Estamos diante de terremoto geopolítico, diz professor sobre situação na Ucrânia
Em entrevista à CNN, professor de Relações Internacionais, Gunther Rudzit, explicou que invasão russa dispararia ainda mais o preço do petróleo e teria reflexos na inflação brasileira
O presidentes dos Estados Unidos e da Ucrânia, Joe Biden e Volodymyr Zelensky, realizam uma ligação telefônica, neste domingo (13). A conversa acontece em meio a alertas dos Estados Unidos de que uma invasão russa da Ucrânia poderia acontecer ainda esta semana.
A chamada vem um dia após Biden ligar para o presidente russo Vladimir Putin. O líder americano alertou que os EUA e seus aliados responderão “decisivamente e imporão consequências rápidas e severas” à Rússia caso Putin decida invadir a Ucrânia.
Em entrevista à CNN neste domingo (13), o professor de Relações Internacionais da ESPM, Gunther Rudzit, disse que estamos diante de um “terremoto geopolítico”.
“Placas tectônicas se mexeram, principalmente do lado russo”, completou. Ele explica que a Rússia está fazendo um “típico jogo de poder” se restabelecendo como uma grande potência, e forçando os Estados Unidos a sentarem para a mesa de negociação.
“Enquanto eles estiverem negociando, conversando, marcando novas reuniões, é um bom sinal. Significa que estão buscando uma saída diplomática. Se não houver mais isso, só vai ter uma outra opção, que é o uso da força”, afirmou.
Ele explica que os americanos estão em uma posição complicada, na qual precisam balancear “a diplomacia e a expressão do uso da força”. O professor pontua que os EUA podem parecer fracos aos olhos da China a depender de sua postura.
Rudzit chama a atenção que, caso os americanos transmitam a sensação de que não têm mais vontade de ir a guerra por um outro aliado, seria aberta uma janela de oportunidade para os chineses retomarem Taiwan pela força, por exemplo.
“O governo americano está em uma posição complicada de ter que calibrar essa resposta militar. Não forte o suficiente ao ponto de Putin também ter que usar a força, mas também não pode ser fraco demais”, declarou.
A crise e o Brasil
O especialista ainda destaca que uma invasão russa na Ucrânia faria o preço do barril de petróleo sair do patamar atual na casa dos 94 dólares, para chegar possivelmente em cerca de 120 dólares.
“Isso vai disparar o petróleo e o gás. A Petrobras não teria outro jeito a não ser subir o preço dos derivados. Isso faria a inflação subir aqui e levaria o Banco Central a ter que subir ainda mais os juros. Por isso que essa crise é tão importante para nós”, explicou.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) reafirmou neste sábado (12) que vai viajar para Moscou na próxima segunda-feira (14), apesar da escala de tensões crescentes entre Rússia e Ucrânia, e citou a dependência brasileira dos fertilizantes russos.
A manutenção da viagem em meio à iminência de um ataque a Kiev pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, foi antecipada ontem pela CNN.
“Não é das melhores horas para o presidente ir para lá, mas é uma visita agendada há muito tempo. Se houve uma invasão antes da chegada do presidente lá, aí seria aconselhável uma revisão dessa visita”, opinou o professor Gunther Rudzit.
“Isso poderia passar a imagem de um apoio, ainda mais em um tema tão sensível ao Itamaraty, que sempre foi a favor da resolução passiva das controvérsias. O Brasil sempre se opôs ao uso da força”, completou.
“Por isso, é uma viagem bastante arriscada, diplomaticamente falando”, concluiu.
* Sob supervisão de Elis Franco
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