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    Argentina: Massa diz que incluirá Hamas em lista de terroristas e Milei critica “marxismo cultural” em último debate

    Ataque a Israel ganhou protagonismo na abertura dos discursos de quatro dos cinco candidatos no domingo (8); temas como segurança, desenvolvimento humano, moradia e meio ambiente foram abordados

    Sergio Massa e Javier Milei durante debate
    Sergio Massa e Javier Milei durante debate Tomas Cuesta/Pool via Reuters (01.out.23)

    Luciana Taddeocolaboração para a CNN

    No segundo e último debate oficial de candidatos à Presidência da Argentina antes das eleições, no domingo (8), o atual ministro da Economia e candidato, Sergio Massa, disse que incluirá o movimento palestino Hamas na lista de organizações terroristas e prometeu criar um “FBI argentino” para combater a criminalidade.

    O candidato de ultradireita Javier Milei, do partido A Liberdade Avança, disse que, se chegar à Presidência, não vai aderir à agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que estabelece metas globais para o desenvolvimento sustentável, qualificando as diretrizes como “marxismo cultural” e “decadência”.

    O ataque do Hamas a Israel ganhou protagonismo logo na abertura dos discursos de quatro dos cinco candidatos. Milei manifestou “solidariedade com Israel e seu pleno direito de proteger seu território dos terroristas”.

    Veja também: Polícia israelense publica vídeo do momento da libertação de reféns do Hamas

    Patricia Bullrich, da coalizão de centro-direita Juntos pela Mudança, que foi com uma fitinha preta simbolizando luto no terninho, sob um broche com a bandeira argentina, manifestou solidariedade “neste momento triste do ataque, do terrorismo do Hamas”.

    O candidato peronista não alinhado ao kirchnerismo Juan Schiaretti se restringiu a reiterar sua “solidariedade com o povo de Israel pelo ataque sofrido”. Já Massa, também com uma fitinha no peito, expressou “solidariedade com todas as vítimas de um ataque terrorista brutal, que hoje deixa o mundo de luto”.

    A candidata da sigla Frente da Esquerda e dos Trabalhadores, Myriam Bregman, fez a menção somente ao fim do discurso inicial, afirmando sentir dor “pelas vítimas civis”, mas ressaltando que “ocorrem em um conflito que tem como base a política do Estado de Israel de ocupação e apartheid contra o povo palestino”.

    O assunto voltou à tona quando Milei perguntou a Massa como ele avançaria na política internacional se dentro da coalizão governista “tem gente que apoia os terroristas e é amigo dos países delinquentes”.

    O ministro respondeu que há anos defende a possibilidade de julgamento na Argentina com a ausência do réu, o que permitiria que terroristas suspeitos pelos atentados terroristas contra a Embaixada de Israel e contra a Associação Mutual Israelita da Argentina, cujas explosões nos anos 1990 deixaram mais de 100 mortos em Buenos Aires, possam ser condenados.

    E afirmou que, se for presidente, incluirá o Hamas entre as organizações listadas como terroristas pelo país, que tem a maior comunidade judaica da América Latina.

    No debate deste domingo, dedicado aos temas “segurança”, “trabalho e produção”, “desenvolvimento humano, moradia e proteção do meio ambiente”, houve mais trocas de acusações do que no anterior, há uma semana.

    Aumento da criminalidade

    Bullrich, que foi ministra de Segurança do ex-presidente Mauricio Macri, acusou o kirchnerismo de “defender delinquentes” e questionou a proposta de Milei de desregular o mercado legal de armas.

    “Se liberarem [o comércio de armas], vão terminar massacrando crianças nas escolas”, disse ela, que também questionou a defesa que ele fez de “gerar mecanismos de mercado” para o transplante de órgãos.

    Segundo ela, “a venda de órgãos” – que Milei nega propor – geraria “sequestros de crianças e tráfico de pessoas”.

    Bullrich manteve o discurso mão dura e disse que entrará em territórios dominados pelo tráfico de drogas “com as forças provinciais, nacionais e se for necessário, com as Forças Armadas”.

    Disse também que, se eleita, reduzirá a maioridade penal de 16 para 14 anos, ao que foi questionada por Bregman: “Gostaria que nos conte até que idade [quer baixar], até os 12, até os 10, até o jardim da infância?”.

    Já Massa afirmou que lutará contra a insegurança com prevenção, fazendo com que juízes “tenham que prestar contas para a sociedade” e com a criação de um FBI argentino – uma agência federal integrada pelos melhores integrantes das forças de segurança do país para atuar contra a corrupção, o narcotráfico e o tráfico de pessoas.

    Milei, por sua vez, disse que “por culpa da casta política”, o Estado falha e o país vive um “banho de sangue”. Ele pediu que os castigos sejam efetivos, e que “saia caro ser delinquente”, mediante uma reforma do sistema prisional, do código penal e do sistema judiciário do país.

    “Na Argentina liberal, quem terá medo serão os delinquentes”, garantiu.

    Casos de corrupção

    Esse foi um dos diversos momentos em que Bullrich mencionou o ex-chefe de gabinete da província de Buenos Aires, o kirchnerista Martín Insaurralde, que protagonizou um escândalo pela divulgação de fotos suas passando férias em um iate de luxo em Marbella, no Mediterrâneo, ao sul da Espanha.

