Em visita de Macron ao Brasil, meio ambiente estará no centro da pauta
Presidente francês deve visitar região ribeirinha em Belém
A visita de três dias do presidente da França, Emmanuel Macron, ao Brasil, na próxima semana, terá um forte componente ambiental, com promessas de investimento do governo francês em projetos na Amazônia, em um momento em que a União Europeia tenta impor travas nas exportações brasileiras para o bloco devido ao desmatamento na região.
Parte das conversas entre Macron e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será justamente para apresentar a Amazônia e suas complexidades ao presidente francês, disse nesta sexta-feira (22) a embaixadora Maria Luísa Escorel, secretária de Europa e América do Norte do Itamaraty.
“A ideia é que o presidente Lula possa mostrar a Macron a complexidade da realidade amazônica, que não é apenas uma grande floresta, mas também um local onde há uma grande população, são 25 milhões de pessoas. Como podemos trabalhar com essas populações para que tenham uma vida digna e ao mesmo tempo respeitar a floresta”, disse.
Nessa linha, a viagem do presidente francês ao Brasil começará com a visita a uma comunidade ribeirinha na ilha do Combu, na baía de Guarajá, em Belém, para conhecer o projeto de produção sustentável de cacau e chocolate orgânico criado pela líder comunitária Dona Nena, e que hoje sustenta a maior parte das famílias da região.
Os dois presidentes ainda farão, na ilha, um passeio pela floresta e terão encontro com líderes indígenas.
De acordo com a embaixadora, o governo francês tem a intenção de ajudar a financiar algum projeto de desenvolvimento ou combate ao desmatamento na Amazônia, mas não está definido qual seria ou o valor.
A intenção dos franceses não é colocar recursos no Fundo Amazônia, mas que o Brasil apresente alguma proposta em andamento ou que esteja pronta, mas precise de financiamento, para que possam financiar diretamente.
Concretamente, um dos atos a serem assinados durante a viagem é um protocolo de intenções de 100 milhões de reais entre a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar ações de desenvolvimento sustentável no Brasil.
A questão ambiental tem sido parte central da retomada das relações entre Brasil e França depois do governo Bolsonaro, quando a conturbada relação entre o então presidente brasileiro e Macron dificultou as relações entre os dois países. Mas, apesar do bom entendimento entre os dois atuais presidentes, o caminho não tem vindo sem percalços.
O governo brasileiro ainda se ressente da legislação aprovada pelo Parlamento Europeu que impõe diversas barreiras às importações de regiões de florestas, usando com base dados de desmatamento, e que atingem principalmente o Brasil.
Além disso, em meio à tentativa de fechar o acordo de livre comércio Mercosul-União Europeia, o presidente francês vem dando declarações fortes contra o acordo, o que azedou o tom entre a diplomacia francesa e brasileira nos últimos meses.
Ainda assim, a relação entre os dois presidentes é considerada excelente, desde que Macron recebeu Lula em Paris, em 2021, com honras de chefe de Estado.
Durante a visita da próxima semana, entre os diversos assuntos previstos para serem conversados entre ambos, o acordo Mercosul-UE não estaria na pauta, por se tratar de tema multilateral. Escorel admitiu, no entanto, que é possível que seja sim levantado por um dos lados. Não se tratará de negociação, ressalvou.
“Essa é uma negociação com a Comissão Europeia, não com países europeus. Os países deram um mandato para a Comissão e ela fala por todos eles. A grande maioria tem interesse em prosseguir”, disse.