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    Estrelas da campanha de vacinação contra a Covid-19 na Alemanha geram polêmica

    Escolha de ator da série Baywatch e até de um apoiador do Hamas para incentivar os alemães a tomar a vacina não agradou a muitos no país

    David Hasselhoff, ator da série Baywatch, é uma das estrelas da campanha de vacinação contra Covid-19 na Alemanha
    David Hasselhoff, ator da série Baywatch, é uma das estrelas da campanha de vacinação contra Covid-19 na Alemanha Foto: Ministério da Saúde da Alemanha/Reprodução Twitter

    Colin Ivory Meyer, da CNN

     

    Na Alemanha, as autoridades causaram uma série de controvérsias durante a pandemia por conta de seus esforços para lidar com a crise de saúde pública causada pelo novo coronavírus.

    Entre as polêmicas, estão os milhões gastos em vídeos considerados insensíveis, o pagamento a um suposto apoiador do Hamas para promover a vacina para a população de língua árabe do país e, até mesmo, fazer com que a estrela de “Baywatch” David Hasselhoff promova as doses enquanto milhões de pessoas ainda esperam desesperadamente pela sua vez. O governo está enfrentando pressões por sua abordagem considerada absurda por muitos nas campanhas de conscientização pública.

    O debate sobre a estratégia de publicidade alemã começou em novembro passado, quando o governo federal lançou uma trilogia de vídeos irônicos usando a hashtag #besondereHelden, que significa “heróis especiais”. Os clipes retratavam heróis de guerra do futuro, que teriam lutado contra a disseminação da Covid-19 quando eram jovens por serem viciados em televisão.

    O objetivo dos vídeos era abordar os jovens que normalmente são difíceis de alcançar quando se usa a comunicação convencional do governo, disse Steffen Seibert, porta-voz da chanceler alemã Angela Merkel, em 16 de novembro. Ele explicou que os jovens desempenharam um papel importante no controle da pandemia, portanto, a “abordagem incomum do governo seria justificada”.

    Os clipes foram um sucesso, com muitos elogiando sua versão humorística, incluindo o comediante alemão Jan Boehmermann, que tuitou: “No dia 14 de novembro, o humor alcançou a comunicação do governo alemão”.

    Mas, ao mesmo tempo, a trilogia foi duramente criticada no Twitter por seu tom despreocupado durante uma época de crise nacional e graves perdas de vidas, quando a Alemanha perdeu quase 90.000 pessoas para o novo coronavírus. Além disso, eles consideraram os vídeos insensíveis a muitas pessoas que não tiveram os privilégios do home office ou de ficar assistindo à tv durante a pandemia, como os trabalhadores das atividades essenciais, os profissionais de saúde e o pessoal do setor de serviços.

    “Embora o apelo de ficar em casa e reduzir os contatos seja sério, ele é transmitido de forma irônica”, afirmou Seibert.

    Mas “hoje em dia a ironia não funciona mais tão bem com as pessoas”, disse à CNN Joachim Trebbe, professor de estudos de mídia e comunicação da Universidade Livre de Berlim.

    Além do tom humorístico que está sendo debatido, a questão do orçamento também foi um ponto de discórdia. De acordo com o governo federal, US$ 386.887 em fundos do contribuinte foram usados para produzir os vídeos e US$ 2.138.159 foram usados em medidas de propaganda e distribuição.

    Agora que a terceira onda foi contida e os números de infecções caíram drasticamente, a promoção da campanha de vacinação do país está no topo da agenda do governo. No sábado (12), o país registrava 25,7% da população totalmente vacinada e 48,1% já tinha recebido a primeira dose, de acordo com dados do ministério da saúde da Alemanha.

    Outro episódio problemático da comunicação pandêmica da Alemanha aconteceu em 8 de junho, quando um médico de Berlim, Najeeb Al-Saidi, postou, em maio, um conteúdo considerado antissemita no Facebook. Najeeb foi contratado pelo governo alemão para promover a vacinação entre a população de língua árabe do país. Al-Saidi e o governo se recusaram a fazer comentários à CNN.

    “As duas publicações mais problemáticas foram uma exigência para que todos os sionistas, ou seja, os judeus, deixassem Israel e outra elogiando o braço militante da organização terrorista Hamas, a Brigada Al-Qassam’, disse à CNN Filipp Piatov, chefe de opinião do BILD, o tablóide alemão que primeiro noticiou o incidente.

    O governo alemão retirou o vídeo do ar depois que a descoberta das postagens foi divulgada. Seibert, o porta-voz de Merkel, disse em uma entrevista coletiva esta semana que lamenta profundamente “não termos conduzido as verificações de antecedentes necessárias a tempo”.

    “Quando colocamos o vídeo na internet, não tínhamos conhecimento dos detalhes”, acrescentou ele, mas críticos como Piatov dizem que “uma simples busca no Facebook que levou apenas alguns segundos” foi usada para encontrar as publicações de Najeeb.

    A última campanha foi o vídeo de Hasselhoff, que foi compartilhado pelo ministério da saúde do país no Twitter, onde a estrela instava os alemães a se vacinarem dizendo: “Eu encontrei a liberdade com a vacinação. Você também pode!”

    Isso fazia parte da campanha #ÄrmelHoch do governo, que significa “mangas para cima”, em que várias celebridades alemãs promovem a vacinação. O objetivo é “atingir uma ampla parcela da população e motivá-la a tomar a vacina”, segundo o Ministério da Saúde.

    Depois que um usuário irritado do Twitter pediu a mesma quantia de dinheiro que Hasselhoff recebeu pelos vídeos, as autoridades de saúde acrescentaram que o astro americano “não recebeu nenhum pagamento por seu desempenho. Ele contribuiu para a campanha com sua mensagem por causa de sua convicção”.

    Mas a campanha foi mais ridicularizada e criticada na Alemanha, com as pessoas apontando que as vacinas não estão disponíveis para grande parte da população devido a problemas de abastecimento. Embora todos com mais de 12 anos agora possam marcar uma consulta de vacinação na Alemanha, as vacinas são insuficientes para cobrir toda a população.

    “Testemunhos como este têm efeitos positivos no comportamento das pessoas. Mas chegou muito cedo e eles anunciaram algo que ainda não estava disponível”, disse Trebbe.

    A vontade de se vacinar é “muito alta” entre os alemães, de acordo com Lothar Wieler, chefe do Robert-Koch-Institute, a agência de doenças infecciosas do país. Ele disse durante uma coletiva de imprensa em maio que “73% dos entrevistados declararam que definitivamente serão vacinados e outros 10% desejam ser vacinados”. Esse número não é tão alto quanto no Reino Unido, onde, de acordo com os dados mais recentes, 93% dos adultos relataram sentimentos positivos sobre a vacina.

    Em um aspecto fundamental, a campanha alemã foi um sucesso: obteve publicidade, mas à custa de zombarias, críticas e constrangimento. Muitos no país agora estão se perguntando o que seu governo fará a seguir em sua tentativa de manter as pessoas seguras.

    (Texto traduzido. Para ler o original, clique aqui)