Entenda a situação do Afeganistão após o Talibã assumir o controle de Cabul
Saiba como o grupo tomou capital do Afeganistão após fuga do presidente Ashraf Ghani e o que esperar daqui para frente com sua solidificação no poder
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O Talibã se aproximou de solidificar o controle do Afeganistão no domingo (15), incluindo a entrada no palácio presidencial em Cabul, horas depois que o ex-presidente Ashraf Ghani fugiu do país.
A situação em rápida evolução causou confusão e preocupação enquanto os Estados Unidos e governos em todo o mundo monitoram o amargo fim de quase duas décadas de guerra.
Aqui está o que você precisa saber sobre o que aconteceu no fim de semana e como chegamos ao estágio atual no país:
Qual a situação no momento?
O palácio presidencial em Cabul agora foi entregue ao Talibã após ter sido desocupado poucas horas antes por funcionários do governo apoiado pelos EUA.
O grupo islâmico reivindicou o palácio com três funcionários do governo afegão presentes, de acordo com a emissora Al Jazeera, que transmitiu os eventos ao vivo.
Um funcionário de segurança do Talibã disse que havia uma “transferência pacífica de instalações do governo em andamento em todo o país”.
Outro falou brevemente em inglês para dizer que havia sido anteriormente detido pelos EUA em Guantánamo, uma alegação que a CNN não pode verificar de forma independente.
O presidente afegão fugiu. Ghani deixou o país no domingo para o Tajiquistão, disseram duas fontes à CNN.
O ministro da defesa interino do Afeganistão, general Bismillah Mohammadi, criticou a fuga do presidente em breve tuíte no domingo, escrevendo: “Eles amarraram nossas mãos nas costas e venderam a pátria, maldito homem rico e sua gangue”.
A embaixada dos EUA foi esvaziada. No início do domingo, duas fontes familiarizadas com a situação disseram à CNN que o plano era retirar todos os funcionários do país da embaixada em Cabul nas próximas 72 horas.
Horas depois, porém, a maior parte do pessoal da embaixada dos EUA foi transferida para o aeroporto de Cabul, de onde embarcaram em voos para fora do país. A bandeira dos EUA não está mais sobre o prédio.
Governos estrangeiros também se movimentaram. O aeroporto se tornou o foco de muita atenção internacional à medida que governos trabalham para retirar seus cidadãos do país.
Após relatos de tiros no aeroporto, a embaixada dos EUA instruiu todos os cidadãos norte-americanos que ainda estavam no país a se abrigarem no local.
“A situação da segurança em Cabul está mudando rapidamente, inclusive no aeroporto”, disse um alerta de segurança. “Há relatos de que o aeroporto pegou fogo; portanto, estamos instruindo os norte-cidadãos americanos a se abrigarem no local.”
Como chegamos a esse ponto?
A retirada das tropas dos Estados Unidos do país abriu caminho para o Talibã enfrentar e derrotar as forças de segurança afegãs.
Muitas das principais cidades caíram com pouca ou nenhuma resistência, incluindo a cidade-chave de Jalalabad, que o grupo assumiu o controle no domingo (15).
Funcionários do governo de Joe Biden admitiram erro de cálculo. A rápida queda das forças nacionais e do governo do Afeganistão foi um choque para o presidente e para membros seniores de sua administração, que há uma semana acreditavam que poderia levar meses até que o governo civil em Cabul caísse.
Agora, as autoridades reconhecem abertamente que estão surpresas com o que aconteceu.
“O fato é que vimos que aquela força não foi capaz de defender o país”, disse o secretário de Estado, Antony Blinken, ao “State of the Union”, da CNN, com Jake Tapper, referindo-se às forças de segurança nacional do Afeganistão.
“E isso aconteceu mais rapidamente do que prevíamos.”
Quais os próximos passos?
O país enfrenta agora o retorno do Talibã ao poder, o que, se for como foi nos anos 1990, significaria uma deterioração das liberdades civis, especialmente para mulheres e meninas cujas liberdades foram ampliadas no governo civil.
Grupos terroristas também podem se reconstituir em breve. Em um briefing para senadores na manhã de domingo, o presidente do Estado-Maior Conjunto, general Mark Milley, disse que grupos terroristas como a Al-Qaeda poderiam se reestruturar no Afeganistão antes dos dois anos que as autoridades de defesa haviam estimado anteriormente para o Congresso por causa da recente e rápida tomada do país pelo Talibã, segundo um assessor do Senado que ouviu os comentários.
A situação pode resultar em uma crescente ameaça de terrorismo, justamente quando se aproxima o 20º aniversário do 11 de setembro de 2001, os ataques da Al-Qaeda ao World Trade Center, em Nova York.
Tropas norte-americanas adicionais foram para o Afeganistão. O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, aprovou no domingo o envio de mais 1.000 soldados ao país, disse um oficial de defesa à CNN, elevando para 6.000 o número de soldados norte-americanos que estarão no país em breve. Sua principal missão é proteger o aeroporto de Cabul.
Os próximos passos ainda estão sendo debatidos. Estão em andamento discussões entre os principais conselheiros da Casa Branca sobre como Biden deve lidar com o agravamento da crise, disseram autoridades no domingo.
Nenhuma decisão final ainda foi tomada sobre se o presidente retornará a Washington de Camp David, o retiro presidencial onde estava de férias.
O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta segunda-feira (16). O secretário-geral da ONU, António Guterres, deverá informar o Conselho sobre a situação e fazer consultas privadas na sequência.
Em comentários na sexta-feira (13), Guterres pediu ao Talibã que parasse sua ofensiva no Afeganistão e não respondeu diretamente quando questionado sobre o que diria àqueles que sentem que o país foi abandonado pela comunidade internacional.
Espere o escrutínio do Congresso dos EUA. Alguns legisladores já exigem mais informações do governo sobre como sua inteligência pode ter avaliado mal a situação no local, ou por que planos de contingência mais robustos para a retirada de norte-americanos e seus aliados não estavam em vigor.
(Texto traduzido; leia o original em inglês)