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    Emmanuel Macron irá à Nova Caledônia em meio a protestos violentos; entenda

    Seis pessoas morreram, lojas foram saqueadas e barricadas foram feitas nas estradas

    Kirsty NeedhamDominique Vidalonda Reuters

    O presidente da França, Emmanuel Macron, viajará para a ilha da Nova Caledônia, no Oceano Pacífico, na noite desta terça-feira (21), disse seu gabinete, pouco mais de uma semana depois do início de protestos no território ultramarino francês, que mataram seis pessoas.

    A Austrália e a Nova Zelândia estão retirando turistas da ilha enquanto a violência deixa um rasto de destruição. Houve registro de lojas saqueadas, carros incendiados e barricadas nas estradas, que restringiam o acesso a medicamentos e alimentos.

    Macron se reunirá com autoridades eleitas e representantes locais nesta quinta-feira (23) para negociações focadas na política e na reconstrução da ilha, informaram assessores.

    Ele “discutirá com todas as forças na Nova Caledônia. O objetivo é preparar e antecipar a reconstrução”, ressaltou o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal.

    “O presidente também vai lá para restabelecer o diálogo”, adicionou.

    Entenda os protestos na Nova Caledônia

    O Acordo de Nouméa previa que a participação nas eleições provinciais da Nova Caledônia estava restrita às pessoas que residiam na ilha antes de 1998 e aos seus filhos.

    Os protestos foram desencadeados por uma reforma constitucional aprovada em Paris que altera quem estará elegível para participar dessas votações.

    O texto foi aprovado pelo Congresso francês no dia 14 de maio, permitindo que os residentes franceses que vivem na ilha há 10 anos votem nas eleições provinciais da ilha.

    Assim, milhares de pessoas seriam adicionadas aos cadernos eleitorais da Nova Caledônia, que não são atualizados desde o final da década de 1990.

    Grupos pró-independência dizem que as mudanças são uma tentativa da França de consolidar o seu domínio sobre o arquipélago. Além disso, líderes locais temem que a mudança dilua o voto do povo indígena Kanak.

    Protestos na Nova Caledônia, território ultramarino da França
    Protestos na Nova Caledônia, território ultramarino da França / CALEDONIA

    A França anexou a Nova Caledônia em 1853 e deu à colônia o status de território ultramarino em 1946. A ilha é o terceiro maior minerador de níquel do mundo, mas sua indústria desse metal está em crise.

    O arquipélago fica a cerca de 20 mil km de distância da França continental e a cerca de 1.500 km a leste da Austrália.

    Violência e mortes

    Três das seis pessoas mortas nos distúrbios eram jovens Kanak baleados por civis armados. Houve confrontos entre manifestantes Kanak e grupos armados ou milícias civis formadas para se protegerem.

    Mais de 1.000 gendarmes — espécie de força militar — e policiais da França estavam em patrulha e outros 600 seriam enviados como reforço, disse o Alto Comissariado da França.

    “O governo francês não sabe como controlar as pessoas aqui”, disse Viro Xulue, que faz parte de um grupo comunitário que presta assistência social a outros Kanaks.

    Prisca Thevenot, porta-voz do governo francês, por sua vez, disse que a situação está melhorando, mas é preciso fazer muito mais para normalizar a situação.

    Banimento do TikTok e outras medidas

    Na capital Nouméa, as autoridades impuseram um recolher obrigatório e fecharam o principal aeroporto principal, normalmente um centro turístico movimentado. Também proibiram reuniões públicas, porte de armas e venda de álcool.

    Outras medidas adotadas pelas autoridades francesas para combater os levantes foram, por exemplo, o envio de tropas policiais e o banimento do TikTok, controlado pela gigante chinesa ByteDance.

    As autoridades não explicaram a proibição do TikTok oficialmente, mas disseram anteriormente que a rede social foi utilizada para organizar e amplificar protestos na França recentemente.

    O jornal francês Le Monde noticiou que a medida foi tomada após o compartilhamento de “mensagens de ódio e incitação à violência”, citando mensagens de representantes do governo da ilha publicadas pelos cidadãos da Nova Caledônia no Facebook.

    Retomada do diálogo será difícil

    As primeiras reações após o anúncio da viagem de Macron mostraram que retomar o diálogo não será uma tarefa fácil.

    “Lá vem o bombeiro depois de atear o fogo!”, disse Jimmy Naouna, da Front de Liberation Nationale Kanak et Socialiste (FLNKS) da Nova Caledônia, escreveu no X em resposta à notícia da visita de Macron.

    Violência na Nova Caledônia / Reuters

    A oposição em Paris, antigos primeiros-ministros franceses e líderes de outras ilhas do Pacífico também afirmaram que Macron deveria anular ou suspender a reforma eleitoral.

    O ministro das Relações Exteriores de Vanuatu, Matai Seremaiah, pediu à França que faça “a coisa certa, resolva todas as questões pendentes de descolonização” e que se envolva seriamente com os líderes Kanak.

    Retirada de turistas

    Cerca de 108 australianos e outros turistas desembarcaram em Brisbane em dois voos organizados pelo governo, disse a ministra das Relações Exteriores australiana, Penny Wong, no X.

    Um avião da Força de Defesa pousou em Auckland com cerca de 50 pessoas a bordo, informou o New Zealand Herald.

    Mais voos são esperados nos próximos dias para retirar, ao todo, cerca de 500 turistas franceses e estrangeiros, destacou o Alto Comissariado da França na Nova Caledônia.

    O aeroporto permaneceu fechado para voos comerciais.

    Cerca de 3.200 pessoas aguardavam para sair ou entrar na Nova Caledônia depois que os voos comerciais foram cancelados na semana passada, de acordo com o governo local.

    Autoridades australianas ressaltaram que os passageiros estavam sendo priorizados com base na necessidade.

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