Eleições nos EUA: Qual é a diferença do voto pelo correio e o voto a distância?
Pandemia do novo coronavírus criou dificuldade adicional para o voto presencial e colocou as diferentes formas de votação no centro do debate político
O presidente Donald Trump tentou estabelecer várias vezes uma distinção entre “votação pelo correio” (que ele pensa ser ruim e passível de fraude) e “votação fora do distrito eleitoral” nas eleições americanas, ou seja, à distância (que ele diz ser boa e pode ajudá-lo a ser reeleito).
É uma diferença confusa porque, de fato, ela não existe.
Ele ajustou sua retórica nas últimas semanas. Não é apenas uma votação “pelo correio” a que ele agora se opõe, mas, como disse, uma “votação universal pelo correio”. Durante uma coletiva de imprensa em agosto, Trump explicou por que é totalmente favorável à votação à distância, mas se opõe à votação pelo correio:
“O voto a distância é ótimo. Você é quem pede: sou um eleitor ausente porque pedi, recebi e enviei meu voto. Isso funciona muito bem. Isso é o que tivemos. Mas agora eles querem enviar milhões e milhões de votos”.
No entanto, em contraste, ele disse que a votação universal por correspondência seria muito, muito ruim:
“A votação universal por correio será catastrófica. Isso vai tornar nosso país motivo de chacota em todo o mundo. Você não pode enviar milhões de cédulas”.
Mas aqui está a diferença: muitas votações à distância (a maioria delas!) são feitas por correio. Um voto à distância é aquele depositado fora da cabine de votação, tradicionalmente por razões muito específicas e limitadas. Há versões desse tipo de votação pelo correio desde a Guerra Civil, quando as tropas votaram no campo de batalha e ajudaram Abraham Lincoln a se reeleger.
Funcionou tão bem que vários estados mudaram para o sistema de votação pelo correio, com cédulas enviadas automaticamente para todos os eleitores registrados. O estado do Oregon é o exemplo clássico de “votação universal pelo correio”, uma vez que todas as cédulas são enviadas assim.
A distinção, como parece existir na mente de Trump, parece ser entre os estados que conduzem suas eleições principalmente pelo correio e aqueles que exigem que os eleitores solicitem uma cédula para ser entregue por correspondência.
Trump diz que enviar cédulas de correio automaticamente para todos os eleitores registrados é RUIM. Mas ter que solicitar sua cédula de correio é BOM. O primeiro sistema é frequentemente chamado de eleição de “voto universal por correio” (universal vote-by-mail) ou “todo pelo correio” (all-mail). O segundo sistema é chamado de “votação à distância” (absentee voting) e pode ser “sem justificativa” ou sem fornecer uma razão necessária.
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A eleição deste ano, em parte por causa de uma tendência geral de evitar o voto em pessoa e em parte por causa da pandemia de Covid-19 em andamento, terá mais cédulas pelo correio do que nunca. De acordo com uma pesquisa recente da CNN – na qual 34% dos respondentes dizem que preferem votar pelo correio nas eleições presidenciais –, 22% dizem que querem votar antecipadamente em um local de votação e apenas 43% dizem preferir votar pessoalmente no dia da eleição.
Isso representa um aumento de 10 pontos em relação a quem votou pelo correio em 2016, ou seja, 24% dos eleitores, de acordo com a Comissão de Assistência Eleitoral dos EUA.
Em 42 estados, do 50 que fazem parte dos Estados Unidos, quem quiser votar pelo correio neste ano poderá fazê-lo.
Aqui estão os detalhes, de acordo com a editoria de política da CNN:
· Oito estados, além de Washington, DC, conduzirão uma eleição principalmente por voto postal em novembro (CA*, CO, DC*, HI, NV*, OR, UT, VT*, WA)
· 34 estados permitem que os eleitores solicitem cédulas pelo correio sem justificativa (AL*, AK, AR *, AZ, CT *, DE *, FL, GA, ID, IL *, IA *, KS, ME, MA *, MD, MI *, MN, MO *, MT, NE, NH *, NJ, NM, NC, ND, OH *, OK, PA, RI, SD, VA, WV *, WI, WY)
· Oito estados exigem uma desculpa para votar pelo correio (IN, KY, LA, MS, NY, SC, TN*, TX)
Os asteriscos indicam que uma alteração foi feita devido ao coronavírus.
É sempre bom lembrar que cada estado administra suas próprias regras eleitorais. Portanto, ninguém está realmente falando sobre a votação universal por correspondência em todo o país, embora dê para imaginar que os democratas apoiam essa ideia. Vários estados mudaram as regras eleitorais durante a pandemia e tornaram mais fácil votar pelo correio.
Há algo mais a considerar. Como haverá muito mais pessoas enviando cédulas neste ano, e como isso poderá desacelerar o envio, há uma boa chance de não sabermos o vencedor da eleição presidencial na noite da eleição. E esta é a última reclamação de Trump.
Em 2016, votos pelo correio e votos à distância fizeram com que a margem de votos populares de Hillary Clinton crescesse em relação a Trump por semanas após o dia da eleição.
Diferentes estados têm regras diferentes sobre até quando as cédulas podem ser recebidas e ainda contadas. Sob o sistema atual, os observadores eleitorais identificaram uma “mudança azul”, em que a contagem pós-eleitoral da correspondência em votos em dias ou semanas tende a favorecer os democratas (azul é a cor relacionada ao Partido Democrata).
Trump reconheceu a falta de distinção entre voto pelo correio e voto à distância no início deste mês, quando encorajou os cidadãos da Flórida (onde ele acredita ter boas chances de ganhar) a votar à distância pelo correio.
Ele tuitou:
Whether you call it Vote by Mail or Absentee Voting, in Florida the election system is Safe and Secure, Tried and True. Florida’s Voting system has been cleaned up (we defeated Democrats attempts at change), so in Florida I encourage all to request a Ballot & Vote by Mail! #MAGA
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) August 4, 2020
Então aí está. Chame do que quiser. Apenas vote. E para que isso funcione bem, vote logo.
Na verdade, Trump provavelmente fará o seu próprio voto no método de votação à distância na Flórida. Sabemos disso porque ele votou dessa forma no passado e também nas primárias do Congresso da Flórida na terça-feira (6). Ele vai fazer isso. Ele só não quer que todo mundo faça isso. Em vez de enviar o voto pelo correio, ele vai enviá-lo por meio de outra pessoa que assinou uma procuração juramentada.
Espera-se que a próxima fronteira seja uma briga sobre como as cédulas de ausentes poderão ser coletadas, se não pelo correio. Às vezes, terceiros (organizações ou partidos políticos) coletam cédulas fechadas.
A prática, conhecida como coleta de votos ou “colheita”, não é legal em todos os estados. É uma prática que também está no centro das suspeitas do Partido Republicano sobre a votação por correspondência.
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No entanto, os mesmos protocolos de segurança para todas as votações pelo correio (códigos únicos, verificação de assinatura e outros) ainda se aplicam a essas cédulas à distância. Tais protocolos identificaram o principal exemplo de fraude eleitoral nos últimos anos, na Carolina do Norte em 2018, cometido por um agente republicano.
O aumento do acesso ao voto à distância em Nevada é atualmente causa de controvérsia por causa da coleta de votos.
Marshall Cohen, da CNN, contribuiu para esta reportagem.
(Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).