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    Em meio à guerra, Ucrânia enfrenta falta de produtos médicos e temor de doenças

    Temores de uma crise de saúde pública mais ampla crescem à medida que as pessoas fogem de suas casas, serviços de saúde são interrompidos e suprimentos não chegam ao país

    Reuters

    A Ucrânia conta com poucos suprimentos médicos essenciais e teve que interromper os esforços urgentes para conter um surto de poliomielite desde que a Rússia invadiu o país na semana passada. O alerta foi feito por especialistas em saúde pública nesta terça-feira (1º).

    As necessidades médicas já são agudas e a Organização Mundial da Saúde alertou no domingo (27) que os suprimentos de oxigênio estavam acabando. Na terça-feira, a OMS disse em um comunicado que algumas instalações já enfrentam escassez de oxigênio.

    Temores de uma crise de saúde pública mais ampla estão crescendo à medida que as pessoas fogem de suas casas, os serviços de saúde são interrompidos e os suprimentos não chegam à Ucrânia, que também foi atingida pela pandemia de Covid-19.

    Sergii Dubrov, um anestesista que trabalha em vários hospitais na capital ucraniana, Kiev, disse que tinha suprimentos suficientes para as próximas duas semanas, mas a situação era preocupante.

    “A maioria dos meus colegas dorme no hospital e trabalha quase 24 horas por dia desde 24 de fevereiro”, disse ele à Reuters em entrevista por telefone, referindo-se ao primeiro dia da invasão.

    O porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic, disse na segunda-feira (28) que a imunização de rotina e os esforços de controle de surtos de poliomielite foram suspensos na Ucrânia por causa dos combates. A OMS recebeu relatos de que as campanhas de vacinação contra o coronavírus também foram suspensas em muitas partes do país, disse ele.

    Em outubro passado, a Ucrânia teve o primeiro caso de poliomielite na Europa em cinco anos – uma criança de 17 meses que ficou paralisada – e outro caso envolvendo paralisia foi identificado em janeiro.

    Mais dezenove crianças foram identificadas com a versão derivada da vacina da poliomielite, mas sem sintomas de paralisia.

    Uma campanha nacional de imunização contra a poliomielite para vacinar as 100.000 crianças ainda desprotegidas na Ucrânia começou em 1º de fevereiro, mas foi interrompida desde que os combates começaram e as autoridades de saúde passaram a prestar atendimento de emergência.

    A OMS afirmou que a falta de eletricidade em algumas áreas afetou a segurança do estoque de vacinas e a vigilância foi prejudicada.

    “A OMS está trabalhando para desenvolver urgentemente planos de contingência para apoiar a Ucrânia e impedir a propagação da pólio causada pelo conflito”, disse Jasarevic.

    A Rússia chama suas ações na Ucrânia de “operação especial” para destruir as capacidades militares de seu vizinho e capturar o que considera nacionalistas perigosos. Moscou nega atacar civis.

    Preocupação com as pessoas vivendo com HIV

    A agência da ONU para HIV/Aids afirmou que há menos de um mês de medicamentos para pessoas com HIV que ficaram na Ucrânia.

    “As pessoas que vivem com HIV na Ucrânia têm apenas algumas semanas de terapia antirretroviral e, sem acesso contínuo, as suas vidas estão em risco”, disse a diretora-executiva da UNAIDS, Winnie Byanyima.

    Antes do início da invasão da Rússia, a Ucrânia tinha 250 mil pessoas vivendo com HIV, o segundo maior número na Europa depois da Rússia.

    O país também apresentava altas taxas de tuberculose, incluindo uma das mais altas taxas de tuberculose multirresistente do mundo. Há uma estimativa de 30 mil novos casos anualmente na Ucrânia.

    O governo da Ucrânia e a Stop TB Partnership, uma iniciativa internacional, disseram na segunda-feira que todas as clínicas de tuberculose no país estão abertas, mas os pacientes receberam um suprimento de medicamentos de um mês para levar com eles caso a situação piorasse ou fosse perigoso viajar para ir à clínica.

    Tratamentos suficientes estão disponíveis para pessoas em tratamento e potenciais novos pacientes até o final de 2022, disse a Stop TB, embora a organização esteja trabalhando com a OMS em possíveis pedidos de emergência para países vizinhos.

    Interrupções no tratamento ou diagnóstico podem aumentar a transmissão, bem como colocar em risco a vida dos pacientes, dizem os especialistas.

    “Está claro que esperamos muito mais casos de tuberculose”, disse Viorel Soltan, representante da Stop TB Partnership, prevendo um impacto no sistema de saúde mais amplo na Ucrânia.

    A Covid-19 também é uma preocupação, uma vez que apenas pouco mais de uma em cada três pessoas estão com esquema vacinal completo no país. Os novos casos diários atingiram um pico de cerca de 40 mil em fevereiro, mas estavam diminuindo antes que os relatórios fossem interrompidos após a invasão da Rússia.

    A organização de ajuda humanitária Project HOPE disse na segunda-feira que farmácias em todas as cidades ucranianas sob ataque estavam relatando falta de suprimentos médicos.

    (Reportagem de Jennifer Rigby; edição de Timothy Heritage e Mark Heinrich)

    Refugiados deixam a Ucrânia

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