
O comitê reproduziu uma compilação de algumas das imagens mais perturbadoras do ataque de 6 de janeiro.
As imagens incluíam material nunca visto antes, incluindo filmagens de câmeras de segurança que mostravam a enorme multidão pró-Trump começando a invadir o terreno do Capitólio.
O vídeo também mostrou como a multidão recebeu dicas diretamente de Trump, com um manifestante lendo um tweet do ex-presidente em um megafone para os outros apoiadores ouvirem.
Na mensagem, Trump criticou Pence por anunciar que não anularia os resultados das eleições de 2020 enquanto presidia a sessão conjunta do Congresso para certificar a vitória de Joe Biden. A montagem do comitê mostrou um clipe agora infame de apoiadores de Trump cantando “Enforquem Mike Pence”.
Em seguida, mostraram a fotografia de uma forca improvisada que os manifestantes ergueram perto do Capitólio, bem como um clipe assustador de outros apoiadores gritando “Nancy! Nancy!” enquanto convergiam para o escritório da presidente da Câmara Nancy Pelosi, procurando por ela.
Esses clipes imediatamente remeteram aos horrores de 6 de janeiro, que podem facilmente se perder em meio às brigas partidárias sobre o comitê e sua investigação. Mas por baixo dessa investigação, houve um ataque violento e mortal, que feriu mais de 140 policiais e levou a várias mortes. A filmagem visceral serviu como um lembrete assustador de um dia sombrio na história dos EUA.
Trump não queria que o protesto parasse
O comitê revelou depoimentos de funcionários da Casa Branca de Trump que disseram que o ex-presidente não queria que o ataque ao Capitólio dos EUA parasse, resistiu com raiva a seus próprios conselheiros que o pediram para condenar os manifestantes e achava que seu próprio vice-presidente “merecia” ser enforcado.
Também oferece um novo panorama para o comportamento de Trump durante o tumulto – algo que o comitê sugeriu repetidamente que seria uma parte fundamental de suas audiências públicas.
A vice-presidente do painel, Liz Cheney, descreveu o depoimento de uma testemunha que disse que Trump estava ciente dos cantos para “Enforcar Mike Pence” e parecia aprová-los.
“Ciente dos gritos dos manifestantes para ‘enforcar Mike Pence’, o presidente respondeu com este sentimento: [citação] ‘Talvez nossos apoiadores tenham a ideia certa’. Mike Pence [citação] ‘merece'”, disse ela.
Cheney já havia caracterizado a inércia de Trump em 6 de janeiro durante os 187 minutos do ataque como um “abandono de seu dever”.
Proud Boys e Oath Keepers no centro das atenções
O comitê apresentou ao público americano dois dos grupos de extrema-direita mais militantes do país, presentes em 6 de janeiro: Proud Boys e Oath Keepers. Esses grupos estavam no comando do ataque. Eles foram os primeiros a invadir o prédio e são acusados de planejar violência.
O documentarista Nick Quested, que testemunhou na quinta-feira, disse que estava com os Proud Boys quando eles convergiram para o Capitólio antes do discurso de Trump, mostrando que eles não estavam interessados no comício e já estavam de olho no Capitólio.
Thompson e Cheney procuraram vincular Trump diretamente a esses extremistas, incluindo seu comentário durante um debate em setembro de 2020 de que os Proud Boys deveriam “se preparar e aguardar”. O painel mostrou novos testemunhos de líderes do Proud Boys sobre como eles viam isso como um chamado às armas.
Os promotores federais do Departamento de Justiça acusaram 17 membros desses grupos de conspiração sediciosa – uma alegação extremamente séria que o comitê destacou na quinta-feira.
O depoimento emocionante de uma policial do Capitólio
A policial do Capitólio dos EUA Caroline Edwards foi a primeira a testemunhar, tornando-se o símbolo da violência contra as forças de segurança naquele dia.
O comitê disse que Edwards foi a primeira oficial ferida pelos manifestantes. Ela descreveu orgulho em seu trabalho para “proteger o símbolo da democracia nos Estados Unidos” – e o escrutínio público cruel que sofreu depois que ficou inconsciente e sofreu uma lesão cerebral traumática durante o ataque.
