Trump não descarta violência caso seja derrotado nas eleições deste ano
Declarações foram feitas em uma ampla entrevista com a revista Time que foi publicada na terça-feira (30)
O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não descartou a possibilidade de violência política por parte de seu partido caso não seja eleito nas eleições de novembro.
“Não acho que teremos isso”, disse o pré-candidato do partido Republicano para a revista Time. “Acho que vamos ganhar. E se não ganharmos, você sabe, depende. Sempre depende da imparcialidade das eleições”.
As declarações foram feitas em uma ampla entrevista com a revista Time que foi publicada na terça-feira (30). A conversa também abordou as questões de aborto e a polêmica liderança do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, entre outros temas.
Veja quatro pontos sobre a entrevista:
As conspirações eleitorais de Trump
Em declarações a Time em sua residência de Mar-a-Lago, na Flórida, Trump diminuiu a importância de possíveis atos de violência política similar à do ataque de 6 de janeiro de 2021 contra o Capitólio americano.
“Acho que teremos uma grande vitória. E acredito que não haverá violência”, disse Trump, que, após sua derrota em 2020, reuniu seus apoiadores em Washington antes do ataque, e no início se recusou a pedir que abandonassem o Capitólio dos EUA.
Mas, pressionado pela revista em uma entrevista telefônica posterior, Trump foi menos categórico sobre o futuro.
“Não acredito que sejam capazes de fazer as coisas que fizeram da última vez”, disse Trump.
Ao longo da sua carreira política, Trump se recusou a aceitar os resultados de uma eleição ou a comprometer-se a reconhecer sua derrota.
Após ficar em segundo no Caucus de Iowa em 2016, Trump acusou o senador do Texas Ted Cruz de fraude e pediu uma nova disputa.
Mais tarde, quando Trump competiu contra a democrata Hillary Clinton, o republicano afirmou sem fundamento que as eleições que ele ganhou foram “manipuladas” e se recusou repetidamente a dizer se acataria o resultado.
Neste ano, o governador da Flórida, Ron Desantis, disse durante as primárias republicanas que Trump não aceitaria os resultados dos caucus de Iowa caso perdesse.
Em sua entrevista, Trump também redobrou sua promessa de perdoar as centenas de condenados por delitos cometidos no 6 de janeiro.
Trump qualificou essas pessoas como “reféns”, embora muitas tenham se declarado culpadas por crimes violentos ou tenham sido condenadas pela justiça.
Time perguntou: “Consideraria perdoar cada um deles?”.
Trump respondeu: “Consideraria, sim”.
Time: “E faria mesmo isso?”
Trump: “Sim, com certeza”.
Declarações sobre aborto
As declarações de Trump à revista Time sobre o aborto mostram limitações – e potenciais perigos políticos – de seu desejo de deixar o futuro do acesso ao procedimento nas mãos dos governos estaduais.
Ele se recusou a dizer se vetaria uma proibição federal do aborto, insistindo que era improvável que tal medida fosse pra frente. Em declarações anteriores o republicano disse que não assinaria uma proibição federal do aborto se fosse eleito.
Ao ser perguntado pela revista Time se se sentia “confortável” com a decisão do aborto ficar nas mãos do estado, Trump não fez objeções.
“Não tenho porque me sentir confortável ou desconfortável”, disse Trump. “Os estados vão tomar essa decisão. Os estados que vão ter que se sentir confortáveis ou desconfortáveis, não eu”, complementa.
Como candidato em 2016, Trump disse que “deveria haver algum tipo de castigo” para as mulheres que se submetem a um aborto ilegal, uma postura que sua campanha retirou quase imediatamente.
A campanha do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aproveitou para criticar as mais recentes declarações de Trump.
“Os últimos comentários de Donald Trump não deixam dúvidas: se for eleito, assinará uma proibição nacional do aborto, permitirá que as mulheres que abortem sejam perseguidas e castigadas, permitirá que o governo invada a privacidade das mulheres para controlar suas gestações e colocará em perigo a fecundação in vitro e os métodos contraceptivos em todo o país”, disse a diretora de campanha de Biden, Julie Chavez Rodriguez.
Trump também se apoiou nos estados quando perguntado se os governos deveriam monitorar os casos de gravidez para saber se uma mulher realiza o procedimento.
“Acho que podem fazer isso”, disse Trump. “Novamente, vocês terão que falar com cada um dos estados”.
Trump volta a criticar Netanyahu
Após o ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro, Trump atacou Netanyahu e culpou o primeiro-ministro israelense pelas falhas de segurança que não impediram a ação.
Em meio aos protestos contra a guerra em Gaza que tomaram conta dos Estados Unidos, Trump intensificou de novo suas críticas ao primeiro-ministro.
Trump declarou à Time que Netanyahu “foi justamente criticado pelo que aconteceu em 7 de outubro” e disse que o ataque do Hamas “ocorreu sob sua vigilância”.
Em vez disso, Trump ainda está ofendido porque Netanyahu supostamente “abandonou” a operação militar apoiada pelos EUA, que levou à morte do general iraniano Qasem Soleimani.
Trump também disse que uma futura solução de dois Estados entre Israel e os palestinos “será muito, muito difícil”.
“Há quatro anos havia muitas pessoas que gostavam da ideia”, disse Trump. “Hoje, há muito menos pessoas que gostam dessa ideia”.
Tímidos apelos a favor da libertação do jornalista do Wall Street Journal
Foi necessário insistir, mas Trump disse pela primeira vez que o jornalista do Wall Street Journal Evan Gershkovich “deveria ser libertado” depois de um ano de prisão na Rússia.
Ao ser perguntado por que o ex-presidente não tinha pedido antes a libertação de Gershkovich, Trump respondeu: “Acho que porque eu tenho muitas outras coisas em que estou trabalhando”.
Gershkovich é um jornalista americano que foi detido na Rússia após ser acusado de espionagem que, segundo o jornal e as autoridades americanas, não tem fundamento.
No início deste ano, Trump permaneceu em silêncio durante dias após a morte do líder da oposição russa Alexey Navalny numa prisão russa, mesmo quando outros líderes mundiais condenaram rapidamente o Kremlin.
Quando Trump finalmente se pronunciou publicamente, ele não condenou a Rússia nem o presidente Vladimir Putin, e sugeriu que estava sendo perseguido politicamente do mesmo modo que Navalny. Mais tarde, Trump qualificou Navalny como “muito valente” e disse que era uma “situação muito triste”.
Quando o jornalista Jamal Khashoggi foi assassinado em 2018, Trump se recusou a condenar o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, apesar de a CIA ter concluído que o governante autorizou o brutal assassinato.
Trump disse que estava “extremamente zangado e muito infeliz” pelo assassinato de Khashoggi, mas disse que “ninguém apontou diretamente o dedo” ao príncipe herdeiro. Além da conclusão da CIA, um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) também envolveu mais tarde bin Salman.