Enviado chinês discute acordo de paz com Zelensky, diz Pequim
Ex-diplomata, Li Hui realizou visita de dois dias à Ucrânia, de acordo com informações de Pequim; ele também deve visitar Rússia, França, Alemanha e Polônia, dentro dos esforços para interromper a guerra
O recém-nomeado enviado especial de Pequim para a guerra da Ucrânia se reuniu com o presidente Volodymyr Zelensky, confirmou a China na quinta-feira (18) como suas tentativas de se tornar um potencial pacificador no conflito, apesar dos laços estreitos com a Rússia.
Li Hui, um ex-diplomata experiente que serviu como embaixador na Rússia de 2009 a 2019, é o oficial chinês de mais alto escalão a viajar para a Ucrânia desde o início da guerra devastadora de Moscou.
Sua visita de dois dias à Ucrânia na terça e quarta-feira deu início a uma turnê mais ampla pela Europa, onde o relacionamento próximo da China com o presidente russo, Vladimir Putin, tem causado crescente preocupação.
Os líderes ocidentais esperavam que o líder chinês Xi Jinping pudesse usar seu relacionamento próximo com Putin para encerrar a guerra que assola a Europa – um resultado que analistas dizem ser improvável neste estágio, dados os interesses de Pequim em manter o relacionamento.
A China havia mantido silêncio sobre os detalhes sobre a visita de Li, Representante Especial de Pequim para Assuntos da Eurásia, que havia anunciado como parte de uma viagem a cinco países para promover a comunicação em direção a “uma solução política para a crise na Ucrânia”.
Em seu comunicado na manhã de quinta-feira, o Ministério das Relações Exteriores da China confirmou que Li se encontrou com Zelensky e outros altos funcionários ucranianos.
Li reiterou que a China está disposta a servir como mediadora da paz para resolver a crise ucraniana, com base em suas posições anteriormente declaradas sobre a guerra.
“Não há panaceia para resolver a crise. Todas as partes precisam começar por si mesmas, acumular confiança mútua e criar condições para acabar com a guerra e se engajar em negociações de paz”, disse Li, de acordo com a leitura.
A leitura de Kiev não fazia menção ao encontro com Zelensky.
Em vez disso, disse que Li se encontrou com o ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, e discutiu “questões atuais de cooperação entre a Ucrânia e a China”, bem como “maneiras de impedir a agressão russa”.
Na semana passada, o Ministério das Relações Exteriores da China anunciou que Li visitaria Ucrânia, Polônia, França, Alemanha e Rússia a partir de 15 de maio – poucos dias antes de os líderes do Grupo dos Sete (G7) afirmarem sua solidariedade contra Moscou em uma cúpula em Hiroshima, Japão.
Esforço de paz genuíno?
A China tentou se apresentar como um mediador da paz e desviar as críticas de que não agiu para ajudar a acabar com a guerra da Rússia na Ucrânia, mais de um ano depois que Moscou invadiu seu vizinho ocidental.
A declaração ucraniana sobre a visita de Li parecia aludir à luz do dia entre as posições de Pequim e Kiev sobre o fim do conflito.
Kuleba falou sobre o restabelecimento da paz “com base no respeito pela soberania e integridade territorial da Ucrânia” e enfatizou “que a Ucrânia não aceita nenhuma proposta que implique a perda de seus territórios ou o congelamento do conflito”.
Ele também enfatizou a importância da participação da China na implementação da “fórmula da paz” de Zelensky, segundo o comunicado.
A China – que divulgou seu próprio documento vago sobre um “acordo político” para o conflito no início deste ano – foi criticada por não pedir à Rússia que retirasse suas tropas do território ucraniano, como Kiev e mais de 100 governos ao redor do mundo fizeram.
A chegada de Li nesta semana a Kiev coincidiu com um ataque aéreo excepcionalmente denso das forças russas à capital, embora a Ucrânia tenha dito que a maioria das munições russas não atingiu seus alvos depois de serem destruídas por seus sistemas de defesa.