“Fui chamada de muitas coisas em 6 de janeiro de 2021 e nos dias seguintes”, disse Edwards. “Fui chamada de cachorra de Nancy Pelosi, de incompetente, de heróina e vilã. Fui chamada de traidora de meu país, de minha casa e de minha constituição. Na verdade, eu não era nada disso”.
“Eu era uma americana cara a cara com outros americanos me perguntando quantas vezes – muitas, muitas vezes – como chegamos aqui”, acrescentou ela. Edwards se autodenominou “a orgulhosa neta” de um veterano da Marinha que lutou na Guerra da Coréia.
“Sou neta do meu avô, orgulhosa de vestir um uniforme e servir ao meu país”, disse Edwards. “Eles ousaram questionar minha honra. Ousaram questionar minha lealdade”.
Equipe e família de Trump se voltam contra ele
A primeira audiência do comitê foi reforçada com vídeos nunca vistos antes, mostrando membros da Casa Branca e da campanha de Trump – assim como sua filha Ivanka Trump e seu genro Jared Kushner – falando sobre como eles não acreditavam nas alegações de Trump de que a eleição tinha sido roubada.
O ex-procurador-geral William Barr disse que as alegações de Trump de fraude eleitoral eram “bestas”. Ivanka disse que respeitava Barr e “aceitou o que ele estava dizendo” sobre a eleição.
O porta-voz de Trump, Jason Miller, disse que o responsável pelos dados da campanha disse ao ex-presidente em “termos bastante contundentes que ele perderia”.
E o comitê citou o depoimento do advogado de campanha de Trump, Alex Cannon, que testemunhou ter dito a Meadows “no fim de novembro” que a campanha havia dado errado ao tentar encontrar fraudes generalizadas nos principais estados que Trump perdeu. Cannon disse que Meadows respondeu à sua avaliação dizendo: “Então não há nada lá”.
Fuga do escritório do deputado republicano McCarthy
Um dos novos vídeos que o comitê revelou mostrava funcionários do escritório do líder republicano na Câmara, Kevin McCarthy, correndo freneticamente depois que os manifestantes invadiram o Capitólio. O clipe foi notável por causa do papel de McCarthy em 6 de janeiro – e sua oposição ao comitê.
À época, McCarthy teve um telefonema acalorado com Trump enquanto o tumulto estava em andamento. O comitê de 6 de janeiro intimou McCarthy pedindo informações sobre a ligação. E nos dias imediatamente após o ataque, McCarthy disse que Trump “tem responsabilidade” pelo ataque.
Mas logo depois da data, McCarthy voltou a se aproximar de Trump. Ele se opôs à criação de uma comissão para investigar o ataque de 6 de janeiro e criticou repetidamente o comitê ao longo de sua investigação.
A audiência de quinta-feira mostrou como o painel – e Cheney, que foi deposta no ano passado de sua posição de liderança do Partido Republicano por McCarthy – estão focados no líder republicano.
Em sua declaração de abertura, Cheney disse que os líderes no Capitólio “imploraram ao presidente” por ajuda, incluindo McCarthy. Ela disse que McCarthy estava “com medo” e ligou para vários membros da família de Trump depois de não conseguir persuadir o próprio.
Pence pediu ajuda – não Trump
O comitê também mostrou um novo vídeo de sua entrevista com o chefe do Estado-Maior, Mark Milley, dizendo que Pence foi quem ordenou que as tropas da Guarda Nacional respondessem à violência em 6 de janeiro, mas que ele foi informado pela Casa Branca para dizer que o pedido veio de Trump.
“O vice-presidente Pence – houve duas ou três ligações com o vice-presidente. Ele estava muito disposto e emitiu ordens muito explícitas, muito diretas e inequívocas. Não havia dúvida sobre isso”, diz Milley no vídeo.
“Ele foi muito direto, muito firme com o secretário Miller. ‘Tragam os militares para cá, tragam a guarda para cá. Acabem com essa situação, etc.'”, acrescentou, referindo-se a Pence.
Milley também descreveu suas interações com o chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows, naquele dia, traçando um forte contraste entre essas conversas com Pence.
“Ele disse: temos que matar a narrativa de que o vice-presidente está tomando todas as decisões. Precisamos estabelecer a narrativa, você sabe, que o presidente ainda está no comando e que as coisas estão estáveis , ou palavras nesse sentido “, diz Milley, referindo-se ao que Meadows disse a ele.