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    Enquanto Ocidente condena Rússia por causa da Ucrânia, Pequim adota outro tom

    Embora compartilhe preocupações sobre ampliação da Otan, China se equilibra entre estreitar laços com Moscou e manter política de defesa da soberania do Estado

    Simone McCarthyda CNN

    O embaixador da China nas Nações Unidas pediu nesta segunda-feira (21) que “todas as partes” exerçam moderação e evitem “abastecer tensões” na Ucrânia, mas não chegou a condenar o Kremlin pelo reconhecimento da independência das duas regiões pró-Moscou no leste do país.

    Pequim está navegando em uma posição complexa à medida que a crise na Ucrânia se intensifica, tentando equilibrar entre o aprofundamento dos laços com Moscou e a sua política externa praticada de defender firmemente a soberania do Estado.

    Em uma breve declaração na reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU na noite de segunda-feira, o embaixador da China na ONU, Zhang Jun, disse que Pequim saudou e encorajou todos os esforços para uma solução diplomática, acrescentando que todas as preocupações devem ser tratadas na “base da igualdade”.

    “A situação atual na Ucrânia é resultado de muitos fatores complexos. A China sempre se posiciona de acordo com os méritos da própria questão. Acreditamos que todos os países devem resolver disputas internacionais por meios pacíficos, de acordo com os propósitos e princípios do Carta da ONU”, disse Zhang.

    A reunião do conselho de segurança ocorre quando os líderes mundiais tentam desesperadamente desmobilizar a situação na Ucrânia, que viu uma rápida mudança quando o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou que as forças russas entrassem em dois territórios separatistas apoiados por Moscou depois de reconhecê-los como independentes – um movimento que as autoridades ocidentais sugerem que seria um pretexto para uma invasão mais ampla da Ucrânia.

    A Rússia disse há semanas que não invadiria a Ucrânia e, na reunião do conselho de segurança, defendeu suas ações como esforços “para proteger e preservar essas pessoas” que vivem na autoproclamada República Popular de Donetsk e na República Popular de Luhansk (RPD e RPL).

    Em meio à crescente condenação, a Rússia procurou se aproximar da China, com Putin viajando para Pequim em 4 de fevereiro para se encontrar com o líder chinês Xi Jinping antes dos Jogos Olímpicos de Inverno. A cúpula terminou com a divulgação de um comunicado abrangente que declarava que não havia “limites” para o relacionamento dos dois países e que não há “nenhuma área ‘proibida’ de cooperação”.

    A demonstração de solidariedade não passou despercebida no Ocidente. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, referiu-se à recente declaração conjunta de Xi e Putin em comentários com palavras fortes na Conferência de Segurança de Munique na sexta-feira, sugerindo que Pequim e Moscou procuraram substituir o Estado de Direito pelo “governo do mais forte”.

    Membros das Forças Armadas russas durante exercícios militares na região de Leningrado / 14/02/2022 Ministério da Defesa da Rússia/Divulgação via REUTERS

    A China sustentou que seus interesses estão no diálogo e na resolução pacífica, mas especialistas dizem que Pequim teme ser vista como culpada por associação e agora buscaria andar na corda bamba.

    “Eles não querem se envolver e não querem fazer uma declaração muito forte, (dessa forma) os EUA não ficarão com raiva e a Rússia (também não)”, disse Alfred Wu, professor associado da Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew, da Universidade Nacional de Singapura.

    Ele acrescentou que Pequim gostaria de evitar sanções ocidentais visando as ações de Moscou e “tomaria cuidado para não ter a imagem de que está apoiando abertamente a Rússia”.

    A China já havia instado as partes envolvidas na crise da Ucrânia a retornarem aos acordos de Minsk, referindo-se aos acordos alcançados em 2014 e 2015, após conflitos no leste da Ucrânia, que sustentam o controle de Kiev sobre sua fronteira com a Rússia.

    Em comentários no sábado, enquanto discursava na mesma conferência em Munique, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, disse que “a soberania, independência e integridade territorial de todos os países devem ser respeitadas e salvaguardadas”.

    De acordo com David Sacks, pesquisador do Conselho de Relações Exteriores de Nova York, isso coloca a China em uma “posição embaraçosa” em relação aos últimos acontecimentos.

    “Até o último momento, a China enfatizou a necessidade de retornar ao acordo de Minsk, e Putin rasgou isso publicamente e ignorou a proposta da China para lidar com a crise”, disse ele.

    Sacks disse que em conversas não públicas “provavelmente há um debate vigoroso ocorrendo em Pequim sobre os custos de longo prazo do alinhamento com a Rússia”, disse ele.

    “A adoção da Rússia pela China vai gerar mais uma reação dos Estados Unidos e da Europa que ela quer evitar”.

    Embora não sejam aliados militares, a China e a Rússia têm apresentado uma frente cada vez mais unida diante do que consideram uma interferência ocidental em seus assuntos domésticos, adiando as sanções lideradas pelos EUA e muitas vezes votando em bloco na ONU.

    Isso foi sublinhado na declaração conjunta de 4 de fevereiro, que não mencionou a Ucrânia, mas viu a China apoiar a demanda central da Rússia ao Ocidente, com ambos os lados “se opondo a uma maior ampliação da Otan”.

    Yu Bin, professor de ciência política na Universidade Wittenberg de Ohio e membro sênior do Centro de Estudos Russos da Universidade Normal da China Oriental em Xangai, disse que a China compartilha preocupações com a Otan devido ao crescente papel do bloco no Indo-Pacífico.

    Ativistas pró-Rússia comemoram em rua de Donetsk após reconhecimento de independência por Putin / 21/02/2022 REUTERS/Alexander Ermochenko

    “Há, portanto, uma convergência das percepções da Rússia e da China sobre a aliança liderada pelos EUA na Europa e na Ásia como resultado da postura cada vez mais proativa (da aliança)”, disse ele.

    Na noite de segunda-feira nos EUA, o Secretário de Estado americano Antony Blinken conversou com seu colega chinês Wang sobre os acontecimentos na Coreia do Norte e “o ataque da Rússia contra a Ucrânia”, de acordo com um breve relatório do Departamento de Estado.

    “O secretário ressaltou a necessidade de preservar a soberania e a integridade territorial da Ucrânia”, diz a ata.

    De acordo com uma ata do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang expressou “preocupação” com a situação na Ucrânia. “A China está preocupada com a evolução da situação na Ucrânia” e que “preocupações legítimas de segurança de qualquer país devem ser respeitadas”, disse Wang durante a ligação.

    “Os propósitos e princípios da Carta da ONU devem ser mantidos”, disse Wang, acrescentando que a situação atual na Ucrânia está “intimamente relacionada ao atraso” na implementação do acordo de Minsk.

    Os Estados Unidos, na reunião do conselho de segurança de segunda-feira, também pediram aos países que escolham um lado, com a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, dizendo que todos os estados membros da ONU têm participação nessa crise crescente. “Este é um momento de ação coletiva”, disse ela. “Há muita coisa em risco para alguém ficar em cima do muro”.

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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