Nesta semana, Zelensky encerrou sua própria turnê pelos países europeus, onde recebeu promessas de nova ajuda militar de países como Alemanha, França e Reino Unido.
Missão diplomática
O líder chinês Xi Jinping e Zelensky falaram no final do mês passado pela primeira vez desde o início da guerra e, de acordo com Pequim, Xi prometeu facilitar as negociações de paz, inclusive enviando um enviado.
Embora a ligação de Xi com Zelensky tenha sido a primeira, o líder chinês falou com o presidente russo, Vladimir Putin, cinco vezes durante o conflito – incluindo duas vezes pessoalmente.
Desde os primeiros dias da guerra, o apoio diplomático e econômico de Pequim à Rússia acelerou o alarme sobre a política externa da China nas capitais europeias.
Esses laços com Moscou estiveram sob escrutínio na semana passada, enquanto autoridades europeias discutiam uma recalibração da estratégia do bloco para a China.
O chefe de Relações Exteriores da UE, Josep Borrell, disse na sexta-feira que as relações do bloco com a China “não se desenvolverão normalmente se a China não pressionar a Rússia a se retirar da Ucrânia”.
A escolha de Li pela China para liderar seus esforços diplomáticos para resolver o conflito também levantou suspeitas entre alguns observadores ocidentais.
O currículo de Li inclui contribuições significativas para o relacionamento China-Rússia durante uma era importante de aprofundamento da cooperação sob Xi e Putin.
Em 2019, Vladimir Putin presenteou Li com a Ordem da Amizade, tornando-o apenas o segundo cidadão chinês a receber uma condecoração de estado do Kremlin, segundo a mídia estatal chinesa. Xi foi o primeiro, recebendo a Ordem de Santo André dois anos antes.
‘Acordo político’
Embora tenha havido uma recepção hesitante do apelo de Xi a Zelensky em partes do Ocidente, também há um ceticismo profundamente enraizado sobre qualquer pressão pela paz para a China, dados seus laços estreitos com a Rússia.
O apelo de Pequim por um cessar-fogo em seu “acordo político” atraiu críticas de autoridades ocidentais, que disseram que isso apenas ajudaria a Rússia a consolidar seus ganhos territoriais na Ucrânia, já que não incluía um pedido de retirada da Rússia.
Depois de sua ligação com Xi no mês passado, Zelensky disse que a troca foi “significativa”, mas destacou que “não pode haver paz à custa de compromissos territoriais” – um tema que também parece ter sido enfatizado na reunião de Kuleba e Li.
Na segunda-feira, antes da chegada de Li à Ucrânia, a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pediu que o plano de paz da Ucrânia seja a base dos esforços para resolver o conflito.
“Nunca devemos esquecer que a Ucrânia é o país que foi brutalmente invadido. É, portanto, aquele que deve estabelecer os princípios fundamentais para uma paz justa”, disse ela em Bruxelas.
Analistas dizem que Pequim vê seu relacionamento com a Rússia – um parceiro importante em meio às crescentes tensões com o Ocidente – como fundamental para sua política externa, e isso limitará o quão longe a China irá para pedir concessões à Rússia, mesmo que tente bancar o pacificador.
Pequim tentou desviar essas críticas acusando repetidamente os Estados Unidos e seus aliados de alimentar o conflito por meio de armas de apoio à Ucrânia.
Um editorial do jornal estatal em inglês China Daily no domingo disse que Li visitaria a Polônia, a França e a Alemanha durante sua viagem, já que são “principais interessados” na Europa quando se trata de qualquer acordo de paz.
Os EUA, disse o editorial, foram excluídos do itinerário de Li, pois era “questionável” se Washington estava aberto a esforços para promover a paz.
(Colaboraram Wayne Chang e Josh Pennington, além de Mengchen Zhang em Pequim, Victoria Butenko e Julia Kesaieva em Kiev)