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    Entenda o que é uma oligarquia e como ela surgiu na Rússia

    “Elite de poder” nasceu na União Soviética e evoluiu até chegar aos “amigos de Putin”, que talvez nem sejam assim tão amigos

    Presidente do Presidium do Soviete Supremo, Boris Yeltsin, e o presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev, durante uma sessão do Congresso dos Sovietes em Moscou, Rússia, em 21 de dezembro 1990.
    Presidente do Presidium do Soviete Supremo, Boris Yeltsin, e o presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev, durante uma sessão do Congresso dos Sovietes em Moscou, Rússia, em 21 de dezembro 1990. Getty Images

    Lumena Raposoda CNN

    Oligarcas e ditadores se entendem. A “elite do poder” nasceu na União Soviética e evoluiu até chegar aos “amigos de Putin”, que talvez nem sejam assim tão amigos

    Platão e Aristóteles, na Grécia antiga, definiram o que entendiam por oligarquia. Para o primeiro, tratava-se de um regime que tem como base a qualificação da propriedade, isto é, o “rico detém o poder” que está vedado aos pobres.

    Aristóteles não divergiu muito desta ideia. O filósofo acreditava que se trata de um sistema cujo poder tem como base a riqueza. Mas ele ia além dizendo que os detentores do poder devem ser poucos “em número” para que consigam manter o controle do Estado.

    Tratando-se de um grupo, ele pressupõe a existência de uma coligação, ou mais, para defender os seus próprios interesses e fazer avançar as suas propostas.

    A oligarquia russa mergulha as suas raízes na época soviética, quando, após a morte de Stalin, surge uma liderança coletiva, estruturada numa hierarquia rígida ao redor dos órgãos dirigentes do Partido Comunista da União das Repúblicas Socialistas Sov­­­­­­­­­­­­­­­iéticas (URSS).

    Cada setor chave da economia, então dominada pela política, foi organizado como uma estrutura de pressão cujos conflitos eram solucionados, em última análise, pelo Politburo, a mais alta autoridade no partido e no país.

    No entanto, para conseguir uma posição favorável do Politburo era necessário pertencer à “nomenklatura” – a casta dirigente da União Soviética. Temos, assim, um pequeno grupo a tomar as decisões para toda a sociedade e o país.

    Este sistema, pesadamente burocrático, vai cansando e exaurindo a sociedade, situação que perto do final do Século XX é óbvia para Mikhail Gorbachev e para os políticos da sua geração.

    Então, quando sobe ao poder, o político russo procura avançar com reformas que libertassem a sociedade e a tornassem competitiva. Gorbachev desejava ainda que essa competição também se faça a nível político, mas o resultado não seria o que o líder soviético desejava.

    Ao minar a autoridade legítima do partido, o estadista lesou a sua capacidade para gerir os conflitos entre as formações rivais da elite.

    Mas não foi Gorbachev quem anulou a oligarquia soviética. Esse golpe de misericórdia foi dado por Boris Yeltsin, ao dissolver o Partido Comunista da URSS após o golpe de agosto de 1991.

    Ao fazê-lo, eliminou o âmago da estrutura oligárquica e reordenou a hierarquia econômica, retirando importância e peso ao setor militar-industrial.

    Boris Yeltsin e Vladimir Putin em evento político em Moscou, em 2004. / ullstein bild via Getty Images

    Yeltsin decidiu transformar a economia socialista russa em economia de mercado e assim o fez com programas de privatização e liberalização da economia, numa autêntica terapia de choque.

    O seu opositor Alexander Rutskoi insuflou uma insurreição contra a forma como Yeltsin estava conduzindo o processo de reformas, até mesmo o chamando de “genocídio econômico”.

    É com as reformas de Yeltsin que surge a nova oligarquia. Agora já não é o partido, nem o Politburo, quem irá deter o poder, mas sim um grupo restrito de pessoas que vão aproveitar da situação para se apoderar de grande parcela da riqueza nacional.

    Essas pessoas constituem a nova oligarquia russa. Tornam-se milionárias através de situações pouco claras. Aliás, a época de Yeltsin é marcada por uma corrupção generalizada, inflação, colapso econômico e profundos problemas sociopolíticos.

    Vladimir Putin, que sucede a Yeltsin, ao ser inquirido sobre como lidaria com os oligarcas russos, respondeu que não existiam oligarcas na Rússia.

    O ex-homem forte da KGB sabia que não estava falando a verdade, porque os oligarcas existiam e existem.

    O que Putin pretendia era passar a mensagem de que era ele quem detinha o poder – e quem quer que ofuscasse seu brilho ou fizesse oposição teria a sorte de Mikhail Khodorkovski.

    Oligarca do tempo de Yeltsin, Khodorkovski tirou vantagem das reformas de Yeltsin e tornou-se um dos mais poderosos dos oligarcas russos – uma situação desagradável para Putin, que procurava frear a sede por poder do novo grupo.

    Proprietário da empresa petrolífera Yukos e das suas subsidárias, Khodorkovski tornou-se uma pedra no sapato de Putin, que não aceitou a ideia de poder ser desafiado por ele nas urnas, como muitos afirmavam.

    Em 2003, o jovem oligarca foi confrontado com a cobrança pela Justiça de todos os impostos atrasados e sonegados da Yukos, que foi nacionalizada por Putin.

    Ao mesmo tempo em que Khodorkovski é julgado e condenado a nove anos de prisão por roubo, fraude e sonegação fiscal, a mensagem estava dada. E os oligarcas entenderam.

    Putin tinha vencido o grupo dos milionários, muitos dos quais surgem no seu círculo de amigos.

    São esses que agora estão sob pressão das sanções do Ocidente.

    Foi isso que prometeu o presidente dos Estados Unidos na semana passada: “Aos oligarcas russos e líderes corruptos que ganharam bilhões de dólares com este regime violento: basta! […] Em conjunto com os aliados europeus, vamos encontrar e apreender seus iates, apartamentos de luxo e jatos privados. Vamos atrás das suas fortunas de origem duvidosa.”

    Este conteúdo foi criado originalmente em português (pt).

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