Entenda a tensão entre Rússia e Ucrânia na fronteira entre os países
Tropas russas a postos, próximas à fronteira entre as duas nações, levantam temores de que Moscou possa iniciar uma invasão
As tensões entre a Ucrânia e a Rússia estão em seu ponto mais alto dos últimos anos.
O exército russo reuniu mais de 130 mil soldados perto da fronteira ucraniana nas últimas semanas.
Os Estados Unidos e demais países-membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) acusam a Rússia de planejar um ataque contra a Ucrânia e apontam um crescente acúmulo de forças militares nas fronteiras.
Os russos, por sua vez, negam que haverá uma invasão, mas pedem que a Otan afaste-se da Ucrânia e de suas intenções de tornar o país fronteiriço mais um de seus membros na Europa.
Nesta segunda (14), porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que o presidente russo, Vladimir Putin, está “disposto a negociar”, acrescentando que a crise da Ucrânia era apenas uma parte das maiores preocupações de segurança da Rússia.
Qual é a situação atual na fronteira?
Os Estados Unidos e a Otan descreveram os movimentos e concentrações de soldados dentro e ao redor da Ucrânia como “incomuns”.
Cerca de 130 mil soldados russos permanecem acumulados na região da fronteira ucraniana, apesar de alertas do presidente dos EUA, Joe Biden, e líderes europeus para sérias consequências “severas” no caso de Vladimir Putin avançar com uma invasão.
Os serviços de inteligência norte-americanos estimaram que a Rússia poderia começar antes do final dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, que terminam em 20 de fevereiro.
Nesta terça (15), algumas tropas nos distritos militares da Rússia adjacentes à Ucrânia estão retornando às suas bases depois de completar os exercícios, informou o Ministério da Defesa russo.
Imagens de vídeo publicadas pelo Ministério da Defesa mostraram alguns tanques e outros veículos blindados sendo carregados em vagões ferroviários.
O Ministério disse que usaria caminhões para transportar alguns equipamentos, enquanto algumas tropas marchariam para as bases por conta própria.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse que Kiev acreditará no apaziguamento somente depois de ver a retirada da Rússia, informou a agência de notícias Interfax Ucrânia.
“Ouvimos continuamente diferentes declarações da federação russa, por isso temos uma regra: acreditamos no que vemos. Se virmos a retirada, acreditaremos na desescalada”, disse Kuleba, segundo o relatório.
Os movimentos relatados contrariam os avisos dos Estados Unidos e do Reino Unido de que a Rússia pode estar prestes a invadir a Ucrânia a qualquer momento.
Qual a história do conflito entre Ucrânia e Rússia?
As tensões entre Ucrânia e Rússia, ambos ex-estados soviéticos, escalaram em 2013, após um acordo político e comercial histórico com a União Europeia. Após o então presidente pró-Rússia, Viktor Yanukovych, suspender os diálogos – supostamente sob pressão de Moscou – semanas de protestos em Kiev explodiram em violência.
Então, em março de 2014, a Rússia anexou a Crimeia, uma península autônoma no sul da Ucrânia, com lealdade forte à Rússia, com o pretexto de que estaria defendendo os interesses locais e dos cidadãos de herança russa.
Primeiramente, milhares de soldados de herança russa, apelidados de “pequenos homens verdes” e posteriormente reconhecidos por Moscou como soldados russos, invadiram a península da Crimeia. Dentro de dias, a Rússia completou sua anexação em um referendo que foi apontado pela Ucrânia e por vários outros países como ilegítimo.
Pouco tempo depois, separatistas pró-Rússia nas regiões ucranianas de Donetsk e Luhansk declararam sua independência de Kiev, levando a meses de conflitos. Apesar de Kiev e Moscou terem assinado um acordo de paz em Minsk, em 2015, intermediado pela França e pela Alemanha, ocorreram repetidas violações do cessar-fogo.
De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), ocorreram mais de 3 mil mortes de civis relacionadas ao conflito no leste da Ucrânia desde março de 2014.
A União Europeia e os Estados Unidos impuseram uma série de medidas em resposta às ações russas na Crimeia e no leste ucraniano, incluindo sanções econômicas mirando indivíduos, entidades e setores específicos da economia russa.
O Kremilin acusa a Ucrânia de causar tensões no leste do país e violar o acordo de cessar-fogo de Minsk.
Qual a visão da Rússia?
O Kremlin negou repetidamente que a Rússia planeja invadir a Ucrânia, insistindo que a Rússia não impõe uma ameaça a ninguém e que as tropas que se movimentam dentro do território não deviam causar alarme.
Moscou enxerga o crescente apoio da Otan à Ucrânia – em termos de armamento, treinamento e pessoal – como uma ameaça à própria segurança. Também acusa a Ucrânia de aumentar seus próprios números de tropas em preparação para uma tentativa de retomar a região de Donbas, uma alegação que o país negou.
O presidente russo, Vladimir Putin, pediu por acordos legais específicos que impediriam uma maior expansão da Otan em direção às fronteiras russas, dizendo que o Ocidente não cumpriu suas afirmações verbais prévias.