Estresse de equipes de Chernobyl, ocupada pela Rússia, preocupa agência da ONU
Relatório aponta que empregados trabalham sem troca de turno desde 24 de fevereiro
As condições de trabalho na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, preocupam a Agência internacional de Energia Atômica (AIEA). No último relatório diário, divulgado na terça-feira (8) pela entidade que monitora o ambiente em meio à invasão da Rússia à Ucrânia e o controle russo das instalações, as condições precárias representam uma ameaça à segurança da unidade.
De acordo com a agência, a situação dos empregados de Chernobyl é pior do que a daqueles que atuam nas usinas que abastecem o país atualmente. A entidade aponta que não houve troca de turno entre os funcionários desde a véspera da tomada da unidade pelos russos.
“Em contraste com a situação atual dos funcionários das usinas nucleares em operação na Ucrânia, que estão girando regularmente, o mesmo turno está em serviço no NPP de Chernobyl desde o dia anterior à entrada dos militares russos no local do acidente de 1986, em 24 de fevereiro, vivendo lá nos últimos 13 dias”, cita um trecho do documento.
O relatório traz ainda a informação que o órgão regulatório ucraniano tem feito solicitações básicas, para melhorar as condições de trabalho e segurança, e que só consegue se comunicar com a unidade por e-mail.
“Acrescentou que os funcionários tinham acesso a alimentos e água e medicamentos em uma medida limitada. No entanto, a situação dos funcionários estava piorando. Pediu à AIEA que liderasse o apoio internacional necessário para preparar um plano para substituir o pessoal atual e para fornecer à instalação um sistema de revezamento eficaz”, diz outro trecho.
Desde o início do conflito, a AIEA tem destacado a importância de que os funcionários sejam capazes de descansar e trabalhar em turnos regulares. A agência enfatiza que a capacidade de tomar decisões livres de pressões indevidas é crucial para a segurança nuclear e um dos setes pilares indispensáveis da atividade.
Diretor-geral da AIEA, o argentino Rafael Grossi destacou estar pronto para viajar para Chernobyl e para outros lugares, para ajudar a proteger as instalações nucleares da Ucrânia em relação às partes do conflito.
“Estou profundamente preocupado com a difícil e estressante situação enfrentada pelos funcionários da usina nuclear de Chernobyl e com os riscos potenciais que isso implica para a segurança nuclear. Convoco as forças no controle efetivo do local para facilitar urgentemente o rodízio seguro de pessoal lá”, afirma.
Representante brasileira na AIEA, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), sediada no Rio de Janeiro, acompanha a situação. Neste momento, o manuseio de material nuclear em Chernobyl está suspenso. A área, situada em uma zona de exclusão, inclui reatores desativados e instalações com resíduos radioativos.
Atualmente, segundo o regulador ucraniano, oito dos 15 reatores nucleares do país estão em operação. O número inclui dois na usina de Zaporizhzhya, a maior do tipo na Europa. A unidade está sob controle russo desde a última sexta-feira (4). Durante o conflito, um prédio de treinamento chegou a pegar fogo, mas o incêndio logo foi controlado e ocorreu em área onde não havia material radioativo. Os níveis de radiação no local estão normais, segundo as autoridades.
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