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    Erupção de vulcão em Tonga em janeiro foi a mais intensa em 140 anos

    Devido à força, a explosão causou distúrbios no espaço, de acordo com a Nasa

    Katie Huntda CNN

    A erupção vulcânica em uma ilha próxima a Tonga em janeiro foi tão potente quando a erupção do Krakatoa, na Indonésia, em 1883, uma das mais mortais e mais destrutivas já registradas.

    Cientistas começaram a remontar o que ocorreu durante a erupção de 15 de janeiro do vulcão submarino Hunga Tonga-Hunga Ha’apai, a cerca de 65 quilômetros ao norte da capital de Tonga, e que matou ao menos três pessoas. A erupção desafiou os entendimentos simples e virou de cabeça para baixo os conhecimentos sobre esse tipo de vulcão.

    A erupção vulcânica enviou ondas de pressão raramente observadas ao redor do mundo por seis dias, e liberou um tipo inesperado de onda de tsunami, de acordo com dois novos estudos publicados na quinta-feira (12) na revista científica Science. A enorme rajada de gases, vapor d’água e poeira também criou ventos com a força de furacões no espaço, de acordo com um estudo separado da Nasa publicado nesta semana.

    Dados iniciais sobre os impactos posteriores da explosão sugerem que foi a maior desde a erupção do Monte Pinatubo em 1991, nas Filipinas. Mas as pesquisas da Science, que envolveram 76 cientistas em 17 países, levantam a possibilidade de que as ondas de pressão liberadas pela erupção em Tonga são similares àquelas geradas pela erupção do Krakatoa, em 1883, e dez vezes maiores que as liberadas pela erupção do Monte St. Helens, em Washington.

    “Anormalmente energética”

    A erupção em Tonga foi “anormalmente energética”, escreveram os pesquisadores do estudo da Science. As ondas atmosféricas de baixa frequência, chamadas de ondas de Lamb, foram detectadas após a erupção ter circulado o planeta em uma direção quatro vezes, e na oposta três vezes, eles revelaram.

    Um fenômeno relativamente raro, essas ondas viajam na velocidade do som. Elas não são detectáveis por humanos e são mais lentas do que ondas de choque, forma como foram descritas erroneamente algumas vezes, de acordo com o autor do estudo Quentin Brissaud, geofísico da Ordem Sísmica Norueguesa, em Oslo. As ondas de Lamb foram observadas durante a Guerra Fria, após testes nucleares.

    “É raro. Ondas de Lamb são relacionadas a deslocamentos de grandes volumes de ar. E elas se propagam principalmente na superfície da Terra”, disse o coautor Jelle Assink, geofísico sênior no departamento de sismologia e acústica do Instituto Real de Meteorologia da Holanda.

    Passando pela superfície de múltiplos oceanos e mares, a pressão das ondas de Lamb vindas da explosão criaram uma enchente de tsunamis espalhados que se movem rapidamente.

    Tsunamis tradicionais estão geralmente ligados a mudanças súbitas no solo do oceano, como durante um terremoto. Esses outros tsunamis, chamados de meteotsunamis, viajam muito mais rápido que tsunamis tradicionais, chegando duas horas antes do esperado, e duram mais, o que pode impactar sistemas de alerta.

    E porque a onda de pressão atmosférica as gerou, as ondas gigantes parecem ter “pulado continentes”, com tsunamis registrados do Pacífico até o Atlântico, disse o coautor Silvio De Angelis, professor de geofísica vulcânica no departamento de Terra, oceano e ciências ecológicas da Universidade de Liverpool, no Reino Unido.

    Os pesquisadores também revelaram que o som audível da erupção foi detectado no Alaska, a mais de 10 mil quilômetros da fonte – onde foram ouvidas uma série de explosões. A erupção de 1883 do Krakatoa foi ouvida a 4.800 quilômetros de distância, disse o estudo, apesar de ter sido menos registrada sistematicamente que a de Tonga.

    Os cientistas disseram que mais dados foram necessários para entender os mecanismos da erupção.

    É imaginado que uma das razões para uma explosão tão energética – criando uma nuvem guarda-chuva a 30 quilômetros de altura e uma pluma vulcânica a 58 quilômetros de altura – foi o “magma quente e carregado de gases que entrou em contato com [a água oceânica] muito rapidamente”, disse De Angelis via e-mail. A rápida transferência de temperatura intensa entre o magma quente e a água fria causa explosões violentas, capazes de rachar o magma.”

    Distúrbio espacial

    Outro estudo, publicado na terça-feira (10) na Geophysical Research Letters, descobriu que o vulcão em Tonga também causou problemas no espaço, levando ventos com a força de furacões, de acordo do dados da missão ICON (Ionospheric Connection Explorer) da Nasa e dos satélites Swarm da Agência Espacial Europeia.

    Uma pluma gigante de gases, vapor d’água e poeira foi levada ao céu pela erupção criada pelos grandes distúrbios de pressão atmosférica, levando a ventos fortes, disse a Nasa em nota. Enquanto esses ventos se expandiam para o alto, até as camadas mais finas da atmosfera, eles começaram a se mover mais rapidamente.

    “Após chegar na ionosfera e na beira do espaço, o ICON mediu a velocidade do vento em até 720 km/h – tornando-o o vento mais forte abaixo de 193 quilômetros de altitude já registrado pela missão desde seu lançamento”, disse a Nasa.

    Na ionosfera, onde a atmosfera da Terra encontra o espaço, os ventos extremos também impulsionaram correntes elétricas, agitando partículas que estavam em sua corrente normal que flui para o leste – chamada de eletrojato equatorial –, que passaram a ir para a direção oeste em um período curto de tempo, e o eletrojato subiu para cinco vezes acima de sua potência normal.

    “É muito surpreendente ver o eletrojato revertido por algo que aconteceu na superfície da Terra”, disse Joanne Wu, disse a física da Universidade da Califórnia, Berkley, e coautora do novo estudo.

    “É algo que só vimos antes em fortes tempestades geomagnéticas, que são uma forma de temperatura no espaço causada por partículas e radiação do sol.”

    Brian Harding, físico na UC Berkley e principal autor do estudo, disse que a erupção em Tonga está “permitindo-nos entender a conexão entre a atmosfera mais baixa e o espaço.”

    Ele acrescentou, “o vulcão criou um dos maiores distúrbios no espaço que já vimos na era moderna.”

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