    As fotos vieram à luz na semana passada, dias após a publicação do índice de pobreza do primeiro semestre, que revelou que 1,2 milhão de argentinos passaram a ser pobres no último ano, e geraram indignação. O peronista acabou renunciando ao cargo.

    “Não dá para fazer uma boa segurança se os seus sócios são delinquentes”, disse a candidata do Juntos pela Mudança para Massa, que mencionou diversas denúncias de corrupção contra o kirchnerismo.

    Críticas a Massa

    Quando o assunto foi trabalho e produção, o alvo foi Massa, que há um ano assumiu o Ministério da Economia.

    Ele defendeu suas medidas recentes para amenizar o impacto da disparada dos preços após as eleições primárias, como a devolução do imposto sobre os produtos da cesta básica e o fim do imposto de renda para trabalhadores que ganham até R$ 25 mil mensais.

    ​​“Quero perguntar para o ministro: é possível viver com 124 mil pesos [cerca de 800 reais no mercado paralelo de câmbio] por mês como vivem os aposentados?”, questionou Bregman.

    O peronista Schiaretti acusou Massa de ter levado, desde que assumiu, a inflação acumulada de 12 meses de 65% para 124% e o dólar de 250 pesos para 800 pesos no mercado paralelo.

    Já Milei disse que Massa somente faz propostas para os trabalhadores, mas “se esquece do capital”, e que, por isso, 30% dos trabalhadores formais da Argentina estão abaixo da linha de pobreza.

    Bullrich, por sua vez, mencionou a disparada do dólar, o aumento da pobreza e o bloqueio do governo às importações. “A Argentina está na destruição total e profunda do seu aparato produtivo, e em vez de arrumar a emergência, você cava o poço mais fundo”, disse para o ministro.

    Massa se defendeu, afirmando que os outros candidatos parecem “paraquedistas suecos”, por esquecerem que o último governo contraiu a maior dívida da história do Fundo Monetário Internacional, com o empréstimo para Macri em 2018, de 45 bilhões de dólares, a que o candidato governista atribui os graves problemas econômicos do país.

    Em seu discurso sobre trabalho e produção, Milei criticou a emissão monetária e defendeu a “modernização do sistema trabalhista” com “redução das punições para que haja crescimento com acumulação de capital e crescimento do salário real”.

    Logo, foi acusado por Bregman de querer eliminar licenças e décimo-terceiros. “A única liberdade que o Javier Milei defende é a de te explorarem sem limites”, criticou ela.

    Como resposta, Milei disse a Bregman que socialistas não entendem de economia e ironizou a proposta da candidata de reduzir a jornada de trabalho para seis horas diárias para que haja mais contratações:

    “Isso é maravilhoso. Por que então não deixamos só em uma hora por dia? Vai ter emprego para todos. É como dizer que dá para modificar a lei da gravidade com um decreto”, respondeu, em tom jocoso.

    Neste momento, Massa disse que Milei desrespeita as mulheres, o que “mostra seu traço autoritário”.

    “Quero deixar bem claro o que o Milei está propondo: um mercado de trabalho onde as mulheres não têm possibilidade de se desenvolver, onde os mais jovens têm que ir a um mercado precário de salários, onde trabalhadores perdem direito a férias remuneradas e indenização e, principalmente, onde voltamos a um regime de escravidão”, acusou.

    Acusações e insultos

    A troca de acusações continuou intensa quando os candidatos podiam fazer perguntas sem temas definidos. Bullrich acusou Milei de fazer acordos com o partido de Massa para fechar suas listas de candidaturas municipais e provinciais.

    Já Milei disse que ela pretende “lavar seu passado de montonera assassina”. Os Montoneros eram uma organização armada dos anos 1960 e 1970, vinculada à juventude peronista, da qual Bullrich era integrante. Ela nega ter apelado para a violência na época.

    Quando Massa questionou Milei por ter votado contra uma lei para diagnosticar e prevenir doenças cardíacas no primeiro ano de vida dos bebês, o ultradireitista respondeu que a saúde pública deveria funcionar para isso sem uma legislação e acusou a atual administração de ser responsável por “um desastre” pandemia.

    “Temos 130 mil mortos por culpa deste governo ‘genocida’”, acusou.

    Negacionismo climático

    Perguntado por Schiaretti sobre se vai aderir à Agenda 2030 da ONU, o economista ultraliberal respondeu: “Não, porque não aderimos ao marxismo cultural, não aderimos à decadência”. E alegou que seu programa de governo tem uma “agenda energética com restrições aplicáveis na Europa”.

    Mas quando Bregman mencionou o negacionismo do candidato sobre a mudança climática, Milei disse os ciclos de aquecimento global sempre ocorreram e que “todas as políticas que culpam o ser humano” pelo fenômeno “são falsas e a única coisa que querem é arrecadar fundos para financiar socialistas preguiçosos que escrevem papers de quarta categoria”.

    Na maioria das pesquisas, Milei lidera as intenções de voto com cerca de 35%, diante de Massa, que aparece em segundo lugar, e de Patricia Bullrich, que aparenta ter menores possibilidades de disputar um eventual segundo turno.

    Para ganhar no primeiro turno, o candidato precisa obter 45% dos votos ou 40% com uma diferença de 10 pontos percentuais em relação ao segundo colocado.

    As eleições presidenciais da Argentina acontecem em 22 de outubro. Se necessário, o segundo turno será em 19 de novembro.