Eleições nos EUA: Duas palavras que explicam por que Trump está perdendo
Não importa por que ele não entende que não lidou com a pandemia de forma perfeita, mas sim que ele está do lado errado da maioria do país nessa questão


Na terça-feira (21), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, participou de uma sabatina pública com Eric Bolling do Sinclair Broadcasting Group. No programa, Bolling fez ao presidente uma pergunta simples – e a resposta que Trump deu é extremamente reveladora.
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Bolling: “Com a Covid-19, há algo que o senhor acha que poderia ter feito de forma diferente, se tivesse uma segunda chance ou pudesse reformular em algum aspecto a maneira como lidou com isso? O que seria?”
Trump: “Não muito”.
Diante de um vírus ainda violento, que já infectou 8,2 milhões e matou 221 mil norte-americanos, ele diz que “não [há] muito” que ele teria feito de forma diferente se pudesse fazer tudo de novo. Sério?
E se não transformasse o uso de máscara em uma questão política? Ou deixasse os cientistas liderarem a resposta à pandemia? Ou não minimizasse a ameaça do vírus quando soube o quão transmissível era já em fevereiro? Ou melhorasse o processo de teste nos EUA nos primeiros dias do vírus? Ou mostrasse qualquer tipo de empatia pelos norte-americanos que perderam as vidas? (“É o que é”, Trump disse em setembro, ao ser confrontado sobre o número de mortos da Covid-19.)
Não está claro se a resposta “não muito” de Trump é motivada por pura surdez ou pela obsessão em estar sempre certo e nunca admitir um erro. Sobre este último ponto, Trump foi perguntado em julho de 2019 sobre qual seria sua única “reformulação” como presidente e respondeu: “Seria de pessoal. Eu diria que, se pudesse mudar algo, eu não teria escolhido Jeff Sessions para ser procurador-geral. Esse seria meu… Esse foi o maior erro”.
Do lado errado da maioria da população
A verdade é que realmente não importa por que Trump não entende que ele não lidou com a pandemia de forma perfeita (ou sequer perto de perfeita). O que importa é que ele se encontra do lado errado da maioria do país nessa questão.
Em uma pesquisa do Wall Street Journal/NBC revelada no fim de semana, apenas quatro entre dez eleitores (41%) disseram aprovar a forma como Trump está lidando com a Covid-19, enquanto 57% desaprovam. Na última pesquisa nacional da CNN, feita no início deste mês, apenas 37% aprovavam o trabalho de Trump nesse aspecto.
Várias pesquisas mostram a mesma coisa: uma clara maioria de eleitores desaprova a forma como Trump vem lidando com a pandemia. E essa tendência está diretamente ligada aos números baixos dele nas pesquisas e em estados indecisos na comparação com o ex-vice-presidente Joe Biden.
Estratégia
Vendo esses números, um político normal teria passado os últimos meses trabalhando para mudar a percepção dos eleitores sobre como está lidando com a questão.
Eles poderiam reconhecer que a pandemia foi um desafio inédito para o país e o mundo – e que, embora o governo tenha tentado sempre tomar as decisões certas, algumas escolhas não funcionaram como eles esperavam.
Eles poderiam implorar aos melhores anjos, argumentando que a única maneira de superar esse vírus é deixar de lado o partidarismo e reconhecer a humanidade comum. Poderiam fazer uma série de coisas, todas com o objetivo de deixar claro para o povo que eles entendem as dúvidas e preocupações dos norte-americanos, e farão todo o possível para provar que são a escolha certa para livrar o país dessa doença e alcançar um futuro melhor.
Trump não é um político normal. E ele não fez nada nem mesmo perto do que foi sugerido no último parágrafo. Em vez disso, continuou a insistir que salvou milhões de vidas e que, sem ele, as coisas teriam sido muito piores. E que a própria população está “virando a página” da Covid-19, apesar de todos os dados indicarem o contrário.
“As pessoas estão cansadas da Covid-19”, disse Trump à equipe da campanha em uma ligação no início desta semana. “Fiz os maiores comícios da minha vida, e temos a Covid. As pessoas não estão nem aí. Apenas nos deixem em paz. As pessoas estão cansadas de ouvir [o médico Anthony] Fauci e todos esses idiotas.”
O que essa desconexão selvagem entre o que as pessoas acham da maneira como Trump lidou com o vírus e a avaliação do próprio Trump sobre as medidas que tomou significam para as chances dele de vitória? “Não muito” uma coisa boa.
(Texto traduzido. Leia o original em inglês